A NOVA ALIANÇA - III
AS TEORIAS PRÉ-MILENARISTAS QUANTO Á RELAÇÃO DA IGREJA COM A NOVA ALIANÇA FEITA COM ISRAEL
INTRODUÇÃO:
Um dos pontos importantes é o fato da Igreja ser participante da Nova Aliança, até mesmo se compreende que a própria Aliança foi feita com a Igreja. Passagens como Jeremias 31.31-34 indicam que a intensão da Nova Aliança é com o povo de Israel, e a mesma segue uma cronologia de alianças anteriores, como estudamos.
Vimos anteriormente o pensamento amelenista sobre a Nova Aliança, indico ao leitor a leitura dos antigos anteriores desta abordagem. Hoje, vamos concentrar no pensamento pré-milenarista quanto esta questão. Pelo menos temos três pensamentos que são apresentados na Escatologia, e veremos cada um deles,
I- A TEORIA DE DARBY:
Considerado o ''pai'' do Dispensacionalismo, Darby tinha a teoria de que há uma e somente uma nova aliança nas Escrituras, feita com as casas de Israel e de Judá, a ser realizada num tempo futuro, com a qual a igreja não tem nenhuma relação. Ele escreve:
''Essa aliança da letra é feita com Israel, não conosco; mas nos beneficiamos dela [...] porque Israel não aceitou a bênção, Deus trouxe a igreja, e o mediador da aliança subiu aos céus. Estamos associados ao Mediador. Ela será cumprida com Israel no futuro.''
E acrescenta:
''O evangelho não é uma aliança, mas a revelação da salvação de Deus. Ele proclama a grande salvação. Na verdade gozamos de todos os privilégios essenciais da nova aliança, cuja base, da parte de Deus, é firmada no sangue de Cristo, mas o fazemos em espírito, e não segundo a letra.
A nova aliança será estabelecida formalmente com Israel no milênio.''
O pensamento de Darby continua:
''... a base da nova [aliança] foi firmada no sangue do mediador. Não é para nós que os termos da aliança, extraídos de Jeremias pelo apóstolo, foram cumpridos; tampouco somos Israel e Judá; afirma-se, isto sim, que à medida que a aliança está instituída, não sobre a obediência de um povo vivo, ao qual a bênção viria, e sobre o sangue de uma vítima derramado por um mediador vivo, mas sobre a obediência até a morte do próprio Mediador, nele (como sua base de graça segura e inalterável) a aliança está alicerçada.''
E ele chega a seguinte conclusão:
''Nós, então, estamos associados aos benefícios circunstanciais da [nova] aliança, não às bênçãos formais que, de certa forma, substituíram as condições da antiga [aliança], embora algumas delas possam, de certa maneira, ser cumpridas em nós.''
Parece-nos então que a opinião de Darby é que, em todas as suas citações do Novo Testamento, a nova aliança deve ser igualada à aliança de Jeremias 31. No Novo Testamento, não há referência à igreja nessa época, apesar de a bênção da aliança alcançar outros além de Israel agora, já que o sangue foi "derramado por muitos". No entanto, ela será cumprida literalmente no milênio.
Há certas proposições na teoria apresentada por Darby com as quais há acordo completo:
1) A nova aliança de Jeremias 31 tornava necessária a obra do Mediador, e a morte de Cristo é o que possibilita a nova aliança.
2) A nova aliança foi feita originariamente com as casas de Israel e de Judá e será cumprida com elas literalmente no milênio. A aliança só pode ser cumprida literalmente por aqueles com quem ela foi firmada; já que a igreja não é Israel, não pode cumprir essa aliança.
3) Todas as bênçãos que a igreja recebe hoje estão firmadas no sangue de Cristo, que foi necessariamente derramado para possibilitar a nova aliança.
II- A TEORIA DE SOCOFIELD:
Conhecido pela sua Bíblia de referência, Scofield, defensor do Dispensacionalismo, também nos apresentou a sua teoria com respeito a relação da Igreja com a Nova Aliança. Podemos ver o seu pensamento, mas antes podemos resumir
''Esta, mais geralmente aceita que a de Darby, diz: "A nova aliança [...] garante a perpetuidade, futura conversão e bênção de Israel... " e "... garante a bênção eterna [...] de todos os que crêem".
Logo, de acordo com essa teoria, há uma nova aliança com dupla aplicação: uma para Israel no futuro e uma para a igreja agora.
A teoria de Scofield é pautada por Lincon:
''O sangue da nova aliança derramado na cruz do Calvário é a base de todas as bênçãos do crente hoje. O crente, então, participa do valor da nova aliança para o pecador e, assim, participa da ceia do Senhor em memória do sangue da nova aliança (1 Co 11.25), sendo ministro da nova aliança (2 Co 3.6).
