O MILÊNIO - PARTE I
O CONCEITO DE REINO NO ANTIGO TESTAMENTO - PARTE I
INTRODUÇÃO:
Nossa Série entra numa nova área dos estudos escatológicos, as profecias relacionadas ao Milênio ou do Reino de Cristo. Depois que apresentamos as linhas de interpretações dentro de suas respectivas visões escatológicas, seguimos uma cronologia em nossos estudos, cronologia aceita pela visão dispensacionalista com o Arrebatamento da Igreja antes de iniciar o período Tribulacional. Os estudos dentro do tema a Grande Tribulação apontaram para os acontecimentos que estão previstos para esse tempo. Na seção dos estudos da Segunda Vinda, o retorno Pessoal de Cristo na terra, esteve em pauta anteriormente. Para facilitar ao leitor (a) dispomos de marcadores na pagina onde estão os artigos divididos em suas respectivas categorias. E no final de cada artigo deixamos também o que será tratado num próximo. Todos os artigos estão datados para facilitar ainda mais a leitura.
I- O CONCEITO HUMANO SOBRE O REINO:
Quando se fala sobre o Reino devemos entender que o plano divino tem um grande espaço ocupado nas Escrituras. Porém, apesar de tudo o que a Bíblia diz sobre o assunto, quando se estuda, se depara com grande variedade de interpretação e de explicações quanto á sua natureza e ao propósito divinos para o Reino.
Dentro desse dilema alguns enxergam-no como sinônimo do estado eterno, ou do lar celestial que alguém chega após a morte, não existindo de modo algum nenhuma relação com a terra. Já outros vêm o Reino como imaterial ou ''espiritual'' no qual Deus reina sobre os corações dos homens, desta forma, ao mesmo tempo está em relação com a Era presente, mas não tem relação com a terra. Em outras instâncias, o Reino é visto por alguns como simplesmente terreno, sem alguma realidade espiritual vinculada, uma estrutura política e social a ser alcançada pelos esforços humanos; nesse caso, o Reino se torna o alvo de uma evolução socioeconômica na direção onde os homens marcham. Temos ainda aqueles que vêm o Reino como um movimento nacionalista por parte de Israel que tenta reconstruir a nação como independente no campo político.
Outros enxergam como sinônimo da Igreja organizada visível, de modo que ela se transforma no Reino, com atribuições a ele ao mesmo tempo espiritual e político.
Não podemos esquecer daqueles que enxergam o Reino como a manifestação, no âmbito terreno, da soberania universal de Deus, por meio da qual Ele governa os negócios humanos; já nesse conceito, o Reino é concebido como espiritual e material.
Podemos observar que existe um labirinto de interpretações, sendo quase impossível encontrar o caminho certo. Mas, as verdades relacionadas ao Reino só se poderão serem encontradas com exatidão com o estudo indutivo do ensino das Escrituras, e não dos escritos humanos.
II- O CONCEITO ETERNO DO REINO:
Vamos começar com o conceito eterno do Reino já que nas Escrituras parece haver uma contradição na linha de revelação ao reino sobre o qual Deus governa. O Reino é visto como eterno por um lado e por outro lado como temporal, com um início, em desenvolvimento com um fim histórico. Sendo ainda local e universal, tendo a administração direta da soberania divina, e ainda uma administração indireta por meios de soberanos divinamente escolhidos. Por isso, torna-se necessário reconhecer que o Reino onde Deus governa tem dois aspectos distintos, o eterno e o temporal, o universal e o local, o imediato e o mediado. Vejamos agora os aspectos distintos do Reino:
A) Atemporal. Temos passagens que demonstram a proposição de que Deus sempre possuiu a soberania absoluta e governa como rei (Salmos 10.16; 29.10; 74.12; Jeremias 10.10; Lamentações 5.19).
Deus não pode ser chamado de Rei corretamente sem uma soberania reconhecida e um reino onde essa soberania fosse exercida.
