AS SETENTAS SEMANAS DE DANIEL - PARTE II

COMENTÁRIOS SOBRE AS SEMANAS 

Nossa discussão ainda continua quanto a data em que devemos usar como base para iniciar a contagem das Semanas Proféticas. Neste artigo vamos apresentar mais três comentaristas e assim poderemos perceber que o assunto quanto esta questão não se pode considerar fechado.

Vale lembrar ao leitor que tal discussão está no campo do dispensacionalismo que trabalha com a interpretação literal da profecia das 70 Semanas, os 490 anos literais.

I- COMENTÁRIO DE R.N. CHAMPLIN:

Antes de conhecer a posição de Champlin quanto a contagem das Semanas, seria nos útil antes ver, pelo menos três posições que ele apresenta quanto á interpretação das 70 Semanas:

1. A Interpretação Liberal: 

Ela sugere que deve ser interpretado como história e não como profecia. Assim as 70 Semanas começam no ano de 538 a.C com o decreto de Ciro e terminam em 172 a.C com o assassinato do sumo sacerdote Onias II que tinha sido deposto em 175 a.C. Os três anos e meio mencionados pelo profeta designam o intervalo entre a sua queda e a morte.
Nesta interpretação o anticristo de Daniel 9.26,27 é Antíoco Epifânio e seu ataque contra Jerusalém. Essa interpretação não contém 490 anos, mas não devemos procurar nenhuma precisão destas coisas. A profecia não é messiânica. Interpretes de uma visão posterior inventaram esta visão da questão.

2. A Visão Tradicional:

Essa já leva seriamente o elemento profético deste trecho de Daniel. Essa interpretação entende que a profecia é messiânica e que fala de períodos de tempo que começou com o decreto de Artaxerxes que enviou Esdras de volta á Jerusalém em 445 a.C. A Última Semana, supostamente, começou com o batismo de Jesus. Alguns tradicionalistas iniciam o período com o decreto de Ciro em 538 a.C.

3. A Visão Dispensacionalista:

De modo geral segue a visão tradicionalista, mas faz um grande parêntese entre a Penúltima Semana e a Última Semana, preservando esta para depois do Arrebatamento. Esta Semana na visão dispensacionalista é o tempo do poder do anticristo em Jerusalém.

Depois de mostrar estas linhas de interpretação, Champlin apresenta uma proposta para o início da contagem das Semanas, contagem que é adotada pela maioria dos dispensacionalistas.
Champlin menciona de forma significativa, pelo menos alguns interpretes da tradição rabínica, consideram a profecia de Daniel 9.24-27 messiânica e predisseram o tempo do Messias (corretamente) através do uso da mesma.

Os moldes da contagem de Champlin das 70 Semanas são:

1. A Restauração:
Entre 538 á 424 a.C
7 Semanas.
2. Depois os 4 séculos entre os Dois Testamentos.
62 Semanas.

Champlin usa também o incio da data em 445 a.C com o decreto para edificar Jerusalém (Neemias 2.1-8), terminando até o Ungido em 32 d.C (Lucas 19.28,29; Zacarias 9.9). O Messias é cortado (morto) após a Penúltima Semana (Daniel 9.26). Mencionando ainda a destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C.
E a Septuagésima Semana que também para Champlin está associada com a Grande Tribulação (Daniel 9.27) como o Arrebatamento acontecendo antes.

II- COMENTÁRIOS DE SEVERINO PEDRO DA SILVA:

Em nossa discussão em relação a contagem das Semanas de Daniel, desejo acrescentar a posição do saudoso pastor Severino Pedro da Silva, teólogo pentecostal e dispensacionalista. O comentário é extraído do livro Daniel Versículo por Versículo, uma obra exegética do próprio Severino Pedro publicado pela CPAD.
Assim segue a posição de Severino Pedro da Silva:

''As setenta semanas do capítulo em foco apresentam três divisões principais e a última semana está dividida em dois períodos de três anos e meio cada um.

''Sabe e entende: desde a saída da ordem restaurar e para edificar Jerusalém, até o Messias, o Príncipe, sete semanas''.

Aqui está o ponto de partida para a contagem das setenta semanas, ''a saída da ordem''. São encontradas duas ordens nesse tempo do cativeiro; a primeira foi promulgada por Ciro, rei dos persas, e a segunda por Artaxerxes Longímano. Examinando Esdras 1.2,3, fica esclarecido que a primeira ''ordem''dada por Ciro, não foi para ''restaurar e para edificar Jerusalém'', e sim, para edificar o templo (ver 2 Crônicas 36.23; Esdras 1.2).
É evidente que a ''ordem'' referida por Gabriel não é a de Ciro e sim, a de Artaxerxes, que a promulgou no dia 14 do mês de Nisã (Abril) do ano 445 a.C., a data da ordem para a reedificação da cidade santa (Neemias 2); durou ''sete semanas'' segundo, o calendário profético, mas a construção levou 49 anos pelo calendário romano, (a frase 49 anos aparece também em Levítico 25.8 com sentido especial).

