O PRÉ-TRIBULACIONISMO II

 

O CONCEITO SOBRE A IGREJA


A NATUREZA DA IGREJA:


Há certas distinções entre Israel e a Igreja nas Escrituras, o amante da escatologia deve observar cuidadosamente e não negligenciar essas distinções:
  • Existe uma distinção entre a igreja professante e o Israel nacional. A igreja professante é composta por aqueles que fazem profissão de sua fé em Cristo, sendo que para alguns, tal profissão se baseia na realidade, mas para outros não. Esse último grupo entrará no período tribulacional, uma vez que Apocalipse 2.22 indica claramente que a igreja professante não salva irá experimentar a ira como castigo. Já o grupo denominado Israel nacional tem como base o nascimento físico, e todos os que pertencem a esse grupo e não forem salvos e removidos pelo Arrebatamento, se estiverem vivos no momento do Arrebatamento serão, com a igreja professante, sujeitos á ira da tribulação.
  • Existe uma distinção entre a Igreja Verdadeira e a igreja professante. A Verdadeira é composta por todos os que, nesta era, receberam a Cristo como Salvador. Ao contrário, temos a igreja professante, composta por aqueles que se dizem professar a Cristo sem realmente recebê-Lo. Só a Verdadeira Igreja será arrebatada.
  • Existe uma distinção entre a Igreja Verdadeira e o Israel Verdadeiro ou Espiritual. Antes do Pentecostes existiam indivíduos salvos, mas não existia Igreja, e eles faziam parte do Israel espiritual, não da Igreja. Depois do Pentecostes e até o Arrebatamento, que é o Corpo de Cristo, mas não encontramos o Israel espiritual. Depois do Arrebatamento não encontramos a igreja novamente, mas novamente o Israel espiritual ou verdadeiro. Tais distinções devem ser claramente consideradas.
O Arrebatamento não retirará todos os que professam fé em Cristo, mas apenas os que tenham nascidos de novo e recebido a Sua vida. A porção descrente da igreja visível, junto com os descrentes da nação de Israel entrará no período tribulacional.

Sobre a Igreja Verdadeira precisamos compreender, uma vez que Ela é:
  1. O Corpo, do qual Cristo é o Cabeça (Efésios 1.22; 5.23; Colossenses 1.18).
  2. A Noiva de Cristo (1 Coríntios 11.2; Efésios 5.23).
  3. O Objeto do Seu Amor (Efésios 5.23).
  4. Os ramos dos quais Ele é a Videira e a Raiz (João 15.5).
  5. O Edifício do qual Ele é a base e a Pedra angular (Efésios 2.19-22; 1 Coríntios 3.9).
Portanto existe um elo entre o cristão e o Senhor que é uma união e uma unidade. O crente não está mais separado de Cristo, mas é trazido para perto Dele. Se a Igreja estiver na Septuagésima Semana, ela estará sujeita á ira, ao julgamento, e á indignação que caracterizam esse período e, por causa da sua união com Cristo, Ele da mesma maneira, estaria sujeito ao mesmo castigo. Isso se torna impossível de acordo com 1 João 4.17, uma vez que Ele não pode ser julgado novamente. Visto que a Igreja foi aperfeiçoada e liberta de tal julgamento (Romanos 8.1; João 5.24; 1 João 4.17), se Ela fosse novamente sujeita ao julgamento, as promessas de Deus não teriam efeito e a Morte de Cristo seria ineficaz. Ninguém ousa dizer que a Morte de Cristo falhou em cumprir seu propósito!

Os membros, individualmente, possam ser experimentalmente imperfeitos e necessitar de limpeza experimental, a Igreja, que é o Corpo de Cristo, tem uma posição perfeita em Cristo e não precisa de limpeza. A natureza das provações da Septuagésima Semana, conforme declaradas em Apocalipse 3.10, não é promover limpeza individual, mas revelar a degradação e a necessidade do coração degenerado.
A natureza da Igreja torna desnecessária tal provação!

Uma vez que Apocalipse 13.7, esclarece que todos os que todos os que estiverem na Grande Tribulação serão submetidos á Besta e por meio dela á satanás, que dá á Besta o seu poder. Se a Igreja estivesse nesse período, Ela se sujeitaria a satanás, e Cristo perderia Seu lugar como Cabeça, ou Ele mesmo, por causa da Sua união com a Igreja, estaria igualmente sujeito á autoridade de satanás. Tal coisa é de modo impensável.

Dessa maneira, devemos concluir que a natureza da Igreja e a inteireza da Salvação impede que a mesma esteja na Septuagésima Semana de Daniel.

O CONCEITO DA IGREJA COMO MISTÉRIO:


Com a consideração anterior, o estudante de escatologia deve entender o conceito neotestamentário de que a Igreja é um Mistério.

