O MILÊNIO - PARTE II
O CONCEITO DE REINO NO ANTIGO TESTAMENTO - PARTE II
INTRODUÇÃO:
No artigo anterior tivemos vários conceitos com respeito ao Reino de Deus, observamos no pensamento humano daquilo que se pensa sobre ele. E começamos a entender esse tema dentro das Escrituras, sua eternidade em seus aspectos atemporal, providencial, milagroso. Tratamos do uso do termo basileia no Novo Testamento. E terminamos com a questão do Reino de Deus sendo desafiado em seu aspecto universal.
Nesse artigo, ainda dentro do conceito verotestamentário do Reino, trataremos , agora, dentro de seu aspecto teocrático.
I- A TEOCRACIA DO REINO:
Deus tem designado desde o começo o plano para manifestar Sua soberania por meio do Seu governo na terra, isso até a conclusão desse plano, na época em que Sua soberania universal será reconhecida (1 Coríntios 15.24), tal plano se apresenta num desenvolvimento contínuo, interligado e progressivo. Com várias fases dentro desse plano com meios diferentes por onde tal Soberania é exercida, mas constituído e desenvolvido num só plano. Esse plano pode ser chamado de Reino Teocrático. Definimos por teocracia como um governo do Estado pela direção imediata de Deus; Jeová designou-se reinar sobre Israel da mesma maneira direta que um rei terreno governa sobre seu povo. Deus com Sua sabedoria que é digna dEle mesmo, assumindo a superioridade não apenas nas questões religiosas, mas também naquelas que estão ligadas ao aspecto político sobre os filhos de Abraão; Deus se constituiu, em seu sentido mais restrito do termo, Rei de Israel, e o governo de Israel tornou-se, em consequência, restrita e literalmente, essa teocracia.
O termo foi definido ainda por McClain como:
''... o governo divino por meio de um representante divinamente escolhido que fala e age em nome de Deus; um governo que tem referência especial á raça humana, apesar de em sua última análise abranger o universo, e esse governante mediatório é sempre membro da raça humana.''
II- AS DESIGNAÇÕES DOS TERMOS USUAIS REINO DE DEUS E REINO DOS CÉUS:
Os pré-milenaristas estão acostumados a designar o reino eterno como o reino de Deus, e o reino dos céus como o plano terreno. Essa distinção não parece ter apoio nas Escrituras, ambas expressões são usadas ao reino eterno (Mateus 6.33; 18.3-6; 7.21; 19.14; Marcos 10.14). Tais expressões são usadas ainda para se referir ao reino milenar no futuro (Mateus 4.17; Marcos 1.14-15; Mateus 3.2; 5.3,10; 6.10; Marcos 9.1,47; 14.25; Lucas 19.11; 21.31). Também tais expressões são usadas para referir-se a presente forma do Reino (Mateus 13.11; Marcos 4.11; Lucas 8.10). A diferença não está está nas expressões usadas em si, mas no contexto das passagens referidas. Isso é apontado por Feinberg:
''No evangelho de Mateus o reino é designado de modo geral, como o reino dos céus, enquanto o reino de Deus é mencionado é mencionado poucas vezes. A explicação do dr. Vos é oferecida aqui. Mateus escreveu para os judeus que tinham reverência especial pelo nome de ''Deus'' - note-se bem, apesar de sua evidente falta de percepção da verdadeira natureza do reino - e entenderiam facilmente o significado de ''reino dos céus''. Marcos e Lucas, por outro lado, escrevem para os gentios, e então usam a expressão ''reino de Deus'' no lugar da outra. O reino é caracterizado como o reino dos céus porque segue o padrão e a perfeição celestiais. Esse nome também se refere ao valor eterno e duradouro desse reino. Além disso, está em jogo a idéia de origem e da fonte celestial do reino, pois é o Deus dos céus quem o estabelecerá. O nome ''reino de Deus'' é empregada porque realça o caráter espiritual desse reino e domínio. A glória de Deus é o seu principal e único objetivo. A obra de Cristo na qual Ele busca somente glorificar Seu Pai se completa quando Deus é glorificado. Esse é o objetivo e o propósito do reino de Deus''.
O comentário de Walvood reforça:
''Embora os dispensacionalista tenham a tendência de frisar a expressão reino dos céus como relacionada ao futuro reino messiânico, a expressão também se aplica ao reino na era presente... Também é verdade que a expressão reino de Deus é usada tanto para era presente quanto para o reino messiânico. Em outras palavras, nem a expressão reino de Deus nem a expressão reino dos céus são, em si mesmas, termos técnicos aplicados ao reino messiânico. Em cada contexto, pode-se apurar se a referência se faz á forma presente do reino ou ao futuro reino messiânico.''