[...]

O primeiro período começou no ano 445 a.C., terminou em 396 a.C. A partir daí se iniciaria um novo período que cobriria um lapso de tempo 49 anos. O segundo período que é o das ''sessenta e duas semanas'' está ligado ao primeiro que, juntos somam 483 anos, tempo esse em que ''as ruas e as tranqueiras'' seriam reedificadas, ''mas em tempos angustiosos''. Esses tempos sombrios, marcam as atrocidades sofridas por Israel debaixo do poder dos monarcas selêucidas e do domínio romano. Dentro deste período de 69 semanas (483 anos), um fato notável deveria acontecer: o nascimento do Messias, o Príncipe, e só depois da morte do Messias é que viria o terceiro período: uma semana.

[...]

Essa terceira divisão seria dividida em duas seções de três anos e meio cada.
Ela se refere ao tempo sombrio da Grande Tribulação.''

Severino Pedro chama a nossa atenção para um fator que não vimos nos comentários anteriores:

''Observemos agora um cômputo geral das semanas; vejamos desde o seu ponto de partida até a sua chegada, no Novo Testamento. A primeira divisão é de 49 anos; a segunda de 434 anos; as duas somam 483 anos. O ponto de contagem dos 483 anos, foi marcado no ano 445 a.C. Se somarmos os 445 a.C com os 33 anos da vida de Cristo, temos apenas 478 anos e não 483 anos. Ma é evidente que, as 69 semanas não são de 478 anos, mas de 483 anos. A predição dizia que o Messias, o Príncipe, seria morto no final das 69 semanas (ver v26) e realmente foi o que aconteceu. Cristo morreu, como sabemos, na sexagésima semana (ver Lucas 24.44).''

Em sua argumentação, Severino Pedro da Silva continua...

''O nosso calendário atual teve sua origem em Dionísio Exiguus, abade romano, tendo como ponto de partida a fundação de Roma em 754 a.C.
Segundo os anais da história deste império, na hora da coroação de Rômulo, houve um eclipse lunar; os astrônomos calcularam esse eclipse teria ocorrido em 750 a.C. Há, portanto, uma diferença de 4 anos não computados, isso é realmente o que lemos nas margens e rodapés de nossas Bíblias; 4 anos antes de Cristo. Observemos: de 445 a.C á 33 d.C são 478 anos. De 1 a.C a 1 d.C, é um ano. Este ano junto com os 478, com mais os 4 anos não computados, somam exatamente 483 anos; assim, as profecias são imortais e se combinam entre si, em cada detalhe.''

Severino Pedro ainda define que a sexagésima semana terminou em 10 de Abril de Nisã (Abril - segunda-feira, quando Jesus entrou em Jerusalém montado em um jumentinho e ''chorou sobre ela'') ver Lucas 19.41.

O argumento prossegue:

''Há apenas uma diferença de 4 dias, em virtude de 483 anos divididos por séculos, teriam 119 anos bissextos, pois os anos proféticos não marcam décadas, mas séculos. ''A duração de um ano solar é de 365 dias e 1/4. Esta fórmula não se acha primariamente nos livros, está descrita nos céus, na mecânica celeste que rege os astros.''

O autor em seu comentário para elucidar sua argumentação se valeu da astronomia, como se segue:

''O dia solar por exemplo, é o espaço em horas e minutos em que a terra faz uma revolução completa em torno do seu eixo. A duração exata do dia solar é de 23 horas, 56 minutos, 4 segundos e 9/10 de segundos.
Os anos hebraicos são de 12 meses , e os meses são de 30 dias. Notemos que, tanto os acréscimo em dias como a diminuição em horas e minutos aqui são significativos, além disso, os anos contados em séculos absorve os anos bissextos.
''Em 4 séculos temos um verdadeiro ano bissexto'' (Sir R. Anderson) com o aumento de dias em anos, e com a diminuição de horas em dias no que diz a mecânica celeste, e com a absorvição dos anos bissextos pelos séculos, temos os 4 dias computados pela mecânica divina (ver Jeremias 1.12). Deus vela sobre os dias, horas e meses e anos no cumprimento de suas predições (compare com Apocalipse 9.15).''