Não era Mistério que Deus proveria Salvação para os judeus, nem que os gentios seriam abençoados com a Salvação. O fato de que Deus formaria de judeus e gentios um só Corpo nunca foi revelado no Antigo Testamento e constituído o Mistério citado por Paulo em Efésios 3.1-7; Romanos 16.25-27; Colossenses 1.26-29.

Todo esse plano não foi revelado até a rejeição de Cristo por Israel. É depois da rejeição de Mateus 12.23,24 que o Senhor fez a primeira menção da futura Igreja em Mateus 16.18. É depois da rejeição da Cruz que a Igreja tem seu início em Atos 2. É depois da rejeição final de Israel que Deus chama Paulo para ser apóstolo aos gentios, e por meio dele o Mistério da natureza da Igreja foi revelado.

A Igreja é, manifestamente, uma interrupção do planos de Deus para Israel, que não foi iniciada até que Israel rejeitasse a oferta do Reino. Então, segue-se logicamente, que esse plano de Mistério deve ser concluído antes que Deus possa retomar o Seu trato com a nação de Israel, como foi demonstrado  previamente que Ele fará.

O plano do Mistério, tão distinto no seu início, certamente será separado na sua conclusão. Esse plano deve ser concluído antes que Deus retome e complete Seu plano para Israel.

Esse conceito da Igreja como Mistério torna inevitável o Arrebatamento pré-tribulacionista.

AS DISTINÇÕES ENTRE ISRAEL E IGREJA:


Foi estabelecido vinte e quatro contraposições entre Israel e a Igreja que demonstram conclusivamente que esses dois grupos não podem ser unidos num só, mas devem ser diferenciados como entidades separadas com quem Deus realiza um plano especial.

Tais contraposições podem ser esboçadas da seguinte forma:
  1. A extensão da Revelação Bíblica: Israel - tem quase quatro quinto da Bíblia; a Igreja - cerca de um quinto.
  2. O propósito Divina: Israel - todas as promessas terrestres nas Alianças; a Igreja - as promessas celestiais.
  3. A descendência de Abraão: Israel- a descendência física, dos quais alguns se tornam descendentes espirituais; Igreja - descendência espiritual.
  4. O nascimento: Israel- nascimento físico, que produz um relacionamento; Igreja - nascimento espiritual que traz um relacionamento.
  5. Cabeça: Israel - Abraão; Igreja - Cristo.
  6. Alianças: Israel - a de Abraão e todas as Alianças seguintes; Igreja - indiretamente relacionada com a Abraâmica e a Nova Aliança.
  7. Nacionalidade: Israel| - uma nação; Igreja- de todas as nações.
  8. Trato divino: Israel- nacional e individual; Igreja - apenas individual.
  9. Dispensação: Israel - visto em todos os tempos desde Abraão; Igreja - vista apenas no presente.
  10. Ministério: Israel - sem atividade missionária e sem Evangelho para pregar; Igreja - uma comissão á cumprir.
  11. A Morte de Cristo: Israel - nacionalmente culpados; ainda será salvo por Dela; Igreja - perfeitamente salva pela agora.
  12. O Pai: Israel - por meio de um relacionamento especial, Deus era o Pai da nação; Igreja - somos relacionados individualmente a Deus como Pai.
  13. Cristo: Israel - Messias, Emanuel, Rei; Igreja - Salvador, Senhor, Noivo, Cabeça.
  14. O Espírito Santo: Israel- veio sobre uns temporariamente; Igreja - habita em todos.
  15. Princípio Governante: Israel - o sistema da Lei Mosaica; Igreja - o sistema da Graça.
  16. Capacitação Divina: Igreja- nenhuma; Igreja - habitação do Espírito Santo.
  17. Dois Discursos de Despedidas: Israel - discurso no Monte das Oliveiras; Igreja - discurso no Cenáculo.
  18. A Promessa da Volta de Cristo: Israel - em poder e glória para julgamento; Igreja - para nos receber para Si mesmo.
  19. Posição: Israel - um servo; Igreja - membros da família.
  20. O Reino de Cristo na terra: Israel - súditos; Igreja -  co-herdeiros.
  21. Sacerdócio: Israel - tinha um sacerdócio; Igreja - é um sacerdócio.
  22. Casamento: Israel - esposa infiel; Igreja - noiva.
  23. Julgamentos: Israel - deve enfrentar julgamento; Igreja - livre de todos os julgamentos.
  24. Posições na Eternidade: Israel - espíritos dos homens justos aperfeiçoados na Nova Terra; Israel - Igreja dos Primogênitos nos Novos Céus.
Essas contraposições, que mostram a distinção entre Israel e a Igreja, impossibilita identificar os dois num mesmo plano, o que é inevitável para a Igreja passar pela Septuagésima Semana.
Tais distinções dão apoio extra á posição do Arrebatamento pré-tribulacionista.