B) Universal. Temos também nas Escrituras referências á abrangência ilimitada da soberania divina (1 Crônicas 29.11,12; Salmos 103,19; Daniel 4.17,25,32).
Tal soberania é exercida tanto sobre o céu quanto sobre a terra.
C) Providencial. Temos nas Escrituras o fato de que embora Deus exerça autoridade absoluta, tal soberania pode também ser desempenhada por intermédio de indivíduos como causas secundárias (Provérbios 21.1; Isaías 10.5,6; Jeremias 25.8-12; 27.4-8; 51.11-24,27; Isaías 44.24-45.7; Esdras 1.1).
Deus age soberanamente por meio de homens, alguns dos quais reconhecem esse fato e ainda outros não; no entanto, a vontade de Deus é executada. Isso não só vale no âmbito da humanidade, mas também na natureza. O salmista afirma: ''Fogo e saraiva, neve e vapor e ventos procelosos que lhe executam a palavra'' (Salmos 148.8).
D) Milagroso. Temos ocasiões em que a soberania divina é manifestada diretamente nos assuntos humanos mediante os milagres (Êxodo 7.3-5).
Toda questão dos milagres é apenas uma discussão de um Soberano infinito ter ou não ter poder e o direito de intervir e demonstrar o Seu poder dentro do Reino sobre o qual Ele governa.
III- O USO DA PALAVRA REINO:
O uso da palavra foi bem apresentada por Ladd quando escreveu:
''O significado básico da palavra neotestamentária traduzida por reino, basileia, é ''reinado'' e não ''reino'' ou ''povo''. Recentemente críticos atribuíram grande atenção ao assunto, existe um acordo praticamente unânime de que ''poder real, autoridade'' é mais básico ao sentido de basileia do que ''reino'' ou ''povo''. No uso linguístico geral, deve-se observar que a palavra basileia, que geralmente traduzimos por domínio, reino, designa antes a existência, o caráter, a posição do rei.''
Uma vez que ela é relativa a um rei, devemos, portanto, falar sobre sua majestade, sua autoridade.
São encontradas no Novo Testamento várias ilustrações desse significado abstrato de basileia. Na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, o povo pensou que o reino de Deus apareceria imediatamente. Jesus conto-lhes uma parábola sobre um nobre que viajou para um país distante para receber uma basileia e depois voltar. Seus súditos o odiavam e enviaram um embaixador para dizer-lhe que o não queriam como rei. Ao retornar, o nobre recebeu a sua basileia, imediatamente exerceu essa nova autoridade real que havia recebido sobre seus súditos recompensando os fieis e punido os rebeldes. Podemos ver que aqui, basileia claramente não é nem o reino e nem os súditos, mas a autoridade para reinar como rei no território que lhe fora dado sobre seu povo (Lucas 19.11-27).
De acordo com esse conceito, esse reino eterno deve ser o governo e a soberania real de Deus sobre ''todas as inteligências no céu e na terra que estão voluntariamente sujeitas a Deus'' no exercício da Sua Soberania.
