HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO - I

 A HISTÓRIA DO MÉTODO LITERAL:


Há três métodos de interpretação das Escrituras (teremos alguns artigos sobre esse assunto), literal, simbólico e o figurado. O grande debate entre as posições escatológicas reside na hermenêutica, e dois métodos são aplicados opostamente, o literal e o alegórico, e assim poderemos apresentar qual dos dois é o mais seguro.

A) A Interpretação no Antigo Testamento:

Quando tratamos de hermenêutica, é do consenso geral entre os estudiosos da história da interpretação é que foi nos dias de Esdras após o retorno do cativeiro babilônico que a história da hermenêutica começou. Temos um registro em Neemias 8.1-8. A necessidade da interpretação se deu, primeiro, porque por um longo período de tempo a Lei de Moisés foi negligenciada e esquecida.

O Livro da Lei que foi esquecido por Hilquias no reinado de Josias, recolocou-na na posição de destaque por breve período de tempo, apenas para ser esquecido novamente durante o exílio. Se fez necessário, também, uma vez que no exílio os judeus substituíram a língua nativa (hebraico) pelo aramaico (a língua caldéia). Quando os judeus regressaram á sua pátria, as Escrituras lhes eram ininteligíveis, então, Esdras teve que explicar ao povo Escrituras, é considerável que o método usado pelo escriba foi a interpretação literal.

A interpretação literal foi caracterizada de forma marcante quando se interpretava o Antigo Testamento, quando Jerônimo rejeitou o método estrito da interpretação literal, chamou de ''interpretação judaica''. Com isso, deu a entender que facilmente pode tornar-se herética, e repetidas vezes ele afirmou ser essa interpretação inferior á ''espiritual''. Na opinião de Jerônimo, o método literal e interpretação judaica eram sinônimos.

B) O Método Rabínico:

Os rabinos judeus que exerciam domínio sobre a nação de Israel por estarem ligados á classe sacerdotal, eles usavam o método literal de interpretação e não o alegórico. No seu literalismo, esvaziava a Lei de todos os seus requisitos espirituais. Embora levasse a conclusões falsas, isso não era culpa do método literal, mas da aplicação errada do método pela exclusão de qualquer outra coisa que não fosse a letra nua do que estava escrita.
Devemos entender de que, a despeito de todas as falácias do rabinismo judaico, que os judeus tinham um método literal de interpretação.

C) O Método de Interpretação da Época de Cristo:

Os judeus nos tempos de Cristo tiveram como método usado e dominante o literal, o método alegórico não tem bases históricas entre os judeus, a partir do cativeiro babilônico o método usado foi o literal, nem no tempo de Jesus e seus apóstolos o método literal foi abandonado. O próprio Flávio Josefo, historiador judeu, recorria a literalidade das Escrituras. O Sinédrio e os ouvintes de Jesus muitas vezes recorressem ao Antigo Testamento, jamais adotaram outro tipo de interpretação.

O método de interpretação alegórico (falaremos sobre isso) se deu por Filo de Alexandria, do século I, quando os judeus platônicos do Egito começaram a imitar os gregos pagãos e passaram a interpretar o Antigo Testamento alegoricamente. Filo se destacou como o principal expoente desse método, ele defendeu o método alegórico como algo novo e até então desconhecido, método esse que foi contestado pelos judeus.

Jesus nunca usou desta interpretação alegórica e nem tão pouco esteve em alguma situação em que foi obrigado fazer uso da mesma. Esse método jamais foi usado na época entre os judeus da Palestina, onde Jesus viveu e ensinou.

Portanto o literalismo dos interpretes judeus era idêntico á moderna interpretação histórico-gramatical. Na época o literalismo decadente esvaziava as Escrituras de todo e qualquer significado.
Não podemos no entanto negar que o literalismo era o método usado e aceito, o uso errado do método não contradiz contra o método, uma vez o que estava errado não era o método, mas o uso dele.


