O MILÊNIO - PARTE III

 O CONCEITO DO REINO NO ANTIGO TESTAMENTO - PARTE III


INTRODUÇÃO:


Já sabemos que o sistema do Reino de Deus é teocrático com a regência do homem. Essa regência foi manchada pelo pecado, e como consequência, surgiu um reino paralelo e oposto ao Reino Celestial. Agora, o Reino está sendo resgatado pela Redenção e por meio de Jesus Cristo, a regência dada ao homem será totalmente restaurada.

Em todo o Antigo Testamento desde o  Éden o sistema teocrático tem sido revelado com suas fases em cada período, sendo administrado pela descendência de Sete, logo após a Queda. Depois do dilúvio, o Reino passou a ser administrado pelo governo humano sendo rejeitado por Ninrode em Babel. Mas a forma teocrática segue em suas novas fases, como veremos a seguir:

I- A TEOCRACIA DO REINO NA ERA PATRIARCAL:


A partir do chamado de Abraão Deus escolhe um homem pelo qual os demais seriam abençoados. Com um propósito centralizado em determinadas promessas relacionadas á uma terra, com um descendência, e uma benção constituída em teor de uma eterna aliança que é incondicional. E todo esse plano está concentrado em Alguém que será o Rei conforme a profecia de Jacó em Gênesis 49.10. As palavras de Feinberg elucidam dessa forma:

''No seu leito de morte a visão de um profeta é dada ao velho patriarca Jacó, e ele prevê o destino de seus filhos. A benção sobre Judá e a profecia relativa a eles são de interesse especial para o nosso estudo. Ela destaca a tribo de Judá na descendência prometida e acrescenta outro elemento muito importante do Reino - o rei. Os doze filhos do patriarca ouvem que o cetro, o emblema da autoridade real, não sairá de Judá, tão pouco alguém que faça decretos, até que venha Siló, a quem obedecerão os povos. Muitos crêem que Siló se refere a Ezequiel 21.27, em que o profeta exclama: ''Ruína! Ruína! A ruína reduzirei, e ela já não será, até que venha aquele a quem ela pertence de direito; a ele a darei'' [...] Outros acham que Siló se refere ao homem de paz e descanso [...] Em qualquer dos casos, a maioria dos estudiosos ortodoxos e reverentes da Palavra consideram essa passagem uma menção direta ao Messias que surgirá da linhagem de Judá. O alcance do Seu controle é revelado: ''e a ele obedecerão os povos (nações)''. O caráter pacífico do Seu reino e os muitos que nele estarão presentes são previstos [...] Finalmente, a beleza superior do Rei também é mencionada em linguagem figurada''.

Outra referência sobre o cumprimento desse plano teocrático se encontra em Números 24.17-19, no qual está prometido que de ''Israel subirá um cetro''. O ''cetro'' é Aquele a quem reside a autoridade, que destruirá Seus inimigos e levará Israel á preeminência.

Na era dos patriarcas, a teocracia do Reino foi administrada através dos representantes divinamente escolhidos. Deus disse a Moisés, sobre o seu relacionamento com Arão, ''e tu lhe serás por Deus'' (Êxodo 4.16) e sobre o relacionamento com Faraó, ''te constitui como Deus sobre Faraó'' (Êxodo 7.1) ao ser escolhido como representante da Teocracia. Devido a posição de Moisés no Reino teocrático que Deus podia falar sobre o Rei futuro: ''Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti'' (Deuteronômio 18.18). Assim, Moisés liderou o povo de Israel no deserto. A abrangência do pecado reiterado pelas murmurações do povo, apareceu contra Moisés, eles murmuraram contra o representante que Deus tinha escolhido na administração do Reino. Como julgamento, as serpentes venenosas foram enviadas por Deus porque o povo falara ''contra Deus e contra Moisés'' (Números 21.5). Foi somente depois da confissão de que eles tinham pecado, ''porque temos falado contra o Senhor e contra ti'' (Números 21.7), o alívio foi providenciado. 

Josué foi o último líder desse período a liderar o povo na administração divina (Josué 1.2-9), foi quando o povo sujeita-se á autoridade divina (Josué 24.14-18).

II- A TEOCRACIA DO REINO NA ERA DOS JUÍZES:


Com aceitação do senhorio do Senhor sobre Israel, uma nova administração da Teocracia foi implementada em uma nova fase. Essa administração foi por meio dos juízes (Juízes 2.16,18; Atos 13.20). Gideão claramente afirmou:

''Então, os homens de Israel disseram a Gideão: Domina sobre nós, tanto tu como teu filho, e o filho de teu filho; porque nos livraste do poder dos midianitas. Porém Gideão lhes disse: Não dominarei sobre vós, nem tampouco meu filho dominará sobre vós; o Senhor vos dominará'' (Juízes 8.22,23).

Gideão recusa esse lugar absoluto de autoridade que pertence a Deus. Com a experiência que Samuel teve com o Senhor em 1 Samuel 3.1-18, revela que Deus administra de forma ativa os interesses de Israel através da administração humana. Sendo aceito por Israel, Samuel foi divinamente escolhido por Deus na Teocracia (1 Samuel 3.19-4.1), sendo assim até o fim de sua vida (1 Samuel 8.4,5).

Observamos na história de Israel o declínio espiritual do povo no fim do tempo dos juízes (Juízes 21.25). Isso fez com que fosse rejeitada a forma teocrática que Deus agia, e abriu a necessidade de ser reivindicado um rei como as outras nações. Deus viu que isso era uma rejeição da Teocracia (1 Samuel 8.7), quando Deus passou a agir em uma nova administração de Seu reino teocrático, que é a administração por meio dos reis que governaram sobre Israel.

