A SEGUNDA VINDA DE CRISTO - PARTE II

 A HISTÓRIA DA DOUTRINA DO SEGUNDO ADVENTO - PARTE III


INTRODUÇÃO:


O pré-milenarismo não é uma doutrina que surgiu recentemente como muitos pensam e ensinam, na verdade ela remonta os primeiros três séculos da história da Igreja. No nosso artigo anterior citamos uma lista dos expoentes defensores da doutrina pré-milenarista nesses séculos anteriores.

Nosso foco agora será direcionado aos oponentes da doutrina pré-milenarista, passando pelos primeiros oponentes até chegar no seu apogeu a partir de Agostinho que influenciou a teologia católica e boa parte evangélica.

I- OPONENTES DA PRÉ-MILENARISTA:


A oposição iniciou a partir do século III, quando foi declarado o primeiro antagonismo á visão pré-milenarista. Sobre esse fato, usamos as palavras de Peters em seu resumo:

''Nesse século vemos pela primeira vez [...] adversários da nossa doutrina.
Qualquer escritor, desde o período mais antigo até o presente, que apresentou tais lista contra nós, foi capaz apenas encontrar esses antagonistas, e nós os apresentamos na sua ordem cronológica, quando eles se revelam como adversários. Eles são quatro, mas três deles eram muito persuasivos para o erro e rapidamente ganharam seguidores [...] O primeiro nessa ordem foi 1) Caio (Gaio) [...] no início do terceiro século [...] 2) Clemente de Alexandria [...] professor na Escola Catequética de Alexandria, que teve forte influência (sobre Orígenes e outros) como mestre de 193-220 d.C. [...] 3) Orígenes, cerca de 185-254 d.C. [...] 4) Dionísio, cerca de 190-265 d.C. [...] estes são os defensores mencionados como diretamente hostis ao quiliasmo.''

Allis, acrescenta que essa oposição se deu por causa do ''realce que muitos de seus defensores depositavam sobre as recompensas terrenas e os prazeres carnais [que] [...] suscitaram ampla oposição contra ele''. 

Temos em mente que seja correto afirmar que a oposição surgiu  inicialmente por causa da interpretação da Escola de Alexandria, onde Orígenes se tornou seu principal defensor com grande influência no mundo teológico. Orígenes propagou o método espiritualizado de interpretação, desencadeou o fim do método literal de interpretação no qual o pré-milenarismo se apoiava.

A influência de Orígenes foi comprovada por Mosheim:

Após declarar ''que muitos criam no século anterior, sem ofensa a ninguém, que o Salvador reinaria mil anos dentre os homens, antes do fim do mundo'', adiciona: ''neste século a doutrina milenar tornou-se infame, graças á influência especial de Orígenes, que negou veementemente porque ela contradizia suas opiniões'' [...] ''até a época de Orígenes, todos os mestres que eram a ela predispostos, a professavam e a ensinavam abertamente [...] Orígenes, porém, a atacou ferozmente, pois ela contrariava sua filosofia; e, pelo sistema de interpretação bíblica que descobriu, ele deu um sentido diferente aos textos bíblicos dos quais os defensores dessa doutrina defendiam'' [...] No terceiro século a reputação dessa doutrina declinou; primeiro no Egito, pela influência de Orígenes [...] e mesmo assim ela não pôde ser exterminada definitivamente: ainda tinha mesmo assim defensores respeitáveis.''

Mosheim ainda em outros lugares mostra como  um sistema de interpretação filosófica e extremamente agressivo, que começou ''desprezivelemente a perverter e torcer todas as partes dos oráculos divinos que se oponham ao seu dogma ou noção filosófica'', a interpretação literal foi definitivamente esmagada: Ele, então contrasta a interpretação adotada pelo dois sistemas: ''Ele (Orígenes) desejava desprezar o sentido literal  e visível das palavras, e queria que se buscasse um sentido secreto, que repousava, escondido, num envoltório de palavra. Os defensores de um reino terrestre de Cristo, por sua vez, firmavam sua causa unicamente no sentido natural e próprio de certas expressões bíblicas''.

II- A OPOSIÇÃO PRÉ-MILENARISTA E AS FALSAS DOUTRINAS QUE MUDARAM O PENSAMENTO TEOLÓGICO:


De onde surgiu essa oposição? O que fez essa mudança no pensamento escatológico na escatologia primitiva da Igreja?

O gnosticismo [...] bem cedo começou a prevalecer e, embora todas as doutrinas do cristianismo tivessem sofrido em maior ou menor medida essa influência deteriorante, a doutrina do reino tornou-se, sob suas manipulações maleáveis, muito diferente da doutrina bíblica da igreja primitiva [...] ela atacou violentamente o parentesco prometido do Filho do Homem como Filho de Davi.

