ALIANÇA DAVÍDICA - III
COMO A ALIANÇA DAVÍDICA DEVE SER INTERPRETADA
Anteriormente vimos o Caráter desta Aliança, ela é acima de tudo incondicional, assim como as Alianças anteriores. São alianças que tem um caráter escatológico, onde seus cumprimentos se completam na Segunda Vinda de Cristo.
Para uma melhor compreensão dessas Alianças, torna-se necessário uma interpretação adequada das mesmas, sem essa interpretação podemos cair nas ladeiras de um alegorismo infundado que leva o leitor a ficar ainda mais distante do alvo destas Alianças.
Quanto á Aliança Davídica, em particular, Peters levanta a questão do cumprimento literal talvez mais profundamente do que qualquer outro autor. Ele assim argumenta a favor da interpretação literal da aliança:
''Antes de censurar os judeus [...] por crerem que Jesus restauraria literalmente o trono e o reino de Davi, devemos levar em consideração justamente que tinham razão de fazer isso pela própria linguagem da aliança. É incrível que Deus, nas questões mais importantes, que influenciavam os interesses e a alegria do homem e quase tocavam Sua própria veracidade, as revestisse de
palavras que, se não verdadeiras no sentimento aparente e comum, enganariam os consagrados e tementes a Deus de tantas gerações [...]"
Peters fomenta seu argumento nesses seguintes pontos:
1) As palavras e frases na sua aceitação gramatical comum realmente ensinam expressamente a sua crença. Isso não é negado por ninguém, nem mesmo por aqueles que, depois, continuam a espiritualizar a linguagem [...]
2) A aliança é especificamente associada à nação judaica e a nenhuma outra [...]
3) Ela é chamada aliança perpétua, i.e., durará para sempre. Pode, até mesmo, demorar antes de seu cumprimento e até ser temporariamente deixada de lado pela nação, mas deve ser por fim realizada.
4) Ela foi confirmada por juramento (Sl 132.11 e 89.3,4,33), dando assim a segurança mais forte possível de seu cabal cumprimento [...]
5) Para não deixar nenhuma dúvida e tornar a descrença imperdoável, Deus apresenta concisa e veementemente Sua determinação (Sl 89.34):
"Não violarei a minha aliança, nem modificarei o que os meus lábios proferiram".
Seria pura presunção e cegueira se os judeus alterassem a aliança (com a desculpa —atual— de espiritualidade) e se recusassem a aceitar o significado nítido pretendido pelas palavras; e há uma dura
responsabilidade sobre aqueles que, mesmo sob as melhores intenções, propositadamente alterarem as palavras da aliança e a elas adicionarem outro significado.
Peters continua oferecendo uma lista de cerca de 21 razões para crermos que todo o conceito do trono e do reino de Davi deve ser entendido literalmente:
1) Ela é prometida solenemente, confirmada por juramento e, logo, não pode ser alterada nem quebrada.
2) O significado gramatical em si lembra uma aliança.
3) A impressão deixada em Davi, se errônea, lança dúvidas sobre sua condição de profeta.
4) A convicção de Salomão (2Cr 6.14-16) de que a aliança se referia ao trono e ao reino literal.
5) Salomão afirma que a aliança foi cumprida nele mesmo, mas só até o ponto em que também ele, como filho de Davi, se assentou no trono de Davi [...]
6) A linguagem é a normalmente usada para denotar o trono e o reino literal de Davi, como ilustrado em Jeremias 17.25 e 22.4.
7) Os profetas adotam a mesma linguagem, e sua constante reiteração sob a liderança divina é evidência de que o significado gramatical comum é o pretendido.
8) A crença dominante por séculos, uma fé nacional, engendrada pela linguagem sob o ensino de homens inspirados, indica como a linguagem deve ser entendida.
9) Esse trono e esse reino provêm de promessa e herança e, portanto, não se referem à divindade, mas à humanidade de Jesus.
10) Com respeito ao Filho de Davi "segundo a carne", promete-se que ele verdadeiramente virá e, logo, ele deve parecer o Rei Teocrático, conforme prometido.
11) Não temos a menor idéia de que a aliança deva ser interpretada de qualquer outra maneira que não a literal; qualquer outra é resultado de pura dedução [...]
12) Qualquer outra interpretação além da literal implica a mais grosseira autocontradição.
13) A negação de uma aceitação literal da aliança tira do herdeiro Sua herança prometida [...]
14) Nenhuma regra gramatical pode ser formulada para fazer do trono de Davi o trono do Pai no terceiro céu.
15) Se tal tentativa for feita sob a rubrica de "simbólica" ou "típica", então a credibilidade e o significado das alianças são deixados à livre interpretação de homens, e o próprio Davi torna-
se "símbolo" ou "tipo" (criatura que ele é) do Criador.
16) Se o trono de Davi é o trono do Pai no céu (a interpretação comum), então ele sempre existiu.
17) Se tais promessas pactuais forem interpretadas figuradamente, é inconcebível que elas tenham sido dadas na sua forma atual sem nenhuma afirmação direta, em algum lugar, da
sua natureza figurada, prevendo Deus (se não literal) que durante séculos elas seriam preeminentemente calculadas para estimular e criar falsas expectativas, como por exemplo aconteceu desde Davi até Cristo.
