O MILÊNIO - PARTE XIX
CONSIDERANDO AS OBJEÇÕES AOS SACRIFÍCIOS NO MILÊNIO
INTRODUÇÃO:
Estamos finalizando o nosso assunto sobre a questão dos sacrifícios de animais durante o Milênio. O interprete dispensacionalista que prioriza o sistema literal de interpretação vê tais sacrifícios de forma literal, mas sem nenhuma conexão com a Salvação do ofertante, já que o Sacrifício de Cristo já providenciou de maneira completa e eficaz a nossa Salvação. Visto que esses sacrifícios não serão oferecidos diretamente pelo povo, mas por um tipo de príncipe-sacerdote que representará o povo diante do Messias. Por mais clara que seja essa questão, mas precisamos levar em conta algumas objeções a essa interpretação, e queremos com respeito, analisar pelo menos seis delas e trazer uma resposta satisfatoriamente escriturística para elas.
I- A REINCONSTITUIÇÃO DOS SACRIFÍCIOS CONTRADIZ HEBREUS:
Trechos como Hebreus 9.26,27; 7.27 e 9.12 confirmam que Cristo ofereceu um único sacrifício, e isso de uma vez por todas, um sacrifício aceitável diante de Deus, e por isso não é necessário serem repetidos. Essa contradição só surge quando não se faz distinção que o dispensacionalismo propõe entre o plano de Deus para a Igreja de Seu plano para Israel.
Essa distinção dos planos foi muito bem exposta por Unger como veremos abaixo:
''Com respeito á suposta contradição entre os ensinamentos da epístola aos Hebreus e a profecia de Ezequiel, pode-se dizer que ela desaparece quando a base e a posição de uma visão são vistas como totalmente diferentes da base e da posição da outra. Uma tem em vista os membros do corpo de Cristo, a igreja, já que a sua redenção está em Cristo. A outra está preocupada com Israel como nação terrena e abraça a glória de Jeová, que mais uma vez habitará na terra de Canaã. Uma diz respeito ao cristianismo, em que não há judeu e nem gentio, mas todos em Cristo. A outra lida com o judaísmo restaurado, no qual Israel é abençoado diretamente, e os gentios apenas subordinados aos judeus - um estado de coisas em contraste diametral com o cristianismo.
[...]
A dificuldade em aceitar o ponto de vista literal-futurístico é a arrogância da cristandade (Rm 11.15-26) em presumir que a queda do judeu é definitiva e o gentio o suplantou para sempre. Quando for compreendida a verdade da convocação de Israel á bênção, a interpretação literal-futurística da profecia de Ezequiel será a explicação normal da visão.''
Sobre á Igreja, a mesma encontra-se com Aquele que ofereceu completo sacrifício. Ela olha somente para Cristo. Esse é o ensinamento de Hebreus. Mas quando se trata com Israel em sua futura relação com Cristo, Hebreus 8.8-13 e 10.16 já mostra outra expectativa de uma nova aliança. A mesma nova aliança de Jeremias 31 que mostrou que a antiga ordem (Mosaica) seria substituída devido a sua incapacidade, por uma nova ordem. A visão do templo de Ezequiel nos dá detalhes a respeito da ordem sacerdotal que será inaugurada por Deus depois que a nova aliança ser cumprida com Israel. Essa intepretação se encontra em perfeita harmonia com os ensinamentos com o livro de Hebreus.
II- A OBRIGATORIEDADE DOS SACRIFÍCIOS NO MILÊNIO SER OBRIGATÓRIOS:
Já tratamos anteriormente sobre esse assunto, e, a esse respeito, deixamos o comentário de Wale já proposto em outros artigos da sessão, mas vale salientar quando ele diz: ''Existia uma virtude nos sacrifícios legais que prenunciavam o sacrifício de Cristo? Nenhuma sequer. Seu único valor e significado deriva do fato de que eles apontavam para Ele.'' Essa objeção só pode surgir de uma falsa soteriologia.
III- OS SACRIFÍCIOS DURANTE O MILÊNIO NEGAM EFÉSIOS 2.14-16:
Como Deus rompeu para sempre a barreira que separava judeus e gentios, e os tornou em um. Alguns levantam a objeção de que os sacrifícios durante o Milênio negariam essa verdade. Isso surge pela falta de percepção que esse é o Propósito de Deus na Presente Era, e não ao Seu propósito na Era Vindoura (Milênio). Assim argumenta satisfatoriamente Saphir sobre essa questão:
''O apóstolo Paulo ensina que em Cristo Jesus não há judeu ou gentio: mas vocês estão construindo novamente o muro da separação que foi abolido!'' É verdade que, na igreja de Cristo, judeu e gentio são um; é verdade que no reino judeu e gentio terão um só meio de acesso a Deus, uma fonte de perdão e renovação, um Espírito para iluminar, guiar e fortalecer. Mas disso não se conclui de forma alguma que a posição do judeu e do gentio deve ser a mesma, ou que as posições distintas no reino militem contra a igualdade no Senhor Jesus Cristo. Em Cristo não há macho e nem fêmea, todavia homem e mulher possuem posições diferentes, e até mesmo na igreja, apesar de terem privilégios iguais, uma mulher não pode pregar.''
Tais passagens são ininteligíveis até que o leitor possa distinguir claramente o plano de Deus de Israel do plano para a Igreja.
