OS GENTIOS NA TRIBULAÇÃO - PARTE I

O PODER GENTÍLICO MUNDIAL NOS ÚLTIMOS DIAS


INTRODUÇÃO:

Talvez o leitor possa estar perguntando quando iremos falar sobre o anticristo, sinal da besta, falso profeta, duas testemunhas, os 144 mil e os demais acontecimentos da Grande Tribulação?
Todos estes temas serão tratados dentro desta Série, mas é fundamental para nós tecer um pano de fundo antes para podermos compreender estes aspectos que ainda não foram vistos.

Estamos trabalhando sobre o Plano de Deus para os gentios (nações) e como ele irá se concluir nos Últimos Dias. No artigo anterior fizemos uma exposição das profecias relacionadas aos gentios, principalmente foi por meio do poder gentílico que o Senhor disciplinou o Seu povo - Israel. E a compreensão deste período será um link para entendermos como ficará esse poder no período Tribulacional, que é o tema deste artigo.

Continuamos usando como apoio o material do Dr Pentecost para nos auxiliar a elucidar alguns textos proféticos.

I- O PODER GENTÍLICO MUNDIAL VISTO EM DANIEL 2:

Estes textos já foram trabalhados no artigo anterior quando tratamos sobre o Discurso sobre os Tempos dos Gentios. Mas, agora iremos ver estas mesmas passagens já com uma visão futurista.

Em Daniel 2 temos a descrição dos tempos dos gentios apresentada  de maneira generalizada com os quatro impérios em sucessão que dominaram a Palestina. Olhando a profecia podemos perceber que o profeta trata do poder gentílico nos Últimos Dias de forma bem especifico (Daniel 2.40-44).

Algumas considerações foram feitas por Dwight Pentecost:

''Há nesses versículos características importantes a respeito da forma final do poder gentílico. 1) A forma final do poder gentílico nasce do quarto império, o Romano, e é o seu desenvolvimento final. Essa forma é representada pelos pés e pelos dez dedos (Daniel 2.41,42).
2) A forma final dessa potência é marcada pela divisão (Daniel 2.41). Tal é o significado da ênfase sobre os dez dedos e sobre o barro e o ferro.''

Observe que Pentecost segue a mesma linha da maioria dos dispensacionalistas sobre a origem do governo mundial da Tribulação. O Império Romano como o embrião que trará o nascimento do governo do anticristo. É sabido que hoje outras posições sobre este governo mundial têm sido conhecidas na Escatologia.

Ao tratar sobre Roma como a precursora do poder mundial na Grande Tribulação, Pentecost cita Tregelles:

''Assim, vemos esse quarto império especialmente apresentado a nós numa época em que está num estado dividido e, por isso, enfraquecido. O número de dedos dos pés parece implicar uma divisão em dez: isso pode servir de indício aqui, apesar de a afirmação mais específica do fato não ser revelado senão mais tarde no livro. Esse reino é então dividido em partes, que, conforme veremos por outras passagens das Escrituras (sobretudo o cap. 7).''

Os dois capítulos de Daniel devem ser lidos simultaneamente, já falamos que as visões ali descritas tiveram aspectos diferentes, embora ambas estão em conexão com uma mesma proposta profética.

Entendemos que a forma final do poder gentílico é marcada por uma confederação constituída daquilo que é fraco com aquilo que é forte. Isso nos dá uma idéia de autocracia e democracia, ferro e barro (Daniel 2.42).

Uma pequena argumentação de Kelly pode ampliar o entendimento do leitor:

''Haverá, antes do fim da era, a mais incrível união de duas condições aparentemente contraditórias - um cabeça de império universal, e além disso reinos independentes, cada um com o seu próprio rei; mas um único homem será o imperador sobre todos os reis. Até chegar essa hora, todo esforço para unir os diferentes reinos sob um só cabeça será um fracasso total. Mesmo então não ocorrerá pela fusão de todos num só reino, mas cada reino independente terá seu próprio rei, apesar de todos estarem sujeitos ao cabeça. Deus disse que eles serão divididos. É isso que nos é demonstrado aqui. ''Mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro.'' E, se já houve alguma parte do mundo que representou esse sistema incoerente de governo, é a Europa moderna. Enquanto o ferro predominou, houve um só império; mas depois veio o barro, ou material estrangeiro. Por causa do ferro haverá monarquia universal, por causa do barro haverá reinos separados.''

