A SEGUNDA VINDA DE CRISTO - PARTE V
A HISTÓRIA DA DOUTRINA DO SEGUNDO ADVENTO - PARTE VI
INTRODUÇÃO:
A Reforma Protestante focou nas questões soteriológicas, ao passo que na escatologia os reformadores, em sua maioria seguiu o amilenarismo de Agostinho. Para voltar as doutrinas fundamentais houve a necessidade da volta ao método literal de interpretação, o pré-milenarismo antigo se valia desse método, e o método alegórico fez com que ele fosse abandonado. Os reformadores ao adotarem novamente o método abriu o caminho para o retorno ao pré-milenarismo.
Surgiu no período pós-Reforma outra corrente quiliástica, o pós-milenarismo que suplantou o amilenarismo agostiniano na igreja protestante, ao passo que o catolicismo romano continuava com o método e sistema de Agostinho. Mas por não se sustentar e por se fundamentar no método figurado de interpretação, o sistema deixou de ser relevante a partir da Segunda Guerra Mundial.
No artigo atual daremos uma atenção a recente ascensão ao amilenarismo e o ressurgimento do pré-milenarismo.
I- O RENASCIMENTO DO AMILENARISMO E SUA ASCENSÃO:
Nas últimas décadas vem crescendo a popularidade na crença ao amilenarismo, isso se deu um pouco ao colapso do pós-milenarismo, esse assunto discutimos no artigo anterior. A maioria dos teólogos seguia a posição pós-milenarista, e por seguir o método alegórico de interpretação, vendo o Milênio como uma era entre as duas Vindas de Cristo, antecedendo a Segunda Vinda, como se via no pós-milenarismo, tornou-se viável para um pós-milenarista se tornar um amilenarista.
Hoje o amilenarismo está dividido em duas vertentes:
1)Allis e Berkhof fazem parte da primeira, essa está apegada ao amilenarismo agostiniano, embora reconheça necessidade de aprimoramentos. Sendo essa a mesma posição da igreja romana. Essa vertente tem todos os cumprimentos das promessas do Antigo Testamento em relação ao Reino e as bênçãos do Governo de Cristo no trono do Pai, que está na terra.
2) A outra vertente tem como defensores Duesterdieck e Klieof, sendo promovido nos Estados Unidos por Warfield. Ele ataca a posição de Agostinho de que o Reino seja terrestre, mas vê o Reino como o Governo de Deus sobre os santos que estão nos céus, assim o reinado se torna celestial.
Esse ponto de vista foi resumido por Walvoord:
''Um novo tipo de amilenarismo, surgiu, contudo, do qual Warfield pode ser tomado como exemplo. Esse tipo totalmente novo de amilenarismo. Allis atribuiu a origem desse ponto de vista a Duesterdieck (1859) e Klieof (1874) e o analisa como inversão da teoria agostiniana básica de que Apocalipse 20 era a recapitulação da era da igreja. Essa nova questão, ao contrário, segue a linha de ensinamento de que o milênio é distinto da era da igreja, apesar de anteceder a segunda vinda. Para resolver o problema da correlação dessa interpretação como duros fatos de um mundo incrédulo e pecador, eles interpretaram o milênio não como o retrato de um período, mas como um estado de bênção dos santos no céu. Warfield, com ajuda de Klieof, define o milênio com estas palavras: ''A visão, em uma palavra, é uma visão de paz daqueles que morreram no Senhor; e essa mensagem é transmitida nas palavras de 14.13:
'Bem- aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor' - passagem da qual aquela que analisamos é certamente apenas uma expansão. O quadro que nos é apresentado aqui é do 'estado intermediário'- dos santos de Deus reunidos no céu longe do ruído confuso e das vestes cobertas de sangue que caracterizam a guerra na terra, a fim de que eles possam aguardar seu fim seguramente.''
O que poderia levar os motivos para atual popularidade do sistema amilenarista:
1) Tornar-se um abrangente, incluindo todas as camadas do pensamento teológico: o protestantismo liberal, e o protestantismo conservador e o católico romano.
2) Menos o pré-milenarismo, o amilenarismo é a posição quiliástica mais antiga, dando assim a ela sua marca de antiguidade.
3) Recebe o selo da ortodoxia, sendo o sistema adotado pelos reformadores, tornando-se assim o fundamento de muitas confissões de fé.
4) Tem conformidade com o eclesiasticismo moderno dando ênfase na igreja visível , que para o amilenarismo, é o centro de todo o plano divino.
5) Tem um sistema escatológico simples, com apenas uma ressurreição e um julgamento, e muito pouco num plano profético futurístico.
6) Se ajusta prontamente ás pressuposições teológicas da chamada ''teologia pactual''.
7) Atrai a muitos com sua interpretação ''espiritual'' das Escrituras no lugar de uma interpretação literal, essa foi tratada como carnal do milênio.
Mas tal interpretação pode destacar sete perigos:
1) [...] Quando se usa o método espiritualizado das Escrituras, eles as estão interpretando por um método que é extremamente destrutivo para a doutrina cristã, se não limitasse a escatologia.
2) Não segue o mesmo método em relação á profecia em geral, mas somente quando é necessário para negar o pré-milenarismo.
3) Procuram justificar o método como um meio de eliminar os problemas nos cumprimentos proféticos- assim o método nasce de uma necessidade supostamente, e não de um resultado de um trabalho exegético.
4) Não hesitam usar o método em outras áreas além da profecia, caso haja necessidade em manter o seu sistema doutrinário.
5) O modernismo atual é quase todo amilenarista, a história prova que esse princípio de interpretação se espalha com facilidade para todas as áreas básicas da verdade teológica [...]
6) O método não tem uma base sólida para coerência teológica. O método hermenêutico do amilenarismo tem justificado igualmente o calvinismo conservador, o modernismo liberal e a teologia romana.
