A ALIANÇA ABRAÂMICA - IV
O AMILENARISMO VERSUS O CARÁTER INCONDICIONAL DA ALIANÇA
INTRODUÇÃO:
Na divisão de temas do nosso trabalho, o leitor encontra a divisão que trata sobre os posicionamentos escatológicos do blog, essa divisão é denominada ''Hermenêutica Dispensacionalista'' onde tratamos sobre tais posicionamentos. https://bloggerdaescatologia.blogspot.com/search/label/Hermen%C3%AAutica%20Dispensacionalista
Por hora iremos apenas nos deter sobre o relacionamento da visão amilenarista com o caráter da Aliança Abraâmica. Temos falado sobre Allis,um expoente e defensor do Amilenarismo e sistematizador do pensamento dessa escola de interpretação.
O PENSAMENTO AMILENARISTA VERSUS O CARÁTER INCODICIONAL DA ALIANÇA:
Vejamos os argumentos que Allis apresenta contra o caráter incondicional da Aliança Abraâmica:
1. Allis argumenta em primeiro lugar que deve ser observado que pode haver uma condição numa ordem ou promessas sem que esteja especificamente declarada. Ele cita Jonas como exemplo quando recebeu a ordem de pregar um juízo incondicional, sem nenhuma reserva que Nínive seria destruída em quarenta dias. Não havia alí uma condição declarada, mas estava pressuposta no próprio Caráter de Deus como um Deus de misericórdia e compaixão. Ele ainda cita o juízo contra a família de Eli como exemplo desse princípio (1 Samuel 2.30).
Allis, dessa forma tem o argumento que pode haver condições implícitas não declaradas.
O oponente inicia com uma admissão desconcertante por não haver nas Escrituras condições declaradas que apoiam a defesa do amilenarista. Tal posicionamento repousa no silêncio, e em condições implícitas e não declaradas. Não temos, no caso de Eli, nenhuma relação, pois já que o velho sacerdote vivia sob as condições da Dispensação Mosaica que era condicional em seu caráter sem nenhuma relação com a Aliança Abraâmica.. O fato da Aliança Mosaica ser condicional não obriga a Aliança Abraâmica ser.
E é o mesmo caso no de Jonas, onde também não há qualquer relação, já que a mensagem de Jonas não era baseada numa aliança, e nem constituía alguma relação com a Aliança Abraâmica. Já era estabelecido pelas Escrituras que o arrependimento afastaria o juízo (Jeremias 18.7-10; 26.12,13; Ezequiel 33.14-19). Dessa forma os nínivitas se arrependeram e o juízo foi retirado. Mas a pregação de Jonas, da qual foi dada uma resumida declaração não constitui relação com o caráter da Aliança Abraâmica.
2. Em seu segundo argumento oposto, Allis diz que nos termos da Aliança Abraâmica, a obediência não foi declarada como condição, mas que dois fatos indicariam que ela estava pressuposta. O primeiro é que a obediência é uma pré-condição á bênção em todas as circunstâncias. Já o segundo, Allis diz que na situação de Abraão, o dever da obediência foi salientado quando em Gênesis 18.17 fala claramente que, da escolha de Abraão, Deus propôs trazer á existência, por piedosa preparação, uma semente justa que ''guardaria o caminho do Senhor'', para que em consequência e recompensa o ''Senhor cumpra a Abraão tudo o que a respeito falou''.
Vemos que Allis reconheceu que as Escrituras não possui em parte alguma, nenhuma condição estipulada declarada. Mesmo que isso por si só já seria suficiente, mas temos outras considerações concernentes a tal argumento. Em primeiro lugar, é um erro declarar a obediência é sempre uma condição para a bênção. Se fosse verdade, como um pecador seria salvo?
Retornamos mais uma vez a Walvoord que escreveu:
''Não é verdade que a obediência seja sempre uma condição para a bênção. A semente de Abraão tem sido desobediente em todas as categorias morais. Mesmo assim, apesar da desobediência, cumpriram-se muitas promessas da aliança. O mesmo princípio de graça é que Deus abençoa os injustos [...] A segurança do crente [...] é bem independente do valor e da fé humana [...] Como calvinista, onde está a doutrina da eleição incondicional que Allis acredita?''
Deve-se ser observado que numa aliança incondicional, no que confere certeza ao plano do pacto, pode conter bênçãos condicionais. O plano será cumprido, mas o indivíduo recebe as bênçãos relacionadas apenas por ajustar-se ás condições das quais tais bênçãos dependem. Esse é o caso da Aliança Abraâmica. Já falamos anteriormente, mesmo que a instituição do pacto com Abraão dependesse do ato da obediência deste em abandonar sua casa, uma vez inaugurada a Aliança, já não tinha qualquer condição. A aliança foi refirmada e ampliada para Abraão depois de atos definidos de desobediência (Gênesis 12.10-20; 16.1-16).
3. Allis ainda argumenta que a obediência foi vitalmente ligada á aliança abraâmica e isso foi demonstrado com clareza especial pelo fato que havia um sinal, o rito da circuncisão, cuja observância era fundamental importância. Allis prossegue que quem não observasse o ritual era punido com a eliminação da aliança, o rito era em si um ato de obediência (1 Coríntios 7.19).
Temos como resposta a tal argumento e destacamos suficientemente que o rito da circuncisão que foi dado em Gênesis 17.9-14, foi muitos anos depois da instituição da Aliança, e depois de várias repetições reafirmando-A a Abraão (Gênesis 12.7; 13.14-17; 15.1-21). Temos algum motivo de exigir algum sinal venha seguir uma aliança quando a mesma está claramente em vigor antes da instituição do sinal? O rito está relacionado ao gozo das bênçãos da aliança e não a sua instituição ou continuidade.
