ALIANÇA ABRAÂMICA - III
O CARÁTER DA ALIANÇA ABRAÂMICA
Voltando ao nosso assunto sobre as Alianças na Escatologia e dando continuidade a primeira das alianças escatológicas. Leia os artigos anteriores para mais conhecimento e entendimento.
Nosso assunto de hoje é o caráter dessa Aliança. Ela trata da tomada de posse da Palestina por Israel, e ao mesmo tempo a continuidade da existência da Nação para possuir essa terra, trata ainda da redenção de Israel para que o mesmo possa desfrutar das bênçãos na terra sob o seu rei.
Precisamos descobrir qual é o método de cumprimento dessa aliança. Se ela for literal, então a nação judaica deve ser preservada, convertida e restaurada. Se ela for incondicional, tais acontecimentos são inevitáveis na vida nacional de Israel.
Tais respostas se encontram na posição escatológica do leitor.
I- QUAL ERA A CONDIÇÃO NA ALIANÇA ABRAÂMICA:
Os pais de Abraão eram idólatras (Josué 24.2). Abraão recebeu a ordem de Deus de deixar Ur para uma terra estranha e desconhecida (Hebreus 11.8) com promessas específicas que dependiam desse ato de obediência. Abraão, parcialmente obedecendo, uma vez que não queria separar de sua família, foi para Harã (Gênesis 11.31).
Em Harã não houve nenhuma promessa feita, somente com a morte de seu pai (Gênesis 11.32) foi que Abraão começa a receber parte da promessa de Deus, só depois disso é que Deus o leva para a terra (Gênesis 12.4) e lhe dá a promessa original (Gênesis 12.7).
Tem que se observar como a obediência se relaciona com o plano da Aliança. A instituição ou não por parte de Deus na aliança com Abraão dependeria do ato da obediência desse patriarca em abandonar a terra. Ao fazer isso, Abraão obedece a Deus, e agora a aliança se torna irrevogável e incondicional.
Foi essa obediência que foi a base instituída do plano, sendo citada em 22.18, quando a oferta de Isaque se torna apenas uma evidência a mais da atitude de Abraão para com Deus.
Citamos nesse contexto as palavras de Walvoord:
''Como apresentado nas Escrituras, a aliança abraâmica dependia de uma única condição. Essa é apresentada em Gênesis 12.11 [...] A aliança original baseava-se na obediência de Abraão em deixar sua terra natal e dirigir-se á terra prometida. Nenhuma revelação adicional lhe foi dada até que ele obedecesse essa ordem após a morte de seu pai. Na sua entrada em Canaã, o Senhor deu imediatamente a Abraão a promessa de posse definitiva da terra (Gênesis 12.7), e depois ampliou e repetiu as promessas originais.
Satisfeita a condição única, nenhuma outra é exigida de Abraão, tendo sido solenemente estabelecida, a aliança, depende agora da veracidade divina para o seu cumprimento.'''
A existência de um plano de aliança com Abraão dependia do seu ato de obediência. Quando ele obedece, a aliança já não dependeria mais de uma obediência continuada, mas da promessa de Quem instituiu.
Esse fato da Aliança depender da obediência; o tipo de aliança era inaugurada era desvinculado da obediência continuada de Abraão ou de sua semente.
II- ARGUMENTOS QUE SUSTENTAM O CARÁTER INCONDICIONAL DA ALIANÇA:
O ponto crucial de toda a discussão relacionada ao cumprimento da Aliança está na questão dela ser ou não incondicional.
Há muitos argumentos que são apresentados para apoiar a posição pré-milenarista quanto ao caráter incondicional da Aliança Abraâmica.
Walvoord cita dez motivos para cremos que ela seja incondicional:
''1) Todas as alianças com Israel são incondicionais, com exceção da mosaica.
A aliança abraâmica é expressamente declarada eterna e, por consequência, incondicional em várias passagens (Gn 17.7,13,19; 1 Cr 16.17; Sl 105.10).
A aliança da palestina também é declarada eterna (Ez 16.60). A aliança davídica é apresentada da mesma forma (2 Sm 7.13,16,19; 1 Cr 17.12; 22.10; Is 55.3; Ez 37.25). A nova aliança com Israel é igualmente eterna (Is 61.8; Jr 32.40; 50.5; Hb 13.20).
2) Com exceção da condição original de abandonar sua terra natal e dirigir-se á terra prometida, a aliança é firmada sem condições [...]
3) A aliança abraâmica é confirmada repetidamente por reiterações e por ampliação. Em nenhuma dessas ocasiões as promessas adicionadas se condicionam á fé da semente ou do próprio Abraão [...] nada se diz sobre ela estar sujeita á fé futura de Abraão e a sua semente.
4) A aliança abraâmica é formalizada por um ritual divinamente ordenado que simboliza o derramamento de sangue e a passagem entre as partes do sacrifício (Gn 15.17-21; Jr 34.18). Essa cerimônia foi dada a Abraão como garantia de que sua semente herdaria a terra nas mesmas fronteiras dadas a eles em Gênesis 15.18-21. Nenhuma condição está conectada á promessa nesse contexto.