Severino Pedro encerra seu argumento da contagem das Semanas Proféticas com a mesma posição da maioria dos dispensacionalistas em relação aos acontecimentos da Sexagésima Semana (Daniel 9.26). Focando a invasão de Jerusalém em 70 d.C pelos romanos.
E a Última Semana que está separada por um tempo indeterminado que será cumprido na Grande Tribulação após o Arrebatamento da Igreja.

III- COMENTÁRIOS DE SAULLO STAN:

Desejo inclui o comentário de um amigo e parceiro de ministério cristão, Saullo Stan, é um professor de Escatologia pelo Centro de Treinamento Bíblico Rhema Brasil (Rhema), ministro itinerante e diretor do Seminário Surpreendidos pela Eternidade realizado com apoio de igrejas em todo o Brasil.

Saullo, dispensacionalista como os demais, propõe uma contagem das Semanas, a partir de 444 a.C, mas antes vejamos como ele trata com as aspectos gerais das Semanas:

“Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniqüidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo.
Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos.
E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações.
E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador”. (Daniel 9:24-27).
As 70 semanas de Daniel: é importante sabermos que são setenta semanas de anos (ex:.1 semana é o mesmo que 7 anos).
70 períodos de 7 anos ou seja 70 x 7 = 490 anos estavam determinados sobre o povo de Daniel (Judeus) e a santa cidade de Daniel (Jerusalém).''


Saullo apresenta como a ideia geral do Propósito das 70 Semanas que vemos nos verso 25 do texto da Profecia:

''Seis propósitos das 70 semanas de Daniel:
Três propósitos tem conexão com a primeira vinda do Senhor Jesus.
Para cessar a transgressão
Para dar fim aos pecados
Para expiar a iniquidade
E três propósitos tem conexão com a segunda vinda do Senhor Jesus.
Para trazer ajustiça eterna
Para selar a visão e a profecia
Para ungir o santíssimo.


Saullo Stan prossegue...

''O Cativeiro babilônico profetizado pelo profeta Jeremias, devido ao pecado e ao coração endurecido do povo de Israel que desobedeceu as leis do Senhor, e por isso sofreram o cativeiro, mas Deus havia dito que se eles buscassem ao Senhor e se arrependessem, eles seriam ajuntados dentre as nações e levados até a terra da promessa. (Dt 30.1-20; Lv 25.1-7; Lv 26.33-35; Jr 25.1-11; 29.10; 2Cr 36.17-25).''

O reverendo Saullo apresenta uma proposta para o início da contagem das 70 Semanas a partir de 444 a.C, mas sem fugir dos outros aspectos delas que são consideradas por todos os dispensacionalistas:

''A contagem das 70 semanas começariam, desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém [aproximadamente. 444 a.C.]
Porém na Bíblia encontramos quatro ordens que tem conexão com Jerusalém e o templo.
Decreto de Ciro - ordem para reconstruir o templo (Ed 1.1-5; 2Cr 36.22-23).
Decreto de Dario – reafirma o decreto de Ciro (Ed 6.1.-12).
Decreto de Artaxerxes – liberando a adoração no templo (Ed 7).
Decreto de Artaxerxes – ordem para reconstruir a cidade (Ne 2.1-8).

“Desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos”. 7 semanas [49 anos] +62 semanas [434 anos] = 69 semanas [483 anos]
“E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador”. 1 semana [ 7 anos] justamente o período tribulacional.


Saullo Stan propõe a data 444 a.C que se somarmos aos 483 anos chegaremos ao ano 39 d.C, porém não devemos esquecer dos anos que não foram computados. Assim chegaremos ao ano 33 d.C.

Esta mesma proposta é apresentada por outros dispensacionalistas, embora que muitos prefere a data em 445 a.C.
Vamos deixar um link de uma aula especifica sobre as 70 Semanas com o pastor Gabriel de Oliveira Porto, o mesmo também propõe a contagem das Semanas a partir de 444 a.C:
https://www.youtube.com/watch?v=LHB_ff-3Xw8.


Ainda não chegamos á conclusão do nosso assunto, no próximo artigo iremos continuar abordando esse assunto. No nosso próximo artigo iremos trabalhar com a posição do reverendo Darek Walker, um mestre em Escatologia, dispensacionalista. A abordagem que ele vai apresentar, no geral está ligado com a posição da maioria dos dispensacionalista, mas Derek apresenta uma proposta para o cumprimento das 70 Semanas.

FONTES: 
Enciclopédia de Teologia, Bíblia e Filosofia.
Autor: R.N. Champlin.

Daniel, Versículo por Versículo.
Autor: Severino Pedro da Silva.
Editora: CPAD.

Saullo Stan.
Professor de Escatologia.
www.facebook.com/ministeriosaullostan







Postagens mais visitadas