O MILÊNIO - PARTE VII

 CONCEITO DO REINO NO NOVO TESTAMENTO - PARTE III


INTRODUÇÃO:


No artigo anterior falávamos sobre que o Reino Teocrático foi anunciado por Cristo, mas antes o Precursor teve que exercer seu ministério de preparar o coração do povo para a chegada do Messias. O precursor era uma das provas cabíveis de que o Senhor Jesus era o Messias prometido.

O ministério de Jesus limitou-se a Israel, já que primeiro a nação deveria receber a oferta do Reino para que depois a promessa abraâmica se estendesse a ''todas nações da terra''. A mensagem teocrática foi atestada pelos milagres realizados pelo Messias, os milagres foram um reflexo daquilo que seria naturalmente quando o Reino fosse instalado.

Em nosso artigo de hoje iremos nos concentrar na oferta do Reino dada á Israel pelo próprio Rei, como já falamos anteriormente que era necessário que a oferta fosse aceita pra que o Reino fosse inaugurado. A reação judaica quanto ao Reino oferecido tornou-se um fator culminante na missão de Jesus. E assim passaremos analisar esse aspecto tão fundamental para o estudante das profecias bíblicas.

I- A RELAÇÃO DA OFERTA DO REINO COM AS PROFECIAS DO AT:


Um apelo á promessa do Antigo Testamento provou a autenticidade da oferta do Reino. Um plano de ação foi explicado por nosso Senhor quando alguns questionamentos eram levantados, assim Cristo recorria as promessas do Antigo Testamento que demonstravam que Ele cumpria tudo aquilo que o Messias faria em sua Vinda. E isso ocorreu em várias ocasiões quanto ao Seu direito em possuir o Templo e purificá-lo (João 2.17; Salmos 69), em Sua primeira aparição pública na sinagoga, declarando a obra do Messias (Lucas 4.16-19; Isaias 61.1). O próprio precursor que O precedeu, como foi visto no artigo anterior, é outra questão que prova Sua messiânidade (Lucas 7.27; Malaquias 3.1).

Temos ainda o fato de que Ele foi qualificado pessoalmente provocou uma exposição da promessa messiânica (Lucas 20.41-44). Voltando a purificação do templo, podemos observar que o ato é justificado quando recorremos á promessa messiânica (Mateus 21.13; Isaias 56.7).

Ao ressuscitar dentre os mortos, Jesus demonstrou claramente Sua relação com os profetas do Antigo Testamento (Lucas 24.25-27). Isso seria suficiente para mostrar que Cristo constantemente recorria as promessas do Reino Teocrático para explicar Suas ações.

II- A RELAÇÃO ENTRE CRISTO E A OFERTA DO REINO:


O próprio Rei ofereceu o Reino em Sua pessoa: ''o reino de Deus está dentro de vós'' (Lucas 17.21). Devemos entender que tal afirmação não traz uma idéia de uma espiritualização do Reino, como um reino espiritual no coração dos homens. Tal pensamento entra em contradição com a própria Escritura em todo o seu teor. Tal afirmação deve ser entendida que Cristo estava afirmando que o Reino que a nação esperava já estava ''próximo'' na própria pessoa do Rei. Como rei legitimo que estava presente, era somente necessário o arrependimento de Israel e a aceitação de Jesus como o Messias Teocrático.

III- A INCERTEZA DA OFERTA:


Alguns fatores foram necessários em relação á oferta do Reino. A reação de Israel era muito bem conhecida por Deus, mas o Reino Teocrático dependia da reação do povo que envolvia o arrependimento, a aceitação de João Batista como o precursor prometido e da própria aceitação de Cristo como o Messias prometido. Quanto a esse ponto McClain fala:

''Mais de um expositor já tropeçou na afirmação de Cristo: ''Não fui enviado senão ás ovelhas perdidas da casa de Israel''. A única explicação satisfatória é perceber, como nosso Senhor claramente percebia, a natureza incerta de Sua mensagem do reino. Para resumir em uma palavra. O estabelecimento imediato e completo do Seu reino dependia a atitude da nação de Israel, á qual pertenciam a promessas e as alianças divinas [...]
O fato de que nosso Senhor entendia claramente a natureza incerta do Seu reino fica claro a partir da Sua avaliação de João Batista e de sua carreira meteórica. Todo judeu inteligente sabia que a palavra final do último profeta do Antigo Testamento previa o aparecimento de Elias como o precursor do reino. E Jesus declara, em Mateus 11, com relação a João: ''Se quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir''. Ainda mais tarde, quando acontecimentos históricos comprovaram a certeza de Sua rejeição e morte nas mãos da nação judaica, nosso Senhor refere-se mais uma vez a João, mas agora a sorte foi lançada. ''Elias virá e restaurará todas as coisas'', Ele assegura aos discípulos, mas acrescenta: ''Eu, porém, vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram''. Não hesito em afirmar que temos aqui a chave de um problema mais complexos da escatologia do Novo Testamento em relação ao reino: O estabelecimento imediato do reino mediatório na terra dependia da atitude de Israel.''

O que podemos perceber que ambos os Testamentos é que as bênçãos do Reino Teocrático dependiam do arrependimento individual e da aceitação de um novo coração da parte do Messias. Ainda na administração Teocrática do Antigo Testamento o incrédulo e o impuro estavam impedidos de participar com aqueles que criam e estavam preparados. Podemos ver claramente no sermão de Pedro quando conclamava o povo ao arrependimento em Atos 2.38 e 3.19.