7) Esse método não surgiu historicamente do estudo das Escrituras, mas devido á sua negligência em relação á elas.
O amilenarismo tem o sistema aguçado em três grandes partes da doutrina:
1) Na soteriologia, o amilenarismo se torna culpado do erro na redução comum á teologia pactual, onde um ponto menor é transformado no ponto principal de um plano, e assim vê todo o plano de Deus como um plano de redenção, de modo de que todas as eras são variações na revelação progressiva da aliança da redenção.
2) Na eclesiologia, o amilenarismo vê todos os santos de todos os tempos como membros da Igreja. Deixando escapar as distinções dos planos de Deus para Israel e para a Igreja, exigindo a negação do ensinamento bíblico de que a Igreja é um mistério, não revelado até a presente Era. O amilenarismo vê o cumprimento de todo o plano divino na Igreja, no tempo entre os dois Adventos, ou nos santos que estão nos céus. Não tendo o conceito sobre a distinção da Igreja como Corpo de Cristo, mas a enxerga como uma organização. Tornando assim uma das diferenças básicas entre o amilenarismo e o pré-milenarismo.
3) Na escatologia, o amilenarismo rejeita universalmente o pré-milenarismo, não tendo muito acordo entre seus ramos. O amilenarismo liberal nega a doutrina da ressurreição como do juízo e da Segunda Vinda, e do castigo eterno e dos demais assuntos.
O amilenarismo romano desenvolveu o purgatório, do limbo e de outras doutrinas antibíblicas como parte de seu sistema. Já o amilenarismo conservador mantem as doutrinas literais da ressurreição, do juízo, do castigo eterno e dos outros temas relacionados.
Tornar-se difícil portanto, sistematizar a escatologia amilenarista. Nesse campo, todavia, visto que se percebem as maiores divergências em relação ao pré-milenarismo e a uma posição bíblica.
II- O RESSURGIMENTO DO PRÉ-MILENARISMO:
Sabemos que os reformadores não adotaram a interpretação pré-milenarista das Escrituras, mas retornaram ao método literal, do qual o pré-milenarismo repousa como base. Isso fez com que muitos dos escritores pós-reforma a essa posição. Como foi bem observado por Peters:
''...estamos endividados para com umas poucas mentes destacadas por terem causado o retorno da fé patrística em todas as suas formas essenciais. Entre eles, os seguintes se destacam: o profundo estudioso bíblico Joseph Mede (1586-1638), na sua ainda celebrada obra Clavis apocalyptica (traduzida para o inglês) e Exposition on Peter; Theodore Brightman (1644), Exposition of Daniel and Apocalyptica.; J. A. Bengel (teólogo de vasto saber, 1687-1752), Exposition of the Apocalypse e Anddresses; também os escritos de Theodore Goodwin (1679); Charles Daubuz (1730); Piscator (1646); M.F. Roos (1770); Hartley (1764); J.J. Hess (1774); Homes (1654); Jureu (1686); Maton (1642); Peterson (1692); Sherwin (1665) e outros (como Conrade, Gallus, Brahe, Kett, Broughton, Marten, sir Isac Newton, Whiston etc...).''
Esses homens influenciaram uma corrente de exegetas e expositores que recuperaram a notoriedade do pré-milenarismo quanto a interpretação bíblica. Neste número encontramos grandes exegetas e expositores que foram reconhecidos pela Igreja, citamos: Bengel, Steir, Alford, Lange, Myer, Fausset, Keach, Bonar, Ryle, Lillie, Maclntosh, Newton, Tregelles, Ellicott, Lighfoot, Westcoot, Darby, somente alguns. Alford, a respeito dos interprete do Apocalipse desde a Revolução Francesa tornou-se pertinente, falou: ''A maioria, tanto em número, quanto em perícia e pesquisa, adota o advento pré-milenarista, seguindo o sentimento simples e inegável do texto sagrado.''
Allis fala corretamente:
''O ensino dispensacionalista de hoje, como é representado, por exemplo, pela Bíblia de Scofield, pode ser remetido diretamente ao Movimento dos Irmãos, que surgiu na Inglaterra e na Irlanda em 1830. Seus adeptos são conhecidos como os Irmãos de Plymouth, porque Plymouth foi mais forte dos antigos centros das assembleias dos Irmãos. Também é chamada de darbyismo, graças a John Nelson Darby (1800-82), seu representante mais notável.''
Darby e seus seguidores com seus estudos bíblicos popularizaram a interpretação pré-milenarista das Escrituras. Isso foi disseminado no crescente movimento de conferências bíblicas, na propagação de institutos bíblicos, nos muitos periódicos dedicados ao estudo da Bíblia, e está intimamente associada a todo movimento teológico conservador nos Estados Unidos, hoje.
Podemos perceber historicamente, por meio de pesquisa que a interpretação pré-milenarista, unanimemente defendida pela Igreja Primitiva, sendo depois suplantada pelo método de alegorização de Orígenes e pelo amilenarismo de Agostinho, que tornou o ponto de vista da igreja romana e chegou dominar até a Reforma protestante, por ocasião da qual veio o retorno ao método literal de interpretação pré-milenarista. Sendo desafiada pelo pós-milenarismo que tomou forma depois de Whitby e continuou presente até seu declínio depois da Primeira Guerra Mundial. Isso levou a ascensão ao amilenarismo, que vem competindo com o pré-milenarismo como método de interpretação da questão do Milênio.
No próximo artigo iremos encerrar o assunto sobre a historicidade da doutrina da Segunda Vinda trazendo a Importância da Doutrina do Segundo Advento.
FONTE: Manual de Escatologia.
AUTOR: Pentecost
EDITORA: Vida.
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