Já que a mistura de ferro e barro não é natural, parece sugerir que a federação não deve a sua existência ao uso da força, doutra forma essa condição não perduraria. Ela será concretizada por mútuo consentimento de modo que cada membro da aliança retém a própria identidade. Isso concorda com Apocalipse 17.13.

Pentecost mostra que essa condição dividida do poder gentílico nos Últimos Dias não é agora (histórica), mas ainda (profética). '' Esses reis'' (Daniel 2.44) não vem á existência até que a ''pedra [...] cortada sem auxílio de mãos'' (Daniel 2.45).

Recorreremos agora para Ironside:

''Os comentaristas geralmente nos dizem que a condição dos dez dedos do império foi alcançada nos séculos V e VI, quando os bárbaros do Norte conquistaram o Império Romano, e este foi dividido em mais ou menos dez reinos diferentes. Diversas listas foram feitas, dez reinos cada; mas poucos escritores concordam quanto ás verdadeiras divisões. Uma coisa todos parecem ter esquecido: os dez reinos devem existir ao mesmo tempo, não no decorrer de vários séculos, e todos devem formar uma confederação. Não há nada na história passada sobre os reinos da Europa que se encaixe nisso. Eles geralmente eram inimigos em guerra, cada um buscando a destruição dos outros. Por isso, rejeitamos totalmente  essa interpretação dos dez dedos.''

Os dez reinos, como veremos com  mais detalhes adiante, serão os que darão a sustentação ao governo do anticristo, e o próprio virá da formação destes 10 reinos de acordo com o texto de Apocalipse 17. Particularmente, o autor deste blogue comunga da mesma opinião em relação a formação do governo na Grande Tribulação, também rejeito qualquer interpretação que sugere que tal formação já tenho ocorrido.

Nada melhor do que aceitar uma interpretação mais futurista em que o Império Romano seja um desenvolvimento contínuo com base em sua forma na época da Primeira Vinda de Cristo e que será concluída até sua forma final na Segunda Vinda.

''Pode parecer afirmação severa demais, mas é fato amplamente confirmado pela história que quase nenhum estudioso de história medieval realmente entende a única chave para todo o assunto, sem a qual a história medieval é simplesmente um caos incompreensível. A chave é nada mais que a existência contínua do Império Romano. Enquanto for ensinado que o Império não chegou ao fim no ano 476, o verdadeiro entendimento dos mil anos seguintes se torna totalmente impossível. Ninguém pode compreender a politica ou a literatura de todo aquele período, se não lembrar constantemente que, na mente dos homens daqueles dias, o Império Romano, o império de Augusto, Constantino e Justiniano, não era algo do passado, mas algo do presente.''

Assim podemos ver que o Império Romano sofrerá uma espécie de reavivamento em seu sistema governamental com sua forma final dos dez dedos da estátua em Daniel 2.

II- O PODER GENTÍLICO MUNDIAL VISTO EM DANIEL 7:

O texto profético agora que será apresentado é o capítulo 7 de Daniel como a forma final do governo gentílico. Aqui o profeta descreve esse poder por meio de quatro bestas-feras, Daniel declara várias situações nesta profecia:

1. Em relação com a profecia do capítulo 2, é revelado que a forma final deste poder gentílico deve existir por meio da união de dez reis e seus reinos (Daniel 7.7).
2. O quarto animal tem uma singular característica que não era a sua força e nem tão pouco a sua ferocidade, nem ainda por ele ter destruído todos os outros animais que foram antes dele, mas o fato dele ter dez chifres.
3. Tais chifres, seriam a forma final do poder gentílico.