D) O Método entre os Apóstolos:

Os apóstolos também empregaram esse método, Paulo tomou o literalismo dos ensinos do Antigo Testamento, porém os viu como sombras e o começo dos desenvolvimentos futuros.
Paulo usou uma vez uma alegorização (explicaremos em outro momento), porém o fez á titulo de ilustração e não como interpretação, pois jamais o método alegórico foi sancionado por Cristo e conhecido entre os apóstolos.

Os apóstolos não precisaram de um outro método para interpretar o Antigo Testamento, mas ''purificaram'' o método já existente de seus excessos nocivos.
Concluímos que os autores do Novo Testamento interpretaram o Antigo Testamento literalmente.

A HISTÓRIA DO MÉTODO ALEGÓRICO:


Em contraste com o método literal, o leitor já percebeu que há outro método, o alegórico. A partir de agora iremos ressaltar esse método e mostrar a ineficiência do mesmo.


A) O Movimento da Alegorização:

Os escritores dos primeiros séculos estavam cercados por uma imensidão de dificuldades. Eles não tinham o cânon claramente definido, seja o Antigo ,seja o Novo. Eles dependiam de uma tradução deficiente das Escrituras, conheciam apenas as regras de interpretação impostas pelos rabinos, e tiveram que se libertarem da aplicação errada do princípio literal de interpretação.

As heresias que cercavam nos primeiros séculos, junto com o paganismo e o judaísmo fizeram com que surgissem três escolas exegéticas distintas no período dos Pais da Igreja (Patrística):


  1. A literal e realista que foi representada predominantemente por Tertuliano.
  2. A alegórica, da qual Orígenes foi seu expoente máximo.
  3. A histórica e gramatical, que floresceu principalmente na cidade de Antioquia, Teodoro de Mopsuéstia foi o líder reconhecido.
A interpretação alegórica tomou da filosofia grega por empréstimo o Antigo Testamento, em especial a Lei Mosaica, e ainda afirma que todos os principais dogmas dos filósofos gregos, especialmente Aristóteles, podem ser encontrados em Moisés e nos profetas pelos os que usam o método correto de interpretação.

B) Filo:

Como vimos acima Filo foi o primeiro a usar o método alegórico de interpretação, mas um embrião do método foi usado anteriormente por Aristóbulo a quem Filo recorreu, mas sem o identificar.
Filo adotou esse conceito e procurou conciliar a lei mosaica com a filosofia grega, de modo que a primeira se tornasse aceitável á segunda. Para isso Filo adotou o método alegórico de interpretação.

A metodologia de Filo se fez mais influente na Escola de Alexandria, tradicionalmente fundada por Marcos, surgindo a maior escola de exegese cristã. Com o mesmo propósito de Filo de  unir filosofia e revelação, usando ''as jóias do Egito para adornar o santuário de Deus''.

Essa escola forneceu uma antítese direta á Escola de Antioquia. Panteno foi o primeiro a ter fama na Escola de Alexandria, era convertido do estoicismo, apenas alguns fragmentos de seus escritos sobreviveram, foi sucedido por Clemente de Alexandria, que cria na origem divina da filosofia, propôs abertamente o princípio de toda a Escritura deveria ser entendida alegoricamente.

C) Orígenes:

Orígenes foi o primeiro expoente da Escola de Alexandrina adotar o método de Filo, desenvolvendo o método alegórico de interpretação das Escrituras. Considerando a Bíblia como um organismo vivo, consistindo de três elementos correspondentes ao corpo, alma e espírito do homem, em seguimento a psicologia platônica, Orígenes atribuiu ás Escrituras um sentido tríplice de acordo com essa visão:

  • O sentido somático, literal ou histórico, fornecido pelas palavras, era apenas um ''véu'' que servia para uma superior.
  • O sentido psíquico ou moral, que dava vida ao primeiro e servia de edificação em geral.
  • O sentido pneumático, ou místico e ideal, para os que encontravam num estágio mais avançado de conhecimento filosófico.
Na aplicação dessa teoria, Orígenes teve a mesma tendencia de Filo, de eliminar a letra da Escritura pelo uso da espiritualização, isso fez que ''EM VEZ DE EXTRAIR O SENTIDO DA BÍBLIA, INTRODUZ NELA TODO O TIPO DE IDÉIAS ESTRANHAS E FANTASIAS DESCABIDAS'.
Tal alegorização satisfez o gosto da época e, com sua mente fértil e saber imponente, Orígenes serviu de fonte exegética da Igreja Primitiva, até que sua ortodoxia (doutrina correta) veio a ser questionada.

O método alegórico teve grande ímpeto com a ascensão do eclesiasticismo e com o reconhecimento da autoridade da Igreja sobre todas as questões doutrinárias. Surgiu Agostinho que fez com que as Escrituras se conformassem á interpretação da Igreja.

D) Idade Média:

Já é do conhecimento dos estudantes da História Cristã que na Idade Média não houve um esforço para interpretar as Escrituras de maneira exata, ''a interpretação da Bíblia tinha que se moldar á tradição e á doutrina da Igreja''.

Esse eclesiasticismo foi a colheita da semente de Agostinho na Igreja, na qual produziu muitos frutos com o princípio da conformidade com a Igreja Medieval. Por isso que a Igreja na época adotou o método alegórico de interpretação das Escrituras para se apoiar em suas falsas doutrinas e no poder papal e ao mesmo tempo rejeitando o método literal, histórico gramatical, taxando como herético.

Assim o método alegórico não nasceu do Estudo das Escrituras, mas de um desejo de unir a filosofia grega com á Palavra de Deus. Não nasceu da vontade de um desejo de apresentar a verdade da Palavra, mas da determinação de perverte-la. Ele não filho da ortodoxia (doutrina correta), mas da heterodoxia (doutrina incorreta).

A VOLTA DO LITERALISMO:


Com o advento da Reforma é que podemos achar algum traço de exegese sadia. Podemos dizer que todo o movimento da Reforma se deu como resultado de um retorno ao método literal de interpretação das Escrituras.

Os tradutores, que tanto fizeram para acender a chama da Reforma, foram motivados por um desejo de entender a Bíblia literalmente.

A) Erasmo de Roterdã:

Sublinhou o estudo dos textos originais das Escrituras e lançou o alicerce da interpretação gramatical da Palavra de Deus. É considerado o pai da moderna critica bíblica e textual.

B) Wycliff: desviar

''Todo o erro no conhecimento das Escrituras e a fonte de sua deturpação e falsificação por pessoas incompetentes resumem-se no desconhecimento da gramática e da lógica''.

C) William Tyndale:

''Podemos tomar similitude ou alegorias de empréstimos ás Escrituras e aplicá-las a nossos propósitos, alegorias essas que não constituem o sentido das Escrituras, mas assuntos livres além das Escrituras, na plena liberdade do Espírito. Tal alegoria nada prova; é mero símile. Deus é espírito e todas Suas palavras são espirituais, e Seu sentido literal é espiritual''.

''Tu entenderás, portanto, que a Escritura tem apenas um sentido, que é o sentido literal. E esse sentido literal é a raiz e a base de tudo, a âncora que jamais falha, por meio da qual, se a ela te apegares, jamais errará ou te desviará do caminho. Se, todavia, abandonares o sentido literal, não tens como evitar desviar-te do caminho. No entanto, a Escritura usa provérbios, símiles, enigmas e alegorias, tal como outros escritos; aquilo, porém, que o provérbio, o símile, o enigma ou alegoria significam baseia-se no sentido literal, que deves buscar diligentemente''.

Os alicerces da Reforma foram lançados no retorno ao sentido literal de interpretação.


FONTE: MANUAL DE ESCATOLOGIA.
AUTOR: J. DWIGHT PENTECOST.
EDITORA: VIDA













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