A SEGUNDA VINDA DE CRISTO - PARTE I

 A HISTÓRIA DA DOUTRINA DO SEGUNDO ADVENTO - PARTE II


INTRODUÇÃO:

Já discutimos sobre as quatro posições relacionadas com a Segunda Vinda, mas tradicionalmente conhecido como Milênio. Nossa posição é pré-milenarista, aquela que se apoia na interpretação literal das Escrituras.

Neste artigo daremos continuidade sobre a história da Segunda Vinda, e como a Igreja Primitiva tratava a questão do Segundo Advento.

I- A SEGUNDA VINDA NA IGREJA PRIMITIVA:

É de comum acordo que a Igreja que prosseguiu ao período apostólico teve uma opinião pré-milenarista. Esse fato foi admitido por um dos expoente do amilenarismo, Allis que diz:

''Cria-se amplamente [no pré-milenarismo] na igreja primitiva, embora não se possa dizer com certeza com que amplitude. Mas o realce que muitos de seus defensores davam ás recompensas terrenas e aos prazeres carnais provocou grande oposição; e ele foi quase completamente substituído pela posição ''espiritual'' de Agostino. Reapareceu sob formas extravagantes por ocasião da Reforma, notadamente entre os anabatistas. Bengel e Mede estiveram entre os primeiros estudiosos  de distinção da atualidade a defendê-lo. Mas não foi senão no início do século passado que ele passou a influenciar na atualidade. Desde então, tornou-se cada vez mais popular, e muitas as vezes se ouve a declaração que a maioria dos líderes evangélicos na igreja de hoje é pré-milenarista.''

O considerado fundador do pós-milenarismo, Whitby, escreveu:

''A doutrina do milênio, ou reino dos santos na terra por mil anos, é agora rejeitada por todos os católicos romanos e pela maioria dos protestantes; mesmo assim foi considerada pelos melhores cristãos por 250 anos, uma tradição apostólica; e, como tal, é apresentada por muitos pais do segundo e do terceiro século, que falam dela como a tradição de nosso Senhor e Seus apóstolos e dos antigos que viveram antes deles, que nos contam as próprias palavras nas quais ela lhes foi entregue, as Escrituras quer eram assim interpretadas então, e dizem que ela foi mantida por todos os cristãos que eram exatamente ortodoxos. Ela foi recebida não apenas nas partes orientais da igreja, por Papias (na Frígia), Justino (na Palestina), mas por Irineu (na Gália), Nepo (no Egito), Apolinário, Metódio (no Oeste e no Sul), Cipriano, Vitorino (na Alemanha), Tertuliano (na África), Lactâncio (na Itália) e Severo, e pelo Conselho de Nicéia (c.323 d.C.).''  

Estas concessões por serem feitas pelos oponentes da visão pré-milenarista deve estar no fato de que a história relata que ela foi universal na Igreja por 250 anos após a morte de Cristo. Nisso temos a posição de Schaff:

''O ponto mais marcante da escatologia da era pré-nicena é a proeminência do quiliasmo ou milenarismo, que é a crença num reinado visível de Cristo em glória na terra com os santos ressurretos por mil anos, antes da ressurreição geral e do juízo. Essa certamente não foi a doutrina da igreja incorporada a algum credo ou forma de devoção, sendo antes uma posição amplamente aceita por mestres ilustres.''

Temos ainda Harnack:

''A doutrina do segundo advento de Cristo e do reino aparece tão cedo, que cabe perguntar se não deveria ser considerada parte essencial da religião cristã.

II- OS EXPOENTES DO PRÉ-MILENARISMO:

Peters apresenta, talvez, a maior lista dos defensores do pré-milenarismo dos primeiros séculos da Igreja:

A) Defensores do pré-milenarismo no Século I:
1) André.
2) Pedro.
3) Filipe.
4) Tomé.
5) João.
6) Mateus.
7) Tiago.
8) Arísito.
9) João, o Presbítero .

''Todos esses foram citados por Papias, que segundo Irineu, ouviu João pessoalmente e foi amigo de Policarpo [...]
Essa referência aos apóstolos concorda com os fatos que temos provado:
a) os discípulos de Jesus tinham uma visão judaica sobre o reino messiânico na primeira parte desse século, e
b) em vez de descartá-lo, eles o ligavam ao segundo advento.''

10) Clemente de Roma (Fp 4.3), que viveu de 40 a 100 d.C. aproximadamente.
11) Barnabé, cerca de 40 a 100 d.C. [...]
12) Hermas, de 40 a 100 d.C. [...]
13) Inácio, bispo de Antioquia, que morreu na perseguição ordenada por Trajano, cerca de 50 a 115 d.C. [...]
14) Policarpo, bispo de Esmírnia, discípulo de João, que viveu entre cerca de 70 e 167 d.C. [...]
15) Papias, bispo de Hierápolis, viveu de 80 a 163 d.C.

"Por outro lado, não podemos apresentar nenhum nome que:
a) possa ser citado como categoricamente, contrário á nossa posição, ou
b) possa ser citado como alguém que ensinou, sob qualquer forma ou sentido, a doutrina dos nossos oponentes.''