A RELAÇÃO DA IGREJA COM OS GOVERNOS:


Um dos ensinos do Novo Testamento á Igreja é com respeito á sua posição quanto as autoridades governamentais, a Igreja é instruída a orar pelas autoridades governamentais, uma vez que elas são nomeadas por Deus, a fim de que possam ser salvas e, por consequência, os santos possam viver em paz.

Esta orientação aparece em 1 Timóteo 2.1-4, como também em Romanos 13.1-7 e 1 Pedro 2.13-16, Tito 3.1, onde os santos são orientandos em submeter tais autoridades, pois estas representam á vontade de Deus.

Já de acordo com Apocalipse 13.4, o governo durante a Septuagésima Semana será controlado por satanás e realizará a sua vontade e propósito na manifestação do iníquo. E por causa do relacionamento da igreja com os governos nessa época e por causa do controle satânico do governo da Grande Tribulação, a Igreja deve ser arrebatada antes que se manifeste o governo satânico. A Igreja não poderia sujeitar-se a tal governo.

Durante a Septuagésima Semana, Israel clamará pelo julgamento de Deus sobre tal homem e o que vindique a Si mesmo, como se vê nos Salmos imprecatórios. Esse já não é o caso do ministério e do relacionamento da Igreja com os governos nos nossos dias.

O DESTINO DA IGREJA:


Todos concordam que a Igreja tem um destino celestial, todas as suas promessas e expectativas têm caráter divino.
Ao estudarmos o destinos dos salvos na Grande Tribulação, encontramos a expectativa e promessa não celestial, mas sim terrena.

Em Mateus 25.34 deixa isso muito claro, se a Igreja estiver na Terra na Grande Tribulação, todos os que forem salvos durante esse período serão salvos para fazer parte do Corpo de Cristo. Se o Arrebatamento só ocorresse no final da Septuagésima Semana, a parte dos salvos entrasse numa benção terrena e outra parte num destino celestial, o Corpo de Cristo estaria desmembrado e a unidade seria destruída.

Tal desmembramento é impossível. Isso só pode mostrar que os que forem salvos durante a Tribulação e entrarem no Reino Milenar deverão ter sido salvos após o termino do Plano Divino para a Igreja.

O SILÊNCIO A RESPEITO DA TRIBULAÇÃO NAS EPÍSTOLAS:


As epístolas de Tiago, 1 Pedro e uma parte de 2 Tessalonicenses foram especificamente escritas por causa da perseguição que os cristãos primitivos estavam sofrendo. Outras passagens como (João 15.1-25; 16.1-4; 1 Pedro 2.19-25; 4.12; Tiago 1.2-4; 5.10,1; 2 Tessalonicenses 1.4-10; 2 Timóteo 3.10-14; 4.5), foram escritas para dar entendimento concernente á perseguição, razões para a sua existência, ajuda e apoio para que os crentes suportassem.

Os escritores destas epístolas não tinham conhecimento de que a Igreja enfrentaria a Grande Tribulação, do contrário certamente teriam oferecido ajuda e direção para a Perseguição mais severa que o homem jamais conhecera, visto que estavam preocupados em dar ajuda nas perseguições dos dias passados.

Eles não preparariam para as perseguições comuns a todos e negligenciariam o derramamento da Ira durante o qual o crente necessitaria de ajuda e assistências especiais. A esse respeito temos o pensamento de Scofield:

''Além de não haver uma sílaba nas Escrituras que afirme que a Igreja entrará na Grande Tribulação, nem no discurso do Cenáculo, na nova Promessa, nem nas Epístolas que explicam essa Promessa sequer mencionam a Grande Tribulação.
Nenhuma vez, nesse grande corpus de Escrituras Inspiradas, escritas claramente para a Igreja, a expressão é encontrada''.

Uma vez que a Ira e as perseguições dessa época da Septuagésima Semana variam em tipo e caráter, e não apenas em intensidade, é insuficiente dizer que, se um indivíduo está preparado para o que é ruim, também estará para o que é pior.

O silêncio das epístolas, que deixaria a Igreja despreparada para a Tribulação, apoia total ausência dela naquele período.

AS PROMESSAS Á VERDADEIRA IGREJA:


Ao contrário do nosso comentário acima, há certas passagens das Escrituras que prometem a definitiva retirada da Igreja antes da Septuagésima Semana.

A promessa de Apocalipse 3.10 ''Eu te guardarei da hora da provação'', João usou a palavra tereo, esse verbo quando é usado, é com e em, significa ''fazer com que alguém persevere ou se mantenha firme em algo;'' quando é usado com ek significa ''fazer com que alguém fique em segurança escapando para fora de''. Ek é usado aqui no contexto, indicando que João está prometendo á Igreja o seu afastamento da esfera de teste, e não a preservação durante o teste.