John Pentecost cita Kelly:

''... a singularidade do Romano é a posse dos ''dez chifres''. Porém não devemos procurar o desenvolvimento real da história nesse visão. Se esse fosse o caso, é claro que os dez chifres não seriam encontrados no animal romano, quando ele foi visto pela primeira vez pelo profeta. Na verdade, não foi senão centenas de anos depois de Roma existir como império que ela teve mais de um governante. O Espírito de Deus expõe claramente as características que seriam encontradas no fim, e não no começo.''

Seguindo a linha geral, Pentecost interpreta Daniel 7.24 que os dez reis são os cabeças dos dez reinos que surgem do quarto animal, que é o quarto grande reino mundial. E ainda, pelo fato dos dez reinos se levantarem do quarto reino parece indicar que ele não deixou de existir, para ser ressurreto depois, mas, sim, permanecer de alguma forma até emergir a condição dos dez chifres.

''Os dez chifres aparecem no animal vivo [...] O animal não morre e ressuscita novamente com os seus dez chifres. Mas esses chifres nascem do animal vivo. Eles devem, então, representar uma segunda fase da sua história, não uma forma reavivada de existência do animal''.

4. Dentre esses dez reinos se levantará um indivíduo que terá domínio total sobre os dez reis (Daniel 7.8,24; Apocalipse 13.1-10; 17.13). Quando ele conquistar sua autoridade, três dos dez reis serão derribados.
5. Essa autoridade final sobre o império é exercida por alguém que é marcado pela blasfêmia, pelo ódio ao povo de Deus, pelo desprezo á lei e a ordem estabelecida, o qual continuará por três anos e meio (Daniel 7.26).
6. Essa forma final de poder mundial terá influência no mundo inteiro (Daniel 7.23).


III- O PODER GENTÍLICO MUNDIAL VISTO EM APOCALIPSE 13:

Daniel 2 e 7 fazem um link com Apocalipse 13 e 16. Na passagem do capítulo 13.1-3, João continua na mesma linha de revelação da forma final do poder gentílico que fora vista por Daniel. Aqui podemos observar que:

1. Como foi revelado anteriormente, a forma final do poder sucede a todas as formas anteriores, pois o animal que se levanta é um animal composto partilhando as características do leopardo, do urso e do leão (Apocalipse 13.2).
2. Essa forma de poder mundial é marcada pelos dez chifres (Apocalipse 13.1), que são explicados em Apocalipse 17.12 como ''reis'' sobre os quais a besta reina.
3. É restaurado um antigo método de governo que deixou de existir em relação ao reino como um todo. João observa que essa besta tinha sete cabeças (Apocalipse 13.3), e a cabeça atual tinha sido ferida mortalmente (Daniel 13.3), mas a ferida seria curada. Essas cabeças de acordo com Apocalipse 17.10, são reis ou forma de governo sob o qual Roma existiu. São geralmente vistos como: reis, cônsules, ditadores, decênviros, tribunos militares e imperadores.

Scofield comenta sobre a ferida moral que foi curada:

''Fragmentos do antigo Império Romano jamais deixaram de existir como reinos separados. Foi a forma imperial de governo que cessou; ela é a cabeça ferida fatalmente. O que temos profetizado em Apocalipse 13.3 é a federação de dez reinos; a ''cabeça'' é ''curada'', i.e..., restaurada; existe um imperador novamente - a Besta.''

Pentecost aponta que isso nos leva a crer que o fator que maravilhou o mundo foi o surgimento do poder monarca absoluto sobre a federação dos dez reinos.

4. Todo esse  processo é atribuído ao poder satânico (Apocalipse 13.4). Como o Império Romano foi o agente por meio do qual satanás atacou Cristo em Seu primeiro advento, esse império será, na sua forma final, o agente por meio do qual satanás trabalhará contra o Messias na segunda vinda.

