A SEGUNDA VINDA DE CRISTO - PARTE III

 A HISTÓRIA DA DOUTRINA DO SEGUNDO ADVENTO - PARTE IV


INTRODUÇÃO:


Temos como objetivo trazer nesses artigos uma historicidade das posições escatológicas concernentes ao quiliasmo. Já está confirmado que o pré-milenarismo é a mais antiga de todas, e que ela só passou a ser refutada ainda no século III, mas por aqueles que na história eclesiástica tiveram seus ensinamentos repudiados pela Igreja Primitiva.

Com o abandono do método literal de interpretação, desde os dias de Orígenes, e grande parte abraçando o método da Escola de Alexandria  o pré-milenarismo foi sendo abandonado, e outros posicionamentos sobre o milênio foram sendo adotados. Nesse artigo abordaremos sobre a ascensão do amilenarismo e a eclipse do pré-milenarismo.

I- A ASCENSÃO DO AMILENARISMO:


No artigo anterior falamos que uma das razões que levou o abandono ao pré-milenarismo foi a influência de Agostinho, e sobre seu pensamento teológico houve uma grande crescente adesão ao amilenarismo. Orígenes já havia estabelecido o método não-literal da interpretação, mas Agostinho trouxe a sistematização da visão não literal do milênio no que atualmente é conhecido como amilenarismo.

O pensamento agostiniano trouxe um relacionamento para doutrina amilenarista, como observa Walvoord:

''Seu pensamento não apenas cristalizou  a teologia que o precedera, mas estabeleceu a base de ambas as doutrinas, católica e protestante. B.B. Warfield, citando Harnack, refere-se Agostinho  como ''incomparavelmente o maior homem que a igreja possuiu entre o apóstolo Paulo e Lutero, o reformador''. Embora a contribuição de Agostinho tenha sido principalmente reconhecida nas áreas da doutrina da igreja, da harmatiologia, da doutrina da graça e da predestinação, também é um marco significativo na história antiga do amilenarismo.''

Portanto, a importância de Agostinho para o amilenarismo se concentra em duas razões:

1.Não existia expoentes aceitáveis do amilenarismo antes de Agostinho. A posição era associada as heresias produzidas pela Escola Teológica Alegorista e Espiritualista de Alexandria. Essa escola não apenas se opunha ao pré-milenarismo, mas se opunha a toda exegese literal das Escrituras.

2. O pensamento agostiniano se tornou a doutrina dominante da Igreja Católica, e adotada com variações pela maioria dos reformadores protestantes, juntamente com muitos outros de seus ensinamentos. Seus escritos, na verdade, causaram o abandono do pré-milenarismo pela maioria da igreja organizada.

II- A POSIÇÃO DE AGOSTINHO SOBRE O MILÊNIO:


A Cidade de Deus, sem dúvida é a obra que mais influenciou contrariamente a doutrina do pré-milenarismo. Nela, Agostinho lançou a idéia de que a igreja visível é o reino de Deus, ela foi escrita especificamente para ensinar que a existência do reino de Deus está na igreja, segundo Peters.

Foi desenvolvida por meio dessa eclesiologia básica de Agostinho, a doutrina de que a Igreja é o Reino de Deus, e sua doutrina quiliástica foi desenvolvida, como resume Allis:

''Ele ensinou que o milênio deve ser interpretado espiritualmente como cumprido pela igreja. Defendia que o aprisionamento de Satanás ocorreu durante o ministério terreno do nosso Senhor (Lucas 10.18), a primeira ressurreição é o novo nascimento (João 5.25) e o milênio deve corresponder , consequentemente, ao período entre os adventos ou a era da igreja. Isso implicava a interpretação de Apocalipse 20.1-6 como uma ''repetição'' dos capítulos anteriores e não uma referência á nova era que seguiria cronologicamente e os acontecimentos demonstrados no capítulo 19. Vivendo na primeira metade do primeiro milênio da história da igreja, Agostinho naturalmente entendeu de modo literal os mil anos de Apocalipse 20 e esperava a segunda vinda ocorresse no final daquele período. Mas, por ter identificado o milênio de maneira incoerente com o que restava  do sexto quiliasmo da história humana, ele acreditava que esse período deveria terminar por volta de 650 d.C. com uma grande explosão de maldade, a revolta de Gogue e  Magogue, seguida da vinda de Cristo em juízo.''

As afirmações de Agostinho que moldaram o pensamento escatológico:

1) Negou que o Milênio seguira a Segunda Vinda.
2) Defendeu que o Milênio ocorreria no período entre as duas Vindas.
3) Ensinou que a Igreja é o Reino e não haveria cumprimento literal das promessas feitas a Israel. 

Tais interpretações formaram o núcleo central do sistema escatológico dominante do pensamento teológico por séculos.

Embora que a história prova que satanás não foi aprisionado, e nem que estejamos no Milênio, nem tão pouco estamos experimentando tudo o que foi prometido aos que entrassem no Milênio, e que ainda Cristo não retornou em 650 d.C., mesmo assim foi insuficiente para convencer os defensores desse sistema de interpretação. Apesar de seu claro fracasso, mesmo assim continua sendo defendido.

III- O ECLIPSE DO PRÉ-MILENARISMO:


Com a dominação romanista, comprometido com a posição de que a Igreja Romana era o Reino de Deus fez com que o pré-milenarismo caísse rapidamente.

''O quiliasmo desapareceu proporcionalmente á medida que o catolicismo papal romano avançava. O papado tomou para si, como um roubo, a glória que é o objeto da esperança e só pode ser alcançada pela obediência e humildade da cruz. Quando a igreja tornou-se meretriz, deixou de ser a noiva que sai para encontrar o noivo; e assim o quiliasmo desapareceu.
Essa é a profunda verdade que jaz no âmago da interpretação protestante antipapal do Apocalipse'', conforme Auberlen.

Temos ainda a observação feita por Peters:

''Podemos então citar brevemente como fato evidente que todo o espírito e alvo do papado é antagônico á perspectiva da igreja primitiva, baseando-se no cobiçado poder eclesiástico e secular, na ampla jurisdição depositada nas mãos de um primaz [...] quando se fundou um sistema que decidira que o reinado dos santos já havia começado - que o bispo de Roma reinava na terra no lugar de Cristo; que a libertação da maldição só seria cumprida no terceiro céu; que na igreja, como um reino, havia uma ''aristocracia'' á qual se devia obedecer sem hesitação; que os anúncios proféticos a respeito do reino do Messias se cumpriam na predominância, esplendor e riqueza de Roma; que a recompensa e elevação dos santos não dependia da segunda vinda, mas do poder depositado no reino presente etc - foi então que o quiliasmo, tão desagradável e obnóxio para essas declarações e doutrinas, caiu sob a influência poderosa e penetrante exercida contra ele.''

Mesmo com a ascensão do amilenarismo romano, houve um pequeno remanescente que manteve a posição pré-milenarista. Os valdenses, aos paulicianos, os cátaros, mantinham a crença apostólica, de acordo com Ryrie. Essa lista foi acrescentada por Peters com os albigenses, os lollardos, os discípulos de Wicliff e os protestantes boêmios que esposaram a causa pré-milenarista.

No próximo artigo abordaremos o Milênio a partir da Reforma Protestante.

FONTE: Manual de Escatologia.
AUTOR: J. D. Pentecost
EDITORA: Vida


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