18) Deus é fiel nas Suas promessas e não engana ninguém na linguagem de Suas alianças.
19) Não existia nenhuma necessidade de que, se o trono prometido ao Filho de Davi quisesse dizer outra coisa, fosse tão definitivamente prometido na forma dada.
20) O mesmo trono e o mesmo reino derrubados são aqueles restaurados.
21) Mas as razões principais e diretas para aceitar a linguagem literal da aliança [são que] [...] o trono e o reino de Davi [tornam-se] requisito para uma demonstração da ordem teocrática
que Deus já instituiu (mas agora mantém suspensa até os preparativos estarem completos) para restauração e exaltação da nação judaica (que é preservada com esse propósito), para salvação da raça humana (que se acha sob a bênção teocrática) e para domínio de um mundo renovado e livre da maldição [...] Ta trono e tal reino são necessários para preservar a Unidade Divina de Propósito na já proposta linhagem teocrática.
Outros fatores corroboram para uma interpretação literal da Aliança Davídica:
1. As partes da aliança que foram realizadas o foram literalmente.
Como já vimos, o cumprimento parcial determina o método a ser usado nas partes irrealizáveis.
Ryrie argumenta:
''Basta mencionar brevemente que Davi teve um filho, que o trono de Davi foi estabelecido, que o reino de Davi foi estabelecido, que Salomão construiu o templo, que seu trono foi estabelecido e que ele foi punido por desobediência.''
2. Nova evidência é acrescentada pela maneira em que Davi foi levado a entender a aliança.
Vemos que ele não tinha dúvida de que se tratava de uma aliança literal, a ser cumprida literalmente.
Retornamos para Peters:
''Como o próprio Davi entendeu essa aliança? Isso é afirmado melhor na sua própria linguagem. Leia por exemplo o salmo 72, que descreve um Filho infinitamente superior a Salomão; reflita sobre o salmo 132, e depois observe que "Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes se assentaria no
seu trono" (frase que Pedro, em Atos 2.30,31, expressamente atribui a Jesus); considere as numerosas alusões messiânicas nesse e era outros salmos (89,110, 72, 48, 45, 21, 2 etc), assim considerados e citados explicitamente no Novo Testamento por homens inspirados; pondere sobre o fato de que Davi O chama de "meu Senhor", "mais alto que os reis da terra" e atribui a Ele posição, poder, domínio, imortalidade e perpetuidade que nenhum Rei mortal jamais alcançaria, e certamente não estamos errados em acreditar que o próprio Davi, de acordo com o teor da aliança —"o teu reino será firmado para sempre diante de ti"— esperava estar nesse reino do Seu Filho e Senhor tanto para testemunhar
como para experimentar sua bênção...''
Ele contínua:
''O próprio Davi, em suas últimas palavras (2Sm 23.5), enfaticamente diz: "Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura. Não me fará ele prosperar toda a minha salvação e toda a minha esperança?". O profeta Isaías reitera (55.3), denominando-a "uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi". Certamente ninguém pode deixar de ver o que isso denota, como Barnes (Com. loci), "uma aliança imutável e inabalável —aliança que não seria
revogada"—, aliança que não seria ab-rogada, mas perpétua — e "Deus ratificaria essa aliança".''
O argumento prossegue:
''O fato de que o próprio Davi esperava cumprimento literal da promessa é evidente pela linguagem, que segue o estabelecimento da aliança; e nessa previsão literal da promessa Davi retribui agradecimentos a Deus e louvores a Ele por ter escolhido sua casa para honrar, estabelecendo-a assim pelas gerações, para sempre (2Sm 7.8 etc; 1 Cr 17.16 etc). E presunção supor que Davi ofereceria agradecimentos, e também oração, com uma impressão errada da natureza da aliança.''
Por essas razões foi com que Davi foi levado a interpretar literalmente esta Aliança.
3. Há evidência da interpretação literal da aliança a partir da interpretação da aliança pela nação de Israel.
Fez-se referência aos aspectos literais frisados em todos os livros proféticos do Antigo Testamento. Essa
ênfase literal continuou por toda a história judaica.
4. Há evidência da interpretação literal com base nas referências neotestamentárias à aliança feita com Davi.
Walvoord fala sobre o Novo Testamento como um todo, quando escreve:
''O Novo Testamento comporta ao todo 59 referências a Davi. Também tem muitas referências à atividade presente de Cristo. Uma pesquisa neotestamentária revela que não há nenhuma referência ligando a atividade atual de Cristo com o trono de Davi [...] é quase inacreditável que em tantas referências a Davi e em tantas referências à atividade atual de Cristo no trono do Pai não houvesse referência ligando os dois de maneira autorizada.
O Novo Testamento não apresenta nenhum ensinamento positivo de que o trono do Pai no céu deva ser identificado com o trono de Davi. A conclusão clara é que Cristo está sentado no trono do Pai, mas isso de maneira alguma é o mesmo que estar sentado no trono de Davi.''
Daremos continuidade a este assunto da interpretação da Aliança Davídica no próximo artigo, onde trataremos sobre os problemas da interpretação literal.
FONTE: Manual de Escatologia.
AUTOR: J.D.Pentecost.
EDITORA: Vida.
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