ISRAEL NA TRIBULAÇÃO - PARTE VIII

 AS DUAS TESTEMUNHAS


INTRODUÇÃO:

Essa é uma das considerações mais importante em relação á nação israelita na Tribulação dada em Apocalipse 11.3-12, em que se apresenta o ministério das duas testemunhas. Esse assunto apresenta muitas divergências como outro dentro da escatologia bíblica. O problema está no tipo de interpretação que se usa nesta ou em outras passagens proféticas.

Para compreendemos esse assunto, vamos antes entender algumas posições de interpretar sobre o mesmo.

I- A QUESTÃO DA INTERPRETAÇÃO DAS DUAS TESTEMUNHAS:

Vamos começar trazendo como a interpretação simbólica interpreta esse assunto:
Aqui podemos encontrar duas teorias principais que são resultados dessa interpretação sobre as duas testemunhas:

1) A primeira é que essas duas testemunhas representam a Igreja, que será arrebatada em meio á Tribulação. Para esse teoria, o arrebatamento ocorrerá no versículo 12. Essa é a posição da teoria mesotribulacionista.
2) A segunda é que as duas testemunhas representam todo o remanescente do período tribulacional. Tal teoria se baseia na observação de dois é o número de testemunhas, e já que os 144 mil são testemunhas durante aquele período, devem ser simbolicamente representados aqui.
As duas teorias baseiam-se num método de interpretação não litoral.

Apresentaremos algumas objeções para essas teorias:

1) Mesmo que Apocalipse usa símbolos, mas é um erro considerar simbólico tudo o que for revelado ali. Pela expressão ''notificou'' em Apocalipse 1.1 não significa ''revelar por meio de símbolos'', mas refere-se, antes, a um fato histórico que tem sentido espiritual.
O Evangelho de João apresenta sete sinais que não são meros símbolos, mas acontecimentos históricos reais aos quais há um sentido espiritual relacionado.
O uso ''notificar'' não permite interpretação que não seja literal aqui. A coerência com o método literal exige que aquilo que é revelado seja entendido literalmente, ao menos que o texto mostre claramente o contrário, como, por exemplo, em Apocalipse 12.3,9.
2) Uma vez que os números dessa passagem são considerados literalmente, o número dois também deve ser considerado literalmente. Os 42 meses (11.2), os 1.260 dias (11.3) são entendidos literalmente.
Então, já que os outros números dessa passagem não são espiritualizados, o número dois também não deve ser.
3) Todas as testemunhas morrem certo ponto (11.7) para que seu testemunho cesse. Já o remanescente fiel, sabemos, apesar de dizimados pelo Anticristo, continuará durante todo o período até a Vinda do Senhor. Isso nos mostra que as duas testemunhas não tem relação alguma com o remanescente.
4) Uma vez que parte do remanescente continuará, não haverá motivo para regozijo (11.10). Esse regozijo virá pelo fato de tal testemunho específico ter acabado. A conclusão é que isso não se refere ao remanescente fiel, mas sim a dois indivíduos literais que serão separados especialmente por Deus e chamados ''minhas testemunhas'' (11.3). Como as duas oliveiras de Zacarias faz referência á Zorobabel e a Josué, as duas oliveiras (11.4) apontam para dois indivíduos literais. Seus milagres, seu ministério, sua ascensão parecem identificá-los como homens individuais.

A interpretação literal se divide em duas classes. Existem aqueles que acreditam que se trata de dois homens que viveram anteriormente e voltarão á terra para esse ministério. Outros acreditam que se trata de homens literais, mas não identificáveis.

A primeira defende que uma das testemunhas será Elias. Eles se fundamentam nos seguintes aspectos:

1) Em Malaquias 3.1-3; 4.5,6 é previsto que Elias viria antes do Segundo Advento para preparar o caminho para o Messias.
2) Elias não sofreu morte física (2 Reis 2.9-11) e, poderia retornar e sofrer morte assim como as duas testemunhas.
3) As testemunhas têm o mesmo sinal milagroso dado a Elias com relação á chuva (2 Reis 17.1; Apocalipse 11.6).
4) O período de seca na época de Elias (2 Reis 17.1) teve a mesma duração que o ministério das testemunhas (Apocalipse 11;3).
5) Elias foi um dos dois que apareceram na transfiguração (Mateus 17.3) e argumentou sobre o que todo testemunho aponta, ''a morte de Cristo.