Isso é mais caracterizado pelo uso das palavras ''da hora''. Deus não está apenas guardando das provações, mas da própria hora em que essas provações chegarão aos que habitam a terra.

Essa passagem foi comentada por um pré-tribulacionista nos seguintes termos:

''Queremos apurar o significado do verbo ''guardar'' (tereso) e da preposição ''de'' (ek). [...] diz que a preposição ek significa ''para fora do meio de: mas se pela imunidade de, ou se por ser mantido em segurança durante, a preposição não define claramente'' [...] Deste modo ele destaca que gramaticalmente os dois termos podem ter o mesmo significado, de sorte que Apocalipse 3.10  pode significar ''perfeita imunidade contra'' e não ''passando ilesa pelo mal'' [..] a gramática permite a interpretação de completa imunidade do período.
Outros estudiosos dizem a mesma coisa da preposição ek (fora de, para longe de). Ek e apo ''servem para denotar a mesma relação'', referindo-se a João 17.15; Atos 15.29; Apocalipse 3.10 como exemplos do uso.
[...] Similarmente lemos em 1 Tessalonicenses 1.10 que Jesus nos livra ''da (ek) ira vindoura''. Isso dificilmente pode significar proteção nela; isso deve significar isenção dela. Parece, então, perfeitamente claro que a preposição ''de'' pode significar completa isenção do que é previsto.
É claro que o contexto e outras declarações nas Escrituras exigem que essa seja a interpretação. No que diz respeito ao contexto, observe-se que a promessa não é meramente ser guardada da tentação, mas da hora da tentação, i.e., um período como tal, não apenas das lutas durante o período. E, mais uma vez, porque o apóstolo escrevia ek tas horas (da hora), como fez, quando facilmente poderia ter escrito en te hora (na hora), se fosse isso que ele quisesse dizer? Certamente o Espírito de Deus o guiou na própria linguagem que empregou.''

Em apoio ao argumentado apresentado, temos 1 Tessalonicenses 5.9 onde ''Deus não nos destinou para a ira'', quando o contraste da passagem é entre luz e trevas, entre ira e a salvação. No mesmo contexto mostra que essa ira e escuridão estão ligadas ao Dia do Senhor (1 Tessalonicenses 5.2).

Vemos ainda outra comparação em Joel 2.22; Sofonias 1.14-18; Amós 5.18 descreverá a escuridão mencionada em 1 Tessalonicenses 5.2 como a escuridão da Septuagésima Semana. Podemos comparar ainda com Apocalipse 6.17; 11.18;14.10,19; 15.17;16.19 descreverá a ira do Dia do Senhor.

Paulo ensina claramente em 1 Tessalonicenses 5.9 que a nossa expectativa e destino não são a ira e escuridão, mas a  salvação, e o verso 10 mostra que o método dessa salvação, a saber, para que ''vivamos em união com ele.''

A CONCORDÂNCIA DA TIPOLOGIA:


Mesmo que o argumento da analogia seja fraco em sua essência, quando um ensino é contrário a toda tipologia, não pode ser interpretação verdadeira.

As Escrituras são ricas em tipos que ensinam que os que andarem na fé foram libertos dos acessos de juízo que sobrevieram aos descrentes. Tais tipos são vistos na experiência de Noé e Raabe, mas talvez a ilustração mais clara tenha sido a de Ló.

Em 2 Pedro 2.6-9 Ló é chamado de homem justo. Esse comentário divino lança luz sobre Gênesis 19.22, quando o anjo buscou apressar a partida de Ló com as palavras ''Apressa-te, refugia-te nela; pois nada posso fazer, enquanto não tiveres chegado lá''.

Se a presença de um homem justo impedia o derramamento de um juízo merecido sobre a cidade de Sodoma, quanto mais a presença da Igreja impedirá o derramamento da Ira divina até a sua retirada.

Temos vários razões para a crença na posição do Arrebatamento pré-tribulacionista foram apresentadas. Algumas delas são particularmente aplicáveis á posição do arrebatamento mesotribulacionista e outras á posição de arrebatamento pós-tribulacionista.

Devemos ter em mente que não examinamos todos esses argumentos com a mesma importância ou peso.

A doutrina pré-tribulacionista não se baseia apenas nesses argumentos, mas, em vez disso, eles são considerados evidência cumulativa de que a Igreja será liberta do Arrebatamento antes do inicio da Septuagésima Semana de Daniel.


FONTE: MANUAL DE ESCATOLOGIA.
AUTOR: JOHN DWIGHT PENTECOST.
EDITORA: VIDA.

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