ALIANÇA DAVÍDICA - IV

 AS DIFICULDADES COM O CUMPRIMENTO LITERAL DA ALIANÇA


É evidente que temos alguns problemas com a interpretação literal da Aliança Davídica. Neste artigo vamos identificar estes problemas, e oferecer uma tentativa de solução para eles.


I- O PROBLEMA DA RELAÇÃO DE CRISTO COM A ALIANÇA:

O fato de Cristo ser Aquele que cumpre a Aliança, não é o problema, mas quando a aliança é cumprida. Se observa duas respostas para essa questão:


1- Cristo cumpre a promessa pela Sua presente posição e atividade à direita do Pai no céu

2- Cristo cumpre a promessa de Seu retorno e reino justo na terra durante o milênio.

Na primeira situação, Peters subscreve:

'' Nenhum raciocínio falacioso que vise espiritualizar, simbolizar ou tipificar pode transmudar a promessa do trono e do reino de Davi em outra coisa, como, por exemplo, o trono do Pai, a soberania divina, o reino da graça, a dispensação do evangelho etc, pela simples razão de que o mesmo trono e reino, agora derrubado, é aquele que é prometido ao Messias para ser restabelecido por Ele mesmo, como, por exemplo, em Amós 9.11, Atos 15.16, Zacarias 2.12;1.16,17 etc.
A coroa teocrática caída, o trono teocrático derrubado, o reino teocrático deposto, são a coroa, o trono e o reino que o Cristo restaurará. Pertencem a Cristo por "direito" (Ez 31.25-27) e serão "dados a Ele". Também estão ligados à restauração da nação judaica, Jeremias 33.14, Miquéias 4.6,8 etc.

Esses fatos —a existência do trono numa época, sua não-existência por um período, sua restauração, sua conexão na restauração com o povo e a terra que formaram o reino original—,assim como muitos outros que serão levantados, indicam, tão completamente quanto a linguagem pode expressar, que a fé
antiga na linguagem pactuai não pode ser descartada...''

Não outra forma para essa Aliança ser interpretada, se não for literalmente. O fato de Cristo reinar no trono de Davi, na terra e sobre o povo de Davi para sempre, é exigida uma interpretação literal.


II- O PROBLEMA DA RELAÇÃO HISTÓRICA DOS TEMPOS DE DAVI E SALOMÃO:

O fator histórico da época desses dois reis tem constituído um problema para a literalidade da Aliança Davídica, mas para essa questão sugiro a posição de Ryrie:

''A pergunta que deve ser respondida é esta: o cumprimento parcial histórico [.,..] impede um cumprimento literal futuro? As dificuldades principais que a história levanta são três:
1) não houve nenhum desenvolvimento contínuo ou autoridade contínua do reino político de Davi,
2) o cativeiro de Israel e o fim do reino parecem contradizer uma interpretação literal de cumprimento futuro e
3) os séculos que se passaram desde o primeiro advento de Cristo parecem indicar que um cumprimento literal não deve ser esperado... a posição pré-milenarista afirma que o cumprimento histórico parcial não alivia de forma alguma o cumprimento futuro pelas quatro razões seguintes. Primeiro, o profetas do Antigo Testamento esperavam cumprimento literal mesmo durante os períodos de grande apostasia de Israel. Em segundo lugar, a aliança exige interpretação literal que também significa cumprimento futuro. Em terceiro lugar, o Novo Testamento ensina que a forma de mistério presente do reino não
ab-roga de forma alguma o cumprimento literal futuro. Em quarto lugar, as próprias palavras da aliança ensinam que, apesar de Salomão ter sido desobediente, a aliança permaneceria válida, e a descendência de Salomão não teve promessa de perpetuidade. A única característica necessária é que a linhagem não pode ser perdida, não que o trono seja ocupado continuamente.''

A interrupção do Reino não fez com que essa Aliança fosse deixada de lado, enquanto o direto ao trono permanecesse intacto, o reino poderia ser restabelecido, como sugere Walvoord:

''... a linhagem que cumpriria a promessa do trono e do reino eterno sobre Israel foi preservada por Deus mediante uma linhagem que na verdade nem sentou no trono, desde Natã até Cristo. Então não é necessário que a linhagem seja contínua com relação à conduta do reino, mas a linhagem, o direito real e o direito ao trono foram preservados e jamais perdidos, mesmo no pecado, cativeiro e dispersão. Não é necessário, então, que o go- verno político contínuo seja efetivo, mas é necessário que a linhagem não seja perdida.''

O Novo Testamento se apresenta com diversas passagens de uma perspectiva de um cumprimento literal da Aliança Davídica, os escritores neotestamentários entendiam que a interrupção do reino não invalidava a expectativa de uma restauração literal do mesmo.

III- O PROBLEMA DO CUMPRIMENTO DA ALIANÇA AO LONGO DA HISTÓRIA:

Esse é o argumento defendido pelo Amilenarismo, um cumprimento no reinado de Salomão, quando na terra que ele reinou (1 Reis 4.21) cumpre a Aliança Davídica literalmente, e que não se deve esperar um cumprimento futuro. Podemos responder essa questão com as palavras de Ryrie:

No próprio fato de usar esse texto, o amilenarista está admitindo que a aliança foi cumprida literalmente! Por que, então, ele procura cumprimento espiritual pela igreja? No entanto, podemos realçar quatro coisas que não foram cumpridas por Salomão. Não houve posse permanente da terra como prometido a Abraão. Nem toda a terra foi possuída. "Desde o rio do Egito" (Gn 15.18) e "até à fronteira do Egito" (1 Rs 4.21) não são termos geograficamente equivalentes. Salomão não ocupou toda essa terra; simplesmente coletou tributos. Superioridade temporária não é posse eterna. Por último, centenas de anos após a época de Salomão, as Escrituras ainda estão repletas de promessas a respeito da futura posse da terra. Isso deve provar que Deus e Seus profetas perceberam, quer o amilenarista tenha percebido, quer não, que Salomão não havia cumprido a aliança de Abraão.''

Uma vez que tal Aliança não se cumpriu literalmente na história de Israel, a mesma exige um cumprimento literal no futuro, uma vez que ela é de caráter incondicional.

No próximo artigo ''as implicações escatológicas da Aliança Davídica.''

FONTE: Manual de Escatologia,
AUTOR: John D. Pentecost.
EDITORA: Vida.





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