Também se diz que o crente é filho de Abraão porque é da fé (Gl 3.7) e de Cristo (Gl 3.29). Diz-se ainda que participa da raiz e da gordura da oliveira, que é Abraão e Israel (Rm 11.17). Além disso, embora, como gentio descrente, seja "separado" e "estranho" (Ef 2.12), não é mais assim (Ef 2.19), porque foi aproximado pelo sangue de Cristo (Ef 2.13). Beneficia-se da nova aliança como concidadão dos santos e da casa de Deus (Ef 2.19), e não como membro da comunidade de Israel (Ef 2.12).''
Grant também assegura:
''... devemos lembrar que Deus está falando aqui explicitamente de Seu povo terreno, e não de um povo celestial [...] o povo com quem essa aliança se firmará, naquele dia, um povo completamente de acordo com a Sua vontade.
Pode-se perguntar como, de acordo com isso, a nova aliança se aplica a todos nós. Outras passagens respondem a isso claramente assegurando-nos de que, mesmo que a aliança não tenha sido feita conosco, ainda pode, com todas as bênçãos de que fala, ser ministrada a nós.''
A teoria de Scofield vê um cumprimento parcial da Nova Aliança, e insere a Igreja nesta Aliança.
Podemos concordar com Scofield em que o sangue de Cristo é a base da nova aliança com Israel e de qualquer relação de aliança que a igreja possa sustentar com Cristo, pois não era necessário para Cristo
morrer uma vez por Israel e depois novamente pela igreja. A igreja, no entanto, não pode ser inserida na aliança de Israel. Scofield concorda com Darby completamente no sentido de que a aliança era principalmente para Israel e será cumprida por essa nação. Qualquer aplicação à igreja, como a teoria de Scofield afirma, não anula a aplicação a Israel em primeiro lugar.
III- A TEORIA DAS DUAS ALIANÇAS:
Essa teoria afirma que há duas novas alianças apresentadas no Novo Testamento: a primeira com Israel, reafirmando a aliança feita em Jeremias 31, e a segunda com a igreja no presente.
Essencialmente essa teoria dividiria as referências à nova aliança no Novo Testamento em dois grupos. As dos evangelhos e de Hebreus 8.6, 9.15,10.29 e 13.20 dizem respeito à nova aliança com a igreja; Hebreus 8.7-13 e 10.16 referem-se à nova aliança com Israel e Hebreus 12.24 refere-se, talvez, a ambas, realçando o fato da mediação alcançada e o plano da aliança estabelecido sem designar os receptores.
Essa teoria aceitaria o conceito de Darby de que a nova aliança de Israel deve ser cumprida apenas por Israel. Além disso, veria a igreja inserida na relação com Deus por uma nova aliança estabelecida.
Sobre as Três Teorias, Pentecost aponta:
1. Não pertence à nossa esfera de observação tentar solucionar a divergência de opiniões entre pré-milenaristas sobre a relação da igreja com a nova aliança. Sem considerar o relacionamento entre a igreja e a nova aliança como apresentado nessas três teorias, há um ponto de acordo: a nova aliança de Jeremias 31.31-34 deve e pode ser cumprida somente pela nação de Israel, e não pela igreja.
Já que essa foi uma aliança literal com a descendência física de Abraão, qualquer relacionamento da igreja com o sangue por ela exigido não pode mudar as promessas básicas de Deus na própria aliança.
Não obstante qualquer relacionamento da igreja com seu sangue, a aliança ainda não foi cumprida e aguarda cumprimento literal futuro.
2. Pode surgir a questão da razão da referência feita a Jeremias 31 em Hebreus 8 se a igreja não está cumprindo aquela aliança.
Apesar da alegação de Allis de que Hebreus 8 "declara que essa nova aliança já foi introduzida, nenhuma afirmação ou insinuação é feita na passagem. Pelo contrário, a citação de Jeremias é usada para mostrar que a antiga aliança em si foi reconhecida como inválida e temporária e seria definitivamente substituída por uma aliança válida, para que os hebreus não se surpreendessem de que uma aliança nova e melhor fosse pregada, nem depositassem mais sua confiança naquilo que fora eliminado.
Walvoord diz:
''O argumento de Hebreus 8 revela a verdade de que Cristo é o Mediador de uma aliança melhor que a de Moisés, estabelecida sobre promessas melhores (Hb 8.6). O argumento baseia-se no fato de que a aliança de Moisés não era perfeita — jamais teve intenção de ser eterna (Hb 8.7). Para confirmar esse
argumento, a nova aliança de Jeremias é amplamente citada, provando que o próprio Antigo Testamento previu o fim da lei mosaica, já que uma nova aliança foi prevista para substituí-la.
O autor de Hebreus separa de toda a citação uma única palavra, nova, e sustenta que isso tornaria automaticamente velha a aliança de Moisés (Hb 8.12). Afirma-se também que a antiga aliança está "envelhecida" e "prestes a desaparecer". Devemos notar que em nenhum lugar dessa passagem diz-se que a nova aliança com Israel está efetivada. O único argumento é o que sempre foi verdadeiro —a previsão de uma nova aliança automaticamente declara que a aliança de Moisés é temporária e não-eterna.''