5) Para distinguir os que herdariam as promessas como indivíduos dos que eram apenas a semente física de Abraão, foi dado o sinal visível da circuncisão (Gn 17.9-14). Os incircuncisos eram considerados não alcançados pela benção prometida. O cumprimento último da aliança abraâmica e a posse da terra pela semente não dependiam, contudo, da fidelidade ao pacto da circuncisão. Na verdade as promessas da terra foram concedidas antes que a cerimônia fosse introduzida.
6) A aliança abraâmica foi confirmada pelo nascimento de Isaque e de Jacó, os quais receberam as repetições das promessas na forma original (Gn 17.19; 28.12,13) [...]
7) O fato notável é que as repetições da aliança e o seu cumprimento parcial acontecem a despeito da desobediência. É claro que em vários instantes Abraão se afastou da vontade de Deus [...] No próprio ato [...] as promessas são repetidas a ele.
8) As confirmações posteriores da aliança foram feitas em meio a apostasia. Muito importante é a promessa dada por Jeremias de que Israel continuaria como nação para sempre (Jr 31.26) [...]
9) O Novo Testamento declara aliança abraâmica imutável (Hb 6.13-18; cf. Gn 15.8-21). Ela não foi apenas prometida, mas solenemente confirmada pelo juramento de Deus.
10) Toda a revelação das Escrituras a respeito de Israel e de seu futuro, contida no Novo e no Antigo Testamento, se interpretada literalmente, confirma e sustenta o caráter incondicional das promessas feitas a Abraão.´´
Levando como base as considerações acima, deve ser reconhecida que a visão pré-milenarista tem descansado sobre robusto e variados argumentos.
III- O FATO DE GÊNESIS 15:
Precisamos explicar ao fato em Gênesis 15, uma vez que é um fator importante nessa questão.
No capitulo anterior, Abraão por confiar em Deus, recusou as riquezas oferecidas pelo rei de Sodoma. Para que não tivesse alguma dúvida em sua mente sobre ter cometido um erro ao confiar em Deus, Abraão recebe de Deus a garantia de que Ele é a sua proteção (escudo) e provisão (recompensa) (Gênesis 15.1).
Quando Abraão pergunta sobre o herdeiro prometido, Deus afirmou que ele teria um filho (15.6).
Em resposta a fé de Abraão, como evidência real de que ele não tinha confiado em Deus em vão, é dado um sinal de que a promessa será cumprida (15.9-17). Para que a aliança fosse reafirmada a respeito da semente de Abraão e a terra (15.18), foi ordenado por Deus que animais fossem preparado para o sacrífico para que uma aliança de sangue fosse instituída.
Vejamos os pensamentos de Keil e Delitzsch sobre esse ritual:
'' O que precedera correspondia ao costume, dominante em muitas nações antigas, de sacrificar animais ao fazer uma aliança, e depois cortá-los em pedaços, colocar os pedaços em lados opostos um do outro, de modo que as pessoas que participavam da aliança pudessem passar entre eles. Dessa maneira [...] Deus designou-se seguir o costume dos caldeus, para que pudesse, da maneira mais solene, confirmar sua promessa a Abraão, o caldeu [...] fica evidente em Jeremias 34.18 que isso era o costume entre os israelitas de tempos mais recentes.''
Era familiar para Abraão assumir um compromisso dessa maneira. A grande quantidade de animais prescrito por Deus poderia impressionar Abraão pela importância da Aliança, já que um só animal já seria o suficiente para firmar uma aliança.
Tendo preparado o sacrifício, Abraão pode ter esperado Deus andar com Deus entre os animais divididos, era isso que o costume exigisse quando duas partes entrassem numa aliança de sangue, elas deveriam andar juntas entre as partes do sacrifício. Abraão conhecia a solenidade do momento, pois o rito significava os dois estavam entrando na aliança, eram obrigados pelo sangue a cumprir o que estava sendo pactuado, ou que quem a rompesse exigiria o derramamento do seu próprio sangue, assim como o sangue dos animais que os unia tinha sido derramado.
Entretanto, quando chegou o momento da Aliança ser formalizada, Abraão caiu num profundo sono, assim não pôde ser participante da aliança, mas se tornou um simples receptor de um pacto para o qual ele nada contribuiu quanto á obrigação. E novamente Keil e Delitzsch explicam esse texto:
''Da natureza dessa aliança, segue, contudo, que Deus passou sozinho entre os pedaços, numa representação simbólica de si mesmo, e não também de Abrão. Pois, apesar de uma aliança estabelecer relação recíproca entre dois indivíduos, nessa aliança, que Deus celebrou com Abrão, o homem não ficou em pé de igualdade com Deus, mas Deus estabeleceu o relacionamento de comunhão por Sua promessa e por Sua complacência com o homem.´´
Dessa maneira Deus se uni em soleníssima Aliança de sangue com Abraão, para que as promessas fossem cumpridas incondicionalmente, concernentes á semente e á terra que lhe seriam dadas.
Seria difícil para Deus deixar mais claro o que foi prometido a Abraão lhe seria dado sem nenhuma condição, dependendo exclusivamente da integridade do próprio Deus para seu cumprimento.
Retornaremos a esse assunto tratando os argumentos amilenaristas contrários ao caráter incondicional da Aliança Abraâmica.
FONTE: Manual de Escatologia.
AUTOR: J.D. Pentecost.
EDITORA: Vida.
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