Walvoord observou:
''´Todos concordam em que, para que cada pessoa desfrute da bênção sob a aliança, é em grande parte necessário que haja fé e obediência. Isso é bem diferente de afirmar que o cumprimento da aliança como todo esteja condicionado á obediência de toda a nação.''
4. Em outros argumentos Allis segue ainda dizendo que aqueles que insistem em que a Aliança Abraâmica foi totalmente incondicional na verdade não observam como tal; isso também foi demonstrado pela grande importância que os dispensacionalistas atribuem ao fato de Israel estar ''na terra'' como condição prévia da bênção sob essa aliança.
5. Nesse ponto, Allis declara que os dispensacionalistas não tratam a aliança abraâmica como totalmente incondicional também se evidencia pelo fato de que jamais os ouvimos falar sobre a reintegração de Esaú á terra de Canaã e á completa bênção sob a Aliança Abraâmica. Allis termina esse argumento dizendo que se a aliança abraâmica fosse incondicional, por que Esaú fora excluído das bênçãos?
Responderemos esses dois argumentos juntamente. Devemos observar que em cada caso, que o que se tem em mente é o relacionamento com as bênçãos, e não o relacionamento com a continuação da Aliança. Foi afirmada anteriormente, as bênçãos eram condicionadas á obediência, á permanência no lugar da bênção. A Aliança em sí vigorava quer estivessem na terra, quer que fossem contemplados ou não com a bênção.
Vemos por outro lado, se a desobediência e a retirada da terra anulassem a Aliança, não é importante se Esaú tivesse ou não permanecido na terra. As bênçãos recaem sobre o povo da Aliança, Esaú é excluído porque não foi qualificado para recebê-las, já que ele não cria nas promessas (Gênesis 25.27-34). Esaú desprezou a promessa de que ele seria o herdeiro da Aliança Abraâmica.
Tal aliança era baseada na integridade de Deus, isso nos leva a entender que Esaú deve ser visto como alguém que não cria que Deus pudesse cumprir ou cumprisse a Sua palavra. A bênção foi da mesma forma desprezada (Gênesis 27) pertencia debaixo da Aliança, e dela ele foi privado devido a sua descrença quando se manifestou no desdém a sua primogenitura.
A rejeição de Esaú ilustra o fato de que aliança era seletiva e deveria ser cumprida por meio da linhagem escolhida por Deus.
6. E por último Allis argumenta contra o caráter inconstitucional da Aliança Abraâmica quando ele fala que a certeza do cumprimento não se baseia no fato dela ser incondicional, nem o seu cumprimento dependia da obediência imperfeita de pecadores. Ele finaliza mostrando que a certeza do cumprimento da aliança e a segurança do crente sob ela, em última análise, dependem totalmente da obediência a Deus.
Vemos uma mudança completa em tal linha de raciocínio nesse aspecto. Foi sustentado até agora que a aliança não será cumprida porque ela seria condicional. Mas agora está sendo afirmado que ela é cumprida com base na obediência de Cristo. Nossas bênçãos espirituais são resultados dessa Aliança de acordo com Gálatas 3, nesse caso a amilenarista é obrigado a reconhecer algum cumprimento.
Se a Aliança Abraâmica fosse ab-rogada, jamais que Cristo teria vindo. Se essa segurança fosse oferecida sob alguma condição, não teríamos certeza de Salvação. Entretanto podemos concordar largamente que todo o cumprimento está baseada na obediência de Cristo, tal fato não altera o caráter essencial da Aliança que torna necessária a vinda de Cristo.
A Primeira Vinda de Cristo trouxe o cumprimento parcial da Aliança Abraâmica, a Segunda Vinda trará o cumprimento pleno dessa aliança.
Temos ainda mais uma linha de pensamento de Allis quando ele escreve sobre o cumprimento da Aliança Abraâmica:
''1) Com respeito á semente, devemos observar que as mesmas palavras que aparecem na aliança [...] são usadas para a nação de Israel na época de Salomão [...] Isso indicaria que a promessa foi considerada cumprida nesse aspecto de ouro da monarquia [...]
2) Com respeito á terra, o domínio de Davi e de Salomão estendia-se do Eufrates ao rio do Egito [...] Israel tomou posse da terra prometida aos patriarcas. Eles possuíram, mas ''para sempre''. A posse da terra foi perdida pela desobediência [...] ela pode ser considerada cumprida séculos antes do primeiro advento...''
Allis argumenta que a Aliança fora cumprida historicamente e por isso não tem um cumprimento futuro. Falaremos sobre o cumprimento histórico da Aliança Abraâmica em outro momento. Mas, salientamos que a história de Israel, embora nos tempos gloriosos de Davi e Salomão, essa promessa jamais fora cumprida. Logo, á experiência histórica citada não atribui qualquer cumprimento.
E se ainda a Aliança fosse condicional, já que Israel esteve muitas vezes em desobediência entre a instituição da aliança e o estabelecimento do reinado de Davi, como podemos explicar algum cumprimento?
A incredulidade que seguiu á era de Davi não era diferente das anteriores. Se a descrença posterior iria anular a Aliança, a anterior teria impedido qualquer espécie de cumprimento.
No próximo artigo iremos tratar da visão pré-milenarista em relação ao cumprimento parcial da Aliança Abraâmica.
FONTE: Manual de Escatologia.
AUTOR: J.D.Pentecost.
EDITORA: Vida.
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