Assim, em Hebreus 8 a promessa de Jeremias é citada apenas para provar que a aliança antiga, isto é, a de Moisés, era temporária desde o começo, e Israel jamais poderia confiar no que era temporário,
mas deveria olhar para o futuro e para o que era eterno.
Aqui, como em Hebreus 10.16, a passagem de Jeremias é citada não para afirmar que o que é prometido agora está em pleno vigor, mas sim para dizer que a antiga aliança era temporária e inválida e previa uma nova aliança que estaria permanentemente em vigor.
Afirmar que a nova aliança de Israel agora opera na igreja é uma má interpretação do pensamento do autor de Hebreus.
3. Em seus antecedentes históricos, os discípulos que ouviram o Senhor falar sobre a nova aliança no Cenáculo, na noite anterior à Sua morte, certamente teriam entendido que Ele se referia à nova aliança de Jeremias 31. Várias coisas devem ser observadas a respeito daquela ocasião. Em Mateus 26.28 e em Marcos 14.24, a afirmação está registrada: "isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança... "
Nessa afirmação, devem-se sublinhar os aspectos soteriológicos daquela aliança. O sangue que estava sendo oferecido era o exigido pela nova aliança prometida e tinha o propósito de remir os pecados. Em
Lucas 22.20 e 1 Coríntios 11.25, a afirmação está registrada: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue... "
Essa afirmação realçaria os aspectos escatológicos da nova aliança, declarando que ela é
instituída com Sua morte. Isso estaria de acordo com o princípio de Hebreus 9.16,17:
Porque, onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador; pois um testamento só é confirmado no caso de mortos; visto que de maneira nenhuma tem força de lei enquanto vive o testador.
Já que os discípulos certamente teriam entendido qualquer referência à nova aliança naquela ocasião como referência à aliança com Israel prevista em Jeremias, parece que o Senhor estava afirmando que a
mesma aliança era instituída pela Sua morte, e eles eram ministros do sangue (os aspectos soteriológicos) da aliança (2 Co 3.6); mas aqueles com quem ela foi a princípio estabelecida não receberão seu cumprimento nem suas bênçãos até que ela seja confirmada e aplicada no segundo advento de Cristo, quando "todo o Israel será salvo [...] [pois] Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados" (Rm 11.26,27).
Certamente há uma diferença entre a instituição da aliança e a aplicação dos seus benefícios. Com Sua morte, Cristo assentou os alicerces da aliança de Israel, mas seus benefícios não serão recebidos
por Israel até o segundo advento.
4. Há várias considerações que apoiam a teoria de que a igreja não está cumprindo a nova aliança de Israel agora.
Devemos levar em consideração esses fatos:
1) O termo Israel não é usado nenhuma vez nas Escrituras para nenhum outro grupo que não os descendentes físicos de Abraão.
Já que a igreja hoje é composta por judeus e por gentios sem distinções nacionais, seria impossível que essa igreja cumprisse as promessas feitas à nação israelita.
2) Na nova aliança, conforme as disposições a que já aludimos, havia promessas de bênçãos espirituais e de bênção terrena.
Embora a igreja, assim como Israel, desfrute da promessa de salvação, de perdão de pecados, do ministério do Espírito Santo, ela jamais recebe a promessa de herdar uma terra, bênçãos materiais na terra e descanso da opressão, partes fundamentais da promessa a Israel.
A nova aliança não só prometeu salvação a Israel, mas uma nova vida na terra do milênio, quando
todas as suas alianças são concretizadas.
A igreja certamente não está cumprindo as porções materiais dessa aliança.
3) Já que a igreja recebe bênçãos da aliança abraâmica (Gl 3.14; 4.22-31) exclusivamente pela fé, pode então receber bênçãos da nova aliança sem estar sob a nova aliança ou sem cumpri-la.
4) O elemento de tempo contido na aliança, tanto em sua declaração original quanto em sua reafirmação no livro de Hebreus, impede que a igreja seja o agente por intermédio do qual ela é cumprida.
A aliança não pode ser cumprida e realizada antes do período da tribulação de Israel e de seu livramento pelo advento do Messias.
Embora a igreja tenha enfrentado períodos de perseguição e de tribulação, jamais passou pela grande
tribulação da profecia.
Certamente a igreja não está agora no milênio. Romanos 11.26,27 mostra claramente que essa aliança
só pode ser realizada após o segundo advento do Messias.
Já que a tribulação, o segundo advento e o milênio ainda são futuros, o cumprimento da promessa ainda deve ser futuro, portanto a igreja não pode estar cumprindo a aliança.
Estaremos encerrando este assunto no próximo artigo:
FONTE: Manual de Escatologia.
AUTOR: John D. Pentecost.
EDITORA: Vida.
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