Aqueles que identificam Elias como uma das testemunhas também associam a segunda a Moisés, por várias razões:

1) Moisés apareceu com Elias na transfiguração (Mateus 17.3) quando a morte de Jesus foi discutida.
2) O ministério de Moisés de transformar as águas em sangue (Êxodo 7.19,20) é o mesmo das testemunhas (Apocalipse 11.6).
3) Deuteronômio 18.15-19 exige o reaparecimento de Moisés .
4) O corpo de Moisés foi preservado por Deus para que ele possa ser restaurado (Deuteronômio 34.5,6; Judas 9). Logo, a lei (Moisés) e os profetas (Elias) estariam reunidos em testemunho a Cristo durante a proclamação da vinda do Rei.

II- DIFICULDADES EM IDENTIFICAR MOISÉS COMO UMA DAS TESTEMUNHAS:

1) A expressão ''semelhante a mim'' de Deuteronômio 18.15 parece impedir qualquer possibilidade que o próprio Moisés seja uma das testemunhas, pois o profeta não era Moisés, mas alguém semelhante a ele.
2) A semelhança dos milagres não significa identificação. Os milagres que Moisés fez foram sinais a Israel. Os sinais das testemunhas serão da mesma forma sinais para Israel. Seria algo impressionante se Deus duplicasse os sinais que foram grandes sinais para Israel naqueles dias.
3) Embora a transfiguração seja identificada com o milênio (2 Pedro 1.16-19), ela jamais é identificada com o período tribulacional ou com o ministério das testemunhas. Pelo fato deles terem aparecidos na transfiguração, demonstrando que estariam relacionados ao Senhor na Sua Vinda para o Seu reino, não significa que devem ser testemunhas.
4) O corpo de Moisés na transfiguração não era o seu corpo ressurreto, já que Cristo é as primícias da ressurreição (1 Coríntios 15.20,23), nem um corpo imortal, logo não pode argumentar com base em Judas 9 que o corpo de Moisés foi preservado para que ele possa voltar para morrer.

III- ENOQUE UMA DAS TESTEMUNHAS, SEUS ARGUMENTOS E SUAS DIFICULDADES:

Enoque é outro identificado como uma das testemunhas por aqueles que identificam Elias, o apoio para essa visão se argumenta em:

1) Enoque foi transladado sem ver a morte (Gênesis 5.24).
2) Tanto Elias quanto Enoque teriam sido revestido de imortalidade (1 Coríntios 15.53) na hora exata de sua translação, mas Cristo é o único que agora possuí a imortalidade (1 Timóteo 6.16). Logo, esses dois teriam sido preservados sem experimentar  imortalidade a fim que pudessem retornar para morrer.
3) Enoque foi um profeta de julgamento, assim como Elias (Judas 14,15), e isso corresponde ao ministério das duas testemunhas, pois eles profetizam com o sinal de julgamento - pano de saco (Apocalipse 11.3).
4) Em Apocalipse 11.4 as palavras ''em pé'' fazem supor que eles já viviam no tempo de João e devem ser duas pessoas que já foram transladadas. Logo, acredita-se, apenas Elias e Enoque poderiam satisfazer essas exigências.

Vejamos os argumentos contrários á essa posição escatológica que aponta Enoque como uma das testemunhas:

1) O motivo declarado da translação de Enoque foi ''para ão ver a morte'' (Hebreus 11.5). Em vista disso, é difícil afirmar que ele retornará para morrer.
2) Parece que o profeta antediluviano não seria enviado por Deus para lidar com Israel.
3) A posição de Enoque e Elias na translação não é diferente de todos os santos do Antigo Testamento que estão diante do Senhor por meio da morte física. Seu meio de entrada é diferente, mas não a sua posição na entrada. Assim, o fato de que eles foram arrebatados não requer uma diferença de estado, nem que eles retornem para morrer.
4) As testemunhas têm corpos mortais e estão sujeitas á mortes. Elias e Moisés no monte da transfiguração evidentemente não tinham corpos mortais, pois ''apareceram em glória''. Dificilmente receberiam corpos mortais novamente.