Percebemos que as expressões são usadas intercambiavelmente, embora que haja em vista duas fases diferentes do Reino, deve ser considerado adequado fazer referência aos aspectos eternos como o reino eterno, e ao desenvolvimento desse reino no tempo como teocrático . Esse plano teocrático do Reino deve ser acompanhado historicamente na Bíblia.
II- A TEOCRACIA DO REINO NO ÉDEN:
Na criação do mundo foi estabelecida uma teocracia com Deus sendo reconhecido como Soberano e com Sua soberania sendo compartilhada com o homem. Tal autoridade foi delegada para que o homem governasse sobre a terra, exercitando essa autoridade mediada. Em tal teocracia, Adão recebia sua autoridade de Deus, e portanto, já que era designado submeter-se, o governo pertencia efetivamente a Deus. Na teocracia a autoridade pra governar deveria pertencer a Adão, se fosse contrário, Cristo em Seu reinado não pode ser comparado a Adão, e nem tão pouco o nome ''último Adão'' pode ser comparado a Ele (1 Coríntios 15.22-24,45). A expressão ''tenha ele domínio'' (Gênesis 1.26) estabelece esse relacionamento teocrático, com a responsabilidade de ''dominar'' a terra como um exercício dessa autoridade teocrática. Eva foi ordenada a submeter-se ao marido pelo fato de Adão ter sido divinamente designado governador na teocracia. Voltamos novamente para Feinberg:
''O reino de Deus realizou-se o jardim do Éden. Lá Deus governou e reinou supremo, com todos os Seus súditos prestando-lhe a devida obediência. Todas as bênçãos que podem fluir do reino de Deus na terra estavam ali. No entanto, o ideal mais alto não havia sido alcançado. A vida eterna, dependia da obediência perfeita do homem e, se isso tivesse acontecido, o reino eterno poderia ter surgido em toda sua glória. Quando o pecado entrou, isso significou nada mais, nada menos que o homem se emancipara do governo soberano de Deus, seu Rei. Essa desobediência foi a ocasião para o estabelecimento de outro reino neste mundo, o do próprio satanás''.
A autoridade de Deus fora repudiada por essa desobediência fez com que Deus anunciasse em Gênesis 3.15 o começo de um plano que manifestaria ao mundo Sua autoridade, que tinha sido repudiada, quando trouxe á vida uma nova criação por meio do ''descendente da mulher'', que seria sujeita voluntariamente ao Senhor. Foi ai que o plano da Redenção começou a caminhar lado a lado do desenvolvimento do plano do Reino, como uma adição paralela inevitável, mas não idêntica a ele. O método de estabelecer a autoridade de Deus tem ocorrido por meio da Redenção, mas o restabelecimento dessa Autoridade continua sendo o primeiro propósito de Deus.
Depois da queda, o reino teocrático parece ser administrado pela linhagem piedosa nascida de Eva. A afirmação em Gênesis 4.1, ''adquiri um varão com auxilio do Senhor'', pode ser traduzida por ''adquirir um varão, o Senhor'', pode abrigar um indicio de que a teocracia deva ser administrada por essa linhagem. Depois que Abel morreu, Sete assume o seu lugar (Gênesis 4.25), cujo seu nome significa ''escolhido'', provavelmente com a idéia da escolha na teocracia. O período histórico terminou com o dilúvio devido o pecado da raça humana (Gênesis 6.6,7), onde foi constituído uma rejeição direta de Deus governar sobre eles.
IV- A TEOCRACIA DO REINO DEPOIS DO DILÚVIO:
Depois do dilúvio Deus instituiu o governo humano (Gênesis 9.1-7), o qual se tornou o meio pelo qual o reino teocrático passou a ser administrado. O temor á pessoa na qual essa autoridade residia era inerente na administração do plano do Reino (Gênesis 9.2). Isso foi deixado claro por Paulo em Romanos 13.1-4, quando o governador é ''o ministro de Deus''. Tal administração desse plano do Reino continua até a rejeição desse método de autoridade quando Ninrode em Babel estabeleceu seu reino, sendo assim reconhecida uma nova autoridade, e instituído um novo sistema de adoração (Gênesis 10.8-10; 11.1-9).
Continuaremos no próximo artigo.
FONTE: Manual de Escatologia.
AUTOR: J. D. Pentecost.
EDITORA: Vida
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