IV- A ALEGAÇÃO DE QUE GEOGRAFICAMENTE QUE RESTITUIR TAL ADORAÇÃO SEJA IMPOSSÍVEL:
Assim tentam sustentar que seja necessário espiritualizar a profecia de Ezequiel, pois o templo e seus arredores excedem em muito as dimensões da área antiga, portanto a profecia não poderia ser compreendida literalmente. Essa opinião despreza as importantes mudanças geográficas e tipográficas previstas em Zacarias 14.4.
Essas mudanças previstas na topografia da Palestina permitem a localização do templo da maneira que não há necessidade interpretar de forma não-literal a profecia de Ezequiel.
V- O PRÍNCIPE DE EZEQUIEL É INCOERENTE COM O REINADO DE CRISTO:
Essa é a penúltima objeção que vamos observar. Alguns defendem que a existência do príncipe de Ezequiel se torna incoerente com o reinado de Cristo. Caso o reinado literal da aliança davídica se cumpra com a exigência do reinado de Cristo no trono de Davi seria uma contradição a profecia de Ezequiel com respeito ao príncipe. Se faz observação a afirmação feita de que um indivíduo reina quando ele exerce autoridade do trono, independente do seu relacionamento com o trono físico, que é o emblema da autoridade. Portanto, Cristo pode cumprir tal promessa sem estar assentado literalmente no trono na terra. Esse é o argumento de Gaebelein quando fala a respeito do relacionamento do príncipe com Cristo:
''... o príncipe não é idêntico ao Senhor. Quem é ele então? Ele é o vice-regente do Rei, um futuro príncipe da casa de Davi, que representará o Senhor na terra. O trono será estabelecido em Jerusalém, O Senhor Jesus Cristo reinará supremo sobre todos; seu trono está acima da terra na Nova Jerusalém. Ele visitará a terra e manifestará a Sua glória como Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Isso talvez aconteça durante as grandes celebrações e festas dos tabernáculos, quando nações enviarem representantes a Jerusalém para adorar o Rei, o Senhor dos Exércitos (Zc 16.16). No trono de Davi sentará o príncipe de Davi como vice-regente.''
Uma vez que nos é revelado nas Escrituras que o Governo Teocrático estará debaixo da Autoridade do Messias, e será exercida em submissão ao Mesmo por homens escolhidos (Mateus 19.28; 25.21 e Lucas 19.17), não temos nenhum conflito em ver o príncipe como vice-regente submisso á Cristo.
VI- O SISTEMA SERIA UM RETROCESSO Á ANTIGA ALIANÇA:
Já que em Ezequiel é reconhecido um sistema sacrificial (43.1-6), se a interpretação literal da profecia for a correta, logo esse sistema será um retrocesso, segundo essa última objeção. Tal sistema, a até visto pelo profeta irá trazer maior manifestação da glória de Deus que a terra já presenciou, fora daquela glória que manifestada em Cristo. Uma vez que o sistema foi planejado por Deus para ser um memorial de Jesus Cristo, não podemos dizer que ele será um retrocesso aos ''fracos e pobres elementos'' da Antiga Aliança, da mesma forma que não podemos dizer que o pão e o vinho sejam fracos e pobres memoriais do corpo quebrantado e do sangue derramado de Cristo.
CONCLUSÃO:
Trazendo a conclusão dessa sessão onde tratamos do sistema de adoração no Milênio, esse enfoque nos sacrifícios de animais que estão previstos nas profecias para aquela Era. Sem a interpretação literal colocaríamos em risco de dúvidas a própria Escritura e Sua integridade.
Mas toda a questão envolvida gira em torno da Salvação no período Milenar. As objeções de acordo com alguns diminui a Cruz e restringe o seu Valor á Presente Era. Essa alegação não é válida. A Nova Aliança em Jeremias 31.31 dá a garantia a todos os que entrarão no Milênio e a todos que nascerão durante o Milênio, que necessitarão da Salvação:
1. Um novo coração (Jeremias 31.33).
2. Perdão dos pecados (Jeremias 31.34).
3. A Plenitude do Espírito (Joel 2.28,29).
Assim o Novo Testamento esclarece que a Nova Aliança está baseada no Sangue de Jesus (Hebreus 8.6;10.12-18; Mateus 26.28). Assim podemos afirmar que a Salvação no Milênio estará baseada no Valor da Morte de Cristo e apropriada pela fé (Hebreus 11.6), assim como a fé de Abraão se apropriou da promessa de Deus para sua justificação (Romanos 4.3). A expressão da fé salvífica será diferenciada das expressões exigidas na presente Dispensação, porém aqueles futuro sacrifícios deverão ser vistos como meras expressões de fé sem ser considerados meios de Salvação.
A visão de Ezequiel sobre a glória revela que é impossível localizar seu cumprimento em qualquer outro lugar, templo ou sistema que Israel tenha conhecimento no passado, mas que é esperado no futuro, isso após a Segunda Vinda de Cristo, quando o Milênio for instituído.
O sistema sacrificial não é nenhum judaísmo reinstituído, mas um estabelecimento de uma nova Ordem que propõem uma lembrança da Obra de Cristo, sobre qual repousa toda a Salvação. O cumprimento literal da profecia de Ezequiel será o meio de glorificação e a bênção dos homens no Milênio.
No próximo artigo iremos desenvolver qual será a Relação entre os santos vivos e ressurrectos no Milênio.
FONTE: Manual da Escatologia
AUTOR: John Dwight Pentecost
EDITORA: Vida
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