IV- A LEGITIMIDADE DA OFERTA:


Esse ponto é um daqueles que dividem dispensacionalistas e não dispensacionalistas, se o Reino oferecido por Jesus era legítimo ou não. Não aceitar a legitimidade da Oferta é como fosse um escárnio que Deus apresentasse o Reino Teocrático se a mesma não fosse uma oferta genuína. Quanto a isso Peters apresenta:

''Esse reino foi oferecido á nação de boa fé, i.e, ele seria concedido contanto que a nação se arrependesse. O resulto previsto não fazia diferença ao seu teor, considerando-se a livre agência da nação; esse resultado fluiu de uma escolha voluntária. A descrença nacional não mudou a fidelidade de Deus; Romanos 3.3. Seria pejorativo para a missão de Cristo olhá-la por qualquer outro ângulo, e a sinceridade e o desejo de Jesus de que a nação aceitasse são testemunhados em Suas lágrimas sobre Jerusalém, em Seu discurso á cidade, em Seu esforço incessante, no envio dos doze e dos setenta e em Seus atos de misericórdia e amor. Segue-se, então, que aos judeus foi concedido o privilégio de aceitar o reino, e, se eles tivessem concordado com a condição anexada, então o reino de Davi teria sido gloriosamente restabelecido sob o Messias."

Muitos entendem que a Oferta legítima de um reino na primeira Vinda minimizaria a Cruz, não tendo espaço para o plano Redentor de Deus. Respondemos a essa questão, dizendo que a Oferta e a Rejeição do Reino Teocrático eram o Plano pelo qual o Propósito eterno foi realmente cumprido. A rejeição á Oferta do Reino Teocrático foi que realizou o propósito divino da Salvação. Recorremos novamente a Peters em sua observação:

''A pergunta ''Como então a expiação seria feita pelo derramamento de sangue?'' nada tem que ver com a sinceridade dessa oferta, pois ''a sabedoria multiforme de Deus'' seria igual á emergência, quer antecipando para algum outro período, que fazendo previamente alguma provisão para que ela se cumprisse, quer ainda de algum outro modo desconhecido para nós. Como aconteceu, os propósitos de Deus, Seu conselho determinado, foram moldados por uma escolha voluntária prevista da nação. A misericórdia de Deus estava disposta a dar, mas o pecado da nação impediu a dádiva. O fato de que o reino seria estabelecido se a nação tivesse crido é evidente com base em Deuteronômio 32.2; 2 Crônicas 7.12-22; Isaías 48.18; Salmos 81.8-16 etc.
[...] O argumento de Paulo em Romanos baseia-se na suposição de que a nação tinha o poder de escolha, e de que ela escolheu voluntariamente o mal, e de que Deus por misericórdia substituiu sua destruição pela salvação dos gentios. Eles tropeçaram e caíram, não por necessidade, e não porque o Propósito de Deus exigisse isso, mas somente por causa de sua própria incredulidade; e o plano de Deus, o Onisciente, tomou essa rejeição como resultado previsto e fez para ela provisão equivalente.''

Esse princípio de que Deus faz uma oferta genuína, embora havendo uma previsão que ela seria rejeitada é visto nas Escrituras. Esse ponto foi demonstrado por Chafer:

''Os acontecimentos de Cades-Barnéia foram um tipo dessa primeira oferta. Lá, essa mesma nação, que já havia experimentado os desconfortos do deserto, teve a oportunidade de entrar imediatamente na terra prometida. Assim, livres para escolher, eles deixaram de entrar e retornaram a mais quarenta anos de peregrinação pelo deserto e a mais julgamentos.
Eles poderiam ter entrado com a benção. Deus sabia que eles não iriam; mas mesmo assim foi pela própria escolha deles que a benção foi adiada. Mais tarde foram levados novamente á terra após julgamentos e aflições do deserto. Dessa vez, porém, não há referência á sua própria escolha.''

Para aqueles que não enxergam a legitimidade argumentam que o Antigo Testamento fez previsão dos sofrimentos de Jesus antes da glória que se seguiria. Dizem que a Morte deveria vir primeiro necessariamente, e por isso não pode haver nenhuma oferta genuína do reino. Não podemos esquecer que quando os profetas falavam sobre esses acontecimentos, eles os viam á luz dessa rejeição, na verdadeira ordem que se viam e que se deram, e não na ordem da dependência da rejeição dos judeus. Tal ordem não viola a legitimidade da Oferta, mas mostra que a rejeição dela foi o meio determinado para que realizasse aquilo que Deus desejasse.

Ainda sobre aqueles que não vêem uma oferta legitima do Reino, há afirmação de que nem o Senhor, e nem João Batista ofereceram um reino terreno a Israel, mas um ''reino espiritual''. Isso é desprezar totalmente a natureza do ''reino'' pregado por João, pelo Senhor e pelos discípulos. Concluímos esse artigo como já foi demonstrado que eles pregaram o mesmo Reino prometido á Nação que a mesma esperava do Antigo Testamento, sem nenhuma mudança no conceito do Mesmo.

A partir do próximo artigo iremos dedicar nossa atenção ao Livro de Mateus.

FONTE: Manual de Escatologia.
AUTOR: John Dwight Pentecost.
EDITORA: Vida.


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