Veio o ascetismo, que é a crença na corrupção inerente da matéria [...] era oposta ao pré-milenarismo.

O docetismo [...] negava a realidade do corpo humano de Jesus, o Cristo, fechou efetivamente todo acesso a um entendimento do reino, espiritualizando não apenas o corpo, mas tudo mais que se relacionasse a Jesus como Messias.

Entre essas e outras falsas doutrinas que surgiram no decorrer da história da Igreja, surge ainda a tentativa de conciliar as tendências opostas, outro próspero grupo surgiu, presumindo que a razão ocupava o lugar de juiz, e deduzia que a razão instituía uma voz média entre as duas, retendo assim algo do gnosticismo e do quiliasmo, naquilo que diz respeito á interpretação, mas também espiritualizando o reino, numa aplicação á igreja.

III- OUTRAS SITUAÇÕES QUE LEVARAM A OPOSIÇÃO PRÉ-MILENARISTA:

O judaísmo em sua continuidade, essa religião que começou na era apostólica  e se fortaleceu, foi criada uma crescente inimizade entre os judeus e gentios cristãos. Isso levou , por fim, uma rejeição do milênio por ele ser ''judaico''.

''... os gentios cristãos, na sua hostilidade para com o judaísmo, que buscava impor seu legalismo e ritualismo, finalmente foram levados a tal extremo que  [...] tudo em sua opinião tinha sabor de judaísmo foi jogado fora, incluindo, é claro, a crença judaica, há muito esposada, de um reino.''

Quando houve a união da Igreja com o Estado na época de Constantino, provocou a morte da esperança milenar. Smith declarou que o ''intervalo entre a era apostólica e a de Constantino tem sido chamado quiliástico da interpretação apocalíptica''. Smith diz:

''Imediatamente após o triunfo de Constantino, os cristãos que se livraram da opressão e da perseguição e se tornaram autoritários prósperos, começaram a perder sua expectativa ativa da rápida vinda do Senhor e o conceito espiritual do Seu reino, e passaram a contemplar a supremacia temporária do cristianismo como cumprimento do reino prometido de Cristo na terra. O Império Romano, transformado num império cristãos, deixou de ser considerado objeto de denúncia profética, mas um cenário de desenvolvimento milenar. Essa opinião, todavia, foi logo confrontada pela interpretação figurada do milênio como reino de Cristo no coração de todos os crentes verdadeiros.''

Os escritos dos pais da Igreja, daqueles que se opunham ao pré-milenarismo, visando minimizar sua influência, reduziram o realce desse ensinamento central e começaram a oblitera a importância que a esperança iminente tinha na vida e nos seus escritos.

A influência de Agostinho, que contribuiu para o pensamento teológico que qualquer outro entre Paulo e a Reforma, e por quem o amilenarismo foi sistematizado e o sistema romanista obteve sua eclesiologia, tornou-se fator fundamental da oposição pré-milenarista.

Com aumento do poder da Igreja Romana, que ensinava ser o reino de Deus na terra e o seu líder o vigário de Deus na terra, teve significada importância.

IV- OS MÉTODOS USADOS PELOS OPONENTES DA VISÃO PRÉ-MILENARISTA:


Gaio e Dionísio foram os primeiros a duvidar da genuína inspiração do livro do Apocalipse, pois evidentemente se suponha que o recurso ao livro [...] não podia ser abandonado.

A rejeição do sentido literal e sua substituição por figuras ou alegorias, que efetivamente modificaram a aliança e a profecia.

Trechos do Antigo Testamento que ensinavam literalmente a doutrina tiveram sua inspiração profética desacreditada [...]

Aceitação de todos os trechos proféticos, e o que não podia ser alegorizado e aplicado á igreja tinha o seu cumprimento relegado ao céu [...]

Fazer com que as promessas dadas diretamente aos judeus como nação fossem consideradas condicionais na sua natureza ou meramente típicas das bênçãos desfrutadas pelos gentios.

A oposição ao pré-milenarismo veio daqueles que foram marcados pela descrença, em que suas doutrinas, em geral, tinham sido condenadas pelos cristãos no decorrer da história da Igreja; dessa forma se opuseram ao pré-milenarismo não porque não fosse bíblico, mas porque contradizia suas próprias filosofias e métodos de interpretação.

Próximo artigo falaremos sobre a ascensão do amilenarismo e o eclipse do pré-milenarismo.

FONTE: Manual de Escatologia
AUTOR: John Dwight Pentecost
EDITORA: Vida

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