B) Defensores do pré-milenarismo no Século II:
1) Potino, um mártir [...] 87-177 d.C.
2) Justino Mártir, cerca de 100-168 d.C. ...
3) Mileto, bispo de Sardes, cerca de 100-170 [...]
4) Hegísipo, entre 130-190 d.C. [...]
5) Taciano, entre 130-190 [...]
6) Irineu, um mártir [...] cerca de 140-202.
7) As igrejas de Viena e Lion [...]
8) Tertuliano, cerca de 150-220 d.C. [...]
9) Hipólito, entre 160-240 d.C.

''Por outro lado, nenhum escritor sequer pode ser apresentado, nem mesmo um nome pode ser mencionado dentre os citados que se tenha oposto ao quiliasmo nesse século [...] Que o estudioso reflita sobre isso: aqui dois séculos [...] nos quais nenhuma oposição direta surge contra a doutrina, mas ela é mantida pelos mesmos homens, líderes  os mais eminentes, por meio dos quais acompanhamos a história da igreja. O que devemos concluir:
a) Que a fé comum da igreja era quiliástica, e
b) que tal generalidade e unidade de crença só poderia ter sido introduzida [...] pelos fundadores da igreja e pelos presbíteros nomeados por ele.''

C) Defensores do pré-milenarismo no Século III:
1) Cipriano, cerca de 200-258 d.C. [...]
2) Cômodo, cerca de 200-270 d.C. [...]
3) Nepo, bispo de Arsione, cerca de 230-280 d.C. [...]
4) Corácio, cerca de 230-280 d.C. [...]
5) Vitorino, cerca de 240-303 d.C. [...]
6) Metódio, bispo de Olimpo, cerca de 250-311 d.C. [...]
7) Lactâncio [...] de 240-330 d.C. [...]

Mesmo que tal testemunho de todos os homens que foram citados não era sempre igualmente claro. alguns deles falaram inequivocamente da posição pré-milenarista. Como escreveu Clemente de Roma:

''Verdadeiramente, logo Sua vontade será cumprida como as Escrituras também testemunham, dizendo: ''Certamente venho sem demora'' e ''De repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós desejais, o Santo''

Podemos ainda citar Justino Mártir, em seu Diálogo com Trifo:

''Mas eu e qualquer um que somos em todos os aspectos cristãos decididos sabemos que haverá a ressurreição dos mortos e mil anos em Jerusalém, que será então construída, adornada e aumentada, como declararam os profetas Ezequiel e Isaías [..]
E, ainda mais, certo homem chamado João, um dos apóstolos de Cristo, previu por uma revelação que foi feita a ele que os que cressem em nosso Cristo passariam mil anos em Jerusalém e, depois disso, a ressurreição em geral, ou, para ser breve, a eterna ressurreição e julgamento de todos os homens também ocorrerá''.

Temos também o testemunho de Irineu, bispo de Lion, apresentando uma escatologia bem desenvolvida:

''Mas quando esse anticristo tiver devastado todas as coisas neste mundo, ele reinará por três anos e seis meses e sentará no templo em Jerusalém; então o Senhor virá do céu entre as nuvens, na glória do Pai, mandando esse homem e os que seguiram para o lago de fogo; mas trazendo para os justos o tempo do reino, quer dizer, o descanso, o sagrado sétimo dia; e restaurando a herança prometida de Abraão, na qual o Senhor declarou que ''muitos vindos do leste e oeste sentarão com Abraão, Isaque e Jacó...''
A benção prevista, então, pertence sem dúvida á época do reino, quando os justos reinarão depois de sua ressurreição''

Tertuliano soma seu testemunho dizendo:

''Mas nós confessamos que um reino sobre a terra nos é prometido, apesar de antes do céu, apenas em um outro estado de existência, visto que ele acontecerá depois da ressurreição, por mil anos na divinamente construída cidade de Jerusalém.''

Irineu e Justino classificaram três classes de homens:

1) Os hereges, que negavam a ressurreição da carne e o milênio.
2) Os verdadeiramente ortodoxos, que afirmavam a ressurreição e o reino de Cristo na terra.
3) Os crentes que concordavam com os justos e mesmo assim esforçavam-se para alegorizar e transformar em metáfora todas as passagens que apontam para o próprio reinado de Cristo, e que tinham opiniões em concordância com aqueles hereges que negavam, não com os ortodoxos, que afirmavam, esse reinado de Cristo na terra.

Justino evidentemente reconhecia o pré-milenarismo como ''o critério de uma perfeita ortodoxia'' Em seu Diálogo com Trifo, em que escreve:

''Alguns que são chamados cristãos mas são ímpios, hereges, ensinando doutrinas que são totalmente blasfemas, ateístas e tolas'', Justino mostra que incluiria qualquer um que negasse o pré-milenarismo nessa categoria, visto que incluía nela os que negaram a ressurreição, um ensinamento associado.

Concluímos esse artigo com Peters:

''Quando examinamos o quadro histórico [...] somos forçados a concluir que os escritores [...] que insistem na grande extensão do quiliasmo na igreja apostólica e primitiva estão certamente corretos. Nós, consequentemente, apoiamos os que se expressam como Muncher (Church history, v.2,p415) que ''[o quiliasmo] foi recebido universalmente por quase todos os mestres'', e (p.450,452) o associam, junto com Justino, ao ''todo da comunidade ortodoxa...''

Próximo artigo lidaremos com os oponentes do pré-milenarismo e a ascensão do amilenarismo.

FONTE: Manual de Escatologia
AUTOR: J. Dwight Pentecost
EDITORA: Vida
 



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