IV- O REINO UNIVERSAL DESAFIADO:
Esse desafio original ao direito da soberania eterna de Deus está registrado em Ezequiel 28.11-19 e Isaías 14.12-17, nas palavras de Chefer temos:
''... afirma-se nessa passagem que o pecado de Lúcifer consiste em cinco afirmações terríveis contra a vontade de Deus [...] As cinco afirmações de satanás são evidentemente vários aspectos de um pecado. [...] São elas: 1. ''Eu subirei ao céu''. Aqui, o primeiro aspecto do pecado de satanás, ele aparentemente propôs fixar residência no terceiro ou mais alto céu onde Deus e seus redimidos residem (2Co 12.1-4) [..] Satanás não tem direito, quer por posição, quer por redenção, de tomar posse daquela esfera como local de sua residência. Sua intenção cobiçosa, demonstrada nessa declaração, é um insulto ao plano e propósito do criador. 2. ''Acima das estrelas exaltarei o meu trono''. Por essa afirmação revela-se que satanás, embora designada para a guarda do trono de Deus, desejou a posso de um trono próprio e quis governar acima das ''estrelas de Deus''. Os seres angelicais... estão obviamente em vista... Fica claro o caráter pecaminoso do propósito de satanás em assegurar um trono. 3. ''No monte da congregação me assentarei, nas extremidade do Norte''. ''O monte'' evidentemente se refere ao trono do governo divino na terra (Isaías 2.1-4), e a ''congregação'' é claramente uma referência a Israel. Logo, essa suposição especifica parece dirigir-se pelo menos a uma participação no governo messiânico sobre a terra [...] 4. ''Subirei acima das mais altas nuvens''. Das mais 150 referências bíblicas a nuvens, um total de cem está relacionado á presença e á glória divina [...] Satanás evidentemente busca assegurar para si um pouco da glória que pertence exclusivamente a Deus. 5. ''Serei semelhante ao Altíssimo''. Essa [...] pode ser considerada uma chave para compreender delinear seus propósitos e métodos. Apesar de uma impressão quase universal de que o ideal de satanás para si é ser diferente de Deus, ele aparece aqui como alguém cuja motivação é ser igual a Jeová, o Eterno, que nenhum ser criado poderia ser; mas ser igual ao Altíssimo, cujo o título significa o ''possuidor do céu e da terra'' (Gn 14.19,22). O propósito de satanás, então, é conquistar autoridade sobre o céu e a terra.''
Com um estudo cuidadoso dessas observações nos levarão á conclusão de cada fase do pecado original de satanás foi um ato de rebelião contra a autoridade constituída de Deus, motivado pelo desejo cobiçoso de apropriar-se daquela mesma soberania. Devido a esse pecado, que resultou em sua queda, um reino sobre o qual satanás governa foi formado em oposição ao reino sobre o qual Deus governa. Satanás é retratado como o ''deus deste século (2 Coríntios 2.4), o ''príncipe das potestades do ar'' (Efésios 2.2), e o ''possuidor dos reinos do mundo'', pois lemos em Mateus 4.8.9.
Veja que como é significativo que Cristo não tivesse desafiado o direito de satanás de Lhe ofertar os reinos do mundo. Ele reconheceu como reinos de satanás, e então ele tinha o direito de fazer com eles o que quisesse.
Em vista de tal ato que desafiou o direito de Deus de governar no Seu reino, Deus permitiu um plano, antes da fundação do mundo, para manifestar Sua soberania diante de todas suas inteligências criadas. O Senhor pode dizer aos convidados que participem das bênçãos milenares: ''Vinde benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do reino''. (Mateus 25.34). Esse reino, que conduz ao reino eterno (1 Coríntios 15.24), sendo visto como parte do designo de Deus. E a terra, que é o centro da autoridade satânica e o cenário desse reino, tornar-se o lugar escolhido por Deus para fazer essa mesma demonstração. Sobre isso temos Miller declarando:
''Embora fiquemos infinitamente surpreendidos com a imensa imensidão da criação ou dos confins do reino de Deus, nossa surpresa se transforma em assombro quando percebemos que a terra, um dos menores corpos celestiais, é destinada a ser o palco da demonstração das poderosas obras de Deus. É aqui que Ele escolheu revelar as riquezas da Sua graça aos limites finais do Seu reino universal.''
Esse plano divino onde Deus demonstra Sua soberania e manifesta o Seu poder universalmente pode ser chamado também de plano do reino teocrático.
''A instituição da teocracia com as exigências de que ela reivindica para si, e a aprovação que lhe é dada pelo próprio Deus, marca não só o fato de ser desejável, mas de que o propósito de Deus é estabelecer definitivamente Sua supremacia.''
Próximo artigo iremos abordar o Reino Teocrático.
FONTE: Manual de Escatologia
AUTOR: John Dwight Pentecost
EDITORA: Vida
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