Pentecost trás uma conclusão de English sobre essas teorias, e é essa:

''Se fosse possível afirmar com certeza que as duas testemunhas devem ser identificadas com personagens que apareceram na terra na época do Antigo Testamento, então somos obrigados a concluir, penso eu, que serão Elias e Moisés, o primeiro porque se diz que virá novamente, e o segundo por causa da sua associação com Elias no monte da transfiguração, por causa da natureza do seu testemunho, e porque ele simboliza a lei assim como Elias representa os profetas, ambos testemunhando a vinda do Senhor em glória.''

Para aqueles que, por causa das dificuldades e do silêncio das Escrituras a esse respeito, que as duas testemunhas não podem ser identificadas. English representa esse grupo ao dizer:

''... essas duas testemunhas ão podem ser identificadas, mas [...] simplesmente aparecerão no espírito e poder de Elias [...] As duas testemunhas terão corpos mortais, e, embora seja possível a Deus, a quem ''todas as coisas'' são possíveis, mandar de volta á terra aqueles que já foram para a presença do Senhor há muito tempo, não temos nenhum precedente e nenhuma palavra nas Escrituras para tal reentrada de homens. Sim, Lazaro, o filho da viúva de Sarepta e outros que tinham corpos mortais quando ressuscitaram dos mortos, mas sua morte foi uma experiência temporária e autorizada para que Deus fosse glorificado pelo poder milagroso de Seu Filho (ou Seu profeta) na ressurreição. A reaparição do nosso Senhor após a ressurreição foi em Seu corpo glorificado e, como já demonstramos, Moisés e Elias, no monte da transfiguração, ''apareceram em glória'' (Lucas 9:31), isto é, nos corpos glorificados para aquela ocasião [...] Com base nisso, concluímos que essas testemunhas não podem ser identificadas, mas cumprirão no futuro um destino que João Batista teria realizado se o coração de Israel tivesse sido receptivo.''

CONCLUSÃO:

Esse assunto não encerra aqui, voltaremos no próximo artigo trazendo sobre a Vinda de Elias.
Porém desejo trazer uma conclusão sobre esse tema da identificação das duas testemunhas. Melhor nós é entender que a identidade desses dois homens é incerta. Poderá ser pessoas que não viveram anteriormente e que seriam restaurados á vida, mas pessoas que serão levantadas, dois homens que serão levantados para um testemunho especial, a quem será concedido o poder de fazer milagres. Eles executarão julgamento como mostram suas vestes de pano de saco. Serão mortos pelo anticristo (Apocalipse 13.10). Em relação á hora de sua morte, English diz:

''Aritmética pura revelará rapidamente que o período da profecia confirmado ás duas testemunhas, 1260 dias, equivale três anos e meio de duração. Em qual metade da tribulação, então, essas testemunhas profetizarão? Ou seu testemunho não será limitado por uma das metades dos sete anos, mas durará de uma metade para outra? Não creio que possamos ser dogmáticos sobre isso. Há lógica considerável no argumento de que seu testemunho ocorrerá durante a primeira metade da semana profética de Daniel, e seu martírio será o primeiro ato de perseguição da besta, depois que ela quebrar a aliança com os judeus (Daniel 9.27). Seu ministério será acompanhado de poder sobre os inimigos, enquanto, e de acordo com Daniel 7.21 o ''pequeno chifre'' (que é a besta) guerreará e prevalecerá contra os santos, e essa será a segunda metade da semana. Por outro lado, em Apocalipse 11.2 os ''quarenta dois meses'' sem dúvida se referem á segunda metade da tribulação, e o período do testemunho das duas testemunhas parece estar sincronizado com isso. Além disso, seu testemunho é registrado logo antes do soar antes da sétima trombeta, e que nos leva direto ao reino milenar. Mas o período exato em que o testemunho acontecerá não é importante aos crentes desta era - isso acontecerá no tempo de Deus, que conhecemos, e será no tempo certo.''

Próximo artigo Elias Voltará?

FONTE: Manual de Escatologia.
AUTOR: John Dwight Pentecost.
EDITORA: Vida.



Comentários

Postagens mais visitadas