III- A TEOCRACIA DO REINO NA ERA DOS REIS:


Essa forma, a monarquia, foi o ideal de Deus para o Reino Teocrático. Isso estava prometido para Abraão (Gênesis 17.5-7) também para Jacó (Gênesis 35.11) com a autoridade do reino residindo num rei (Gênesis 49; Números 24.17).

Saul sendo elevado á essa posição foi visto como uma escolha divina quando Samuel anunciou: ''Eis aqui o rei que elegestes e que pedistes; eis que o Senhor vos deu um rei'' (1 Samuel 12.13), mas o próprio profeta trouxe a lembrança ao povo: ''Vós rejeitastes, hoje, a vosso Deus'' (1 Samuel 10.19), acrescentando-lhes: ''É grande a vossa maldade, que tendes praticado perante o Senhor, pedindo para vós outros um rei'' (1 Samuel 12.17). O comentário de Peters traz essa observação:

''Nenhum insulto mais profundo jamais poderia ser dado a Deus que o indicado por tal pedido. Isso é visto ao considerarmos o Ser que se dignava em ser seu Governador, a benção que Ele prometera e o plano que tinha em vista para se tornar, de forma direta, Rei sobre nação. O único atenuante para tal ''maldade'', como Samuel indica, é encontrado nas suas circunstâncias difíceis, também causadas pela descrença de Israel.''

Essa nova forma de administração do Reino Teocrático colocou-o a um passo mais próximo da sua conclusão final. Em relação ao próprio rei temos tal afirmação:

''O rei era também de certa forma o summus episcopus em Israel. Sua própria realeza era de caráter religioso e implicava a união do governo celestial e terreno sobre Israel por meio daquele que, como substituto de Jeová, assentava-se  ''no trono do reino do Senhor, sobre Israel'' (1 Crônicas 17.14; 28.5; 29.23), que era ''o ungido de Deus'' (1 Samuel 24.10; 26.9; 2 Samuel 1.14) e também levava o título de ''filho de Jeová'' e o ''primogênito''...

Ver essa teocracia sobre Israel meramente típica da futura teocracia é considerado como um erro, como indica Peters:

''...Lange chama a teocracia de ''o reino de Deus em sua forma típica''... O que, talvez, leve a tal erro é o fato de que rituais típicos e observâncias temporais de fato estavam ligados á teocracia. Mas embora isso, seja verdade, a ordem ou o governo teocrático que adotou temporariamente esses rituais e observações jamais é representado como um tipo.
Isso se opõe totalmente á aliança, á profecia e aos fatos. A teocracia não era mera sombra de qualquer outra coisa, mas era o próprio reino de Deus em sua forma inicial - um começo daquele reinado de Deus como Rei terreno que, caso dos judeus lhe tivessem prestado a obediência exigida teria sido estendido e expandido até que todas as nações fossem colocadas sob sua influência e sujeição''.

Isso fazia parte em continuidade do plano de Deus do Reino Teocrático, uma vez que é observado o fato de que Deus exigia obediência completa por parte dos reis, vejamos:

1. De acordo com a afirmação de Samuel, Deus perdoa a nação contanto que ela ainda, e mesmo o seu rei, o reconhecia como o Supremo Monarca contínuo, e que o rei escolhido faça as leis dadas por Sua autoridade superior.

2. Em toda essa transição, o governo teocrático de Deus é mantido intacto.

3. O rei terreno estava sob certas restrições impostas e era ameaçado, no caso de desobediência, como desprazer e a punição de Quem ainda era reconhecido como Cabeça Civil da nação. 

4. Isso foi sentido e abertamente confessado por Saul (1 Samuel 13.12 e 28.15), Davi (2 Samuel 6.20 e 7.26), Salomão (1 Reis 3.8,9 e 6.12-14; 8) e outros.

No inicio do reinado de Saul, Deus o rejeitara (1 Samuel 13.11-14), com autoridade transferida para Davi (1 Samuel 16.1-13) e seu reinado esteve especialmente associado ao desenvolvimento do Reino Teocrático. Duas eras são observadas aqui: 

1. Deus identificou Seu reino com o reinado de Davi, Peters indica ao escrever:

''[Deus] [...] recebeu aquele trono e aquele reino e os adotou como Seu próprio trono e reino. A teocracia e o reino dravídico, em virtude de um relacionamento especial e singular de aliança entre os dois, eram considerados um, no futuro, tão idênticos em destino que são ligados inseperadamente [...]

Podemos comprovar isso por três coisas:

1. O trono e o reino davídico são denominados do ''Senhor'' (1 Crônicas 28.5; 2 Crônicas 9.8) com as expressões ''trono'' e ''rei''.

2. O rei foi designado claramente como ''ungido do Senhor'' (1 Samuel 24.26; 2 Samuel 19.21).

3. Os profetas, após o estabelecimento do trono e do reino davídico, identificam constantemente o glorioso reino de Deus, o abençoado governo teocrático, manifesto por meio dele, como por exemplo em Jeremias 33 e 36, Amós 9. A razão disso está na união firme e perpétua. 

2. Deus fez uma incondicional e eterna aliança com Davi (2 Samuel 7.16), pela qual garantiu que esse reino seria o mesmo no qual o Reino Teocrático chegaria em sua completa realização, quando alguém da linhagem davídica reinaria para sempre. Deus desenvolveu o Reino Teocrático a ponto de que este assumiria a forma de uma monarquia por onde governava um rei escolhido por Deus, e o Messias virá para concluir o plano nessa forma.

No próximo artigo iremos finalizar o conceito do Reino Teocrático no Antigo Testamento com a teocracia no tempo dos profetas.

FONTE: Manual de Escatologia.
AUTOR: John D. Pentecost.
EDITORIA: Vida








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