IV- O PODER GENTÍLICO MUNDIAL VISTO EM APOCALIPSE 17:

Agora vamos para o capítulo 17 de Apocalipse, nesta passagem vemos que também lida com essa forma escatológica do poder gentílico mundial. Aqui, Pentecost apresenta também várias considerações importantes dos versículos 8 ao 14:

1. João parece estar apresentando o lugar da autoridade no final dos tempos (Apocalipse 17.9), já que Roma é o ''sétimo monte''.
2. A forma final do poder gentílico mundial reside num indivíduo chamado ''oitavo'' rei que chega ao poder sobre esse reino governado pelos sete anteriores (Apocalipse 17.10-11). Esse oitavo rei é interpretado de várias maneira.

Citamos a teoria de Scott:

''As sete cabeças na besta representam sete formas sucessivas de governo desde o surgimento do quarto império universal até o fim.
''Caíram cinco.'' Esses são reis, cônsules, ditadores, decênviros e tribunos militares.
''Um existe.'' Essa é a sexta forma ou forma imperial do governo estabelecido por Júlio Cesar, sob o qual João foi banido para Patmos no reinado de Domiciano. As formas anteriores de autoridade haviam cessado [...]
''O outro ainda não chegou.'' Assim, entre a dissolução do Império e seu futuro reaparecimento diabólico, passaram-se vários séculos [...] Essa é a sétima cabeça. É o surgimento do império caído sob novas condições apresentadas em Apocalipse 13.1 [...]
''E a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete.'' A gigantesca confederação de Roma é vista aqui nas suas características essenciais como imutável. Ele é o ''oitavo''.''

As diferentes formas de governo foram vistas no comentário acima. Existem outras teorias que apontam o significado das 7 cabeças como a dos sete imperadores históricos romanos, cinco dos quais já teriam morrido, um sob o qual João viveu, e um que virá de cuja linhagem o oitavo, a besta, procederá. Também alguns sustentam a teoria que essas cabeças estão relacionadas com os oitos impérios que lidaram com Israel, todos os quais culminarão na besta.
Nisto apresentamos o comentário de Aldrich, citado no Manual de Escatologia de John D. Pentecost:

''... quer dizer sete grandes reinos. Acredita-se que João se volta aqui para o período anterior á profecia de Daniel e inclui todos os grandes impérios que se levantaram contra o povo de Deus. Os cinco reinos que caíram seriam o Egito, a Assíria, a Babilônia, a Pérsia e a Grécia. O sexto reino em Apocalipse é o Império Romano, e isso significa que o sétimo (com a oitava cabeça a ele associada) é apenas outra forma ou estágio daquele império.''

Sigo a mesma interpretação de Pentecost no que tange a teoria e qual seja ela adotada, mas ficará evidente que o governador final será o herdeiro de toda autoridade gentílica anterior. Nele, o poder gentílico mundial chegará no seu apogeu.

3. Haverá uma federação de dez reis separados, que colocarão seus reinos sob a autoridade do cabeça do império (Apocalipse 17.12).
4. O império não é constituído pela força, mas por consentimento mútuo (Apocalipse 17.13).
5. A história desse quarto império mundial é apresentada em Apocalipse 17.8: ''A besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição''. ''Era'' descreve o império no período de sua impotência. ''Está para emergir do abismo'' indica a forma vindoura do império. ''Caminha para a destruição'' retratava a destruição futura.
6. O principal objeto do ódio da forma final do poder gentílico mundial é Jesus Cristo. ''Pelejarão eles contra o Cordeiro'' (Apocalipse 17.14). A impiedade dos poderes mundiais, que buscam o domínio mundial, manifesta-se no ódio contra Aquele a quem todo domínio foi dado (Filipenses 2.9,10; Apocalipse 19.16).

CONCLUSÃO:

O entendimento da forma do poder gentílico mundial nos últimos dias é uma chave importante para compreensão da origem e da forma de governo do Anticristo. Essa personagem não é um indivíduo isolado, embora ele surge pelo poder maligno, porém o mesmo irá se levantar com o apoio de outros governantes.

No próximo artigo estudaremos o limite da forma final do poder gentílico.

FONTE: Manual de Escatologia.
AUTOR: John D. Pentecost.
EDITORA: Vida.













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