HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO - II
LUTERO E CALVINO NA INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS
Com a Reforma Protestante houve uma restauração do método literal de Interpretação e assim todas as Doutrinas Cristãs passaram a ser interpretadas literalmente. E assim os reformadores se concentraram nos significados comuns dos textos das Escrituras e foi por meio do literalismo que Doutrinas como a Justificação pela Fé passou a ser compreendida na sua essência.
Continuaremos destacando a História da Interpretação no período da Reforma, agora destacando os dois expoentes desse tempo Martinho Lutero e João Calvino.
LUTERO:
Segundo Lutero, cada palavra deve ter o direito de conservar seu sentido natural, e este não deve ser abandonado a não ser que nos force a isso... É uma das qualidades das Escrituras Sagradas o fato de se auto interpretar por passagens associadas por natureza, as quais só podemos entender pela aplicação da regra da fé.
Lutero defendeu o método histórico- gramatical e isso podemos observar em seus escritos:
- No seu prefácio do Livro de Isaías (1.528) e nos seus demais escritos, Lutero demonstrou o que considerava regras verdadeiras de interpretação das Escrituras.
- Lutero insistia no caráter indispensável do conhecimento gramatical; na importância de levar em conta tempos, circunstâncias e condições; na observação do contexto; na necessidade de fé e iluminação espiritual; na conservação do que ele chamou de ''proporção da fé'' e na menção de toda Escrituras a Cristo.
Lutero não apenas tinha o desejo de dar ao povo a Palavra de Deus, mas que o povo a entendesse, assim ele ensinou para que o povo pudesse interpretar as Escrituras. Assim estabeleceu as seguintes regras de interpretação:
- A autoridade suprema e irrefutável das próprias Escrituras, á parte de toda autoridade ou interferência eclesiástica.
- A suficiência das Escrituras.
- Pôs de lado a mentira estéril do sentido quádruplo, como fez os outros reformadores: ''O SENTIDO LITERAL, E APENAS ELE'', disse Lutero, ''É A ESSÊNCIA TOTAL DA FÉ E DA TEOLOGIA CRISTÃ''. Disse ainda, ''TENHO OBSERVADO QUE TODAS AS HERESIAS E ERROS SE ORIGINARAM NÃO DAS SIMPLES PALAVRAS DAS ESCRITURAS, MAS DE NEGLIGENCIAR AS SIMPLES PALAVRAS DAS ESCRITURAS, E DA AFETAÇÃO DE METÁFORAS E INFERÊNCIAS, PURAMENTE SUBJETIVOS''. Sobre o assunto, Lutero destaca: ''NAS ESCOLAS DOS TEÓLOGOS É UMA REGRA BEM CONHECIDA QUE A ESCRITURA DEVE SER ENTENDIDA DE QUATRO MANEIRAS: literal, alegórica, moral e analógica. NO ENTANTO, SE QUISERMOS TRATAR CORRETAMENTE AS ESCRITURAS, NOSSO ÚNICO ESFORÇO SERÁ OBTER ''unun, simplicem, germanun, et certum literalem''. ''Cada passagem tem um sentido claro, definido e verdadeiro que lhe é peculiar. Todos os demais são opiniões duvidosas e incertas''. ''
Lutero como a maioria dos reformadores, rejeitava a validade da alegorização e negava que a mesma se tratava de uma interpretação espiritual.
Lutero ainda sustentava a natureza compreensível das Escrituras e algumas vezes se aproximava do dito moderno que ''A BÍBLIA DEVE SER INTERPRETADA COMO QUALQUER OUTRO LIVRO''.
Para Lutero, todo o vigor, e quase pela primeira vez na história, o absoluto e inalienável direito á opinião pessoal com respeito ás Escrituras, o qual, ao lado do sacerdócio espiritual de todos os crentes, reside na base de todo o protestantismo.
CALVINO:
Como Lutero, João Calvino ocupa um lugar inigualável na história da Interpretação, foi dito dele o seguinte:
- Pela primeira vez em mil anos ele ofereceu um exemplo conspícuo de exposição não-alegórica.
- É preciso voltar no tempo até as melhores obras da escola de Antioquia para encontrar a rejeição tão intensa do método de Filo quanto a que oferece Calvino.
- Interpretações alegóricas que haviam sido propostas na igreja primitiva e endossadas por expositores ilustres em todos os séculos seguintes, como a interpretação da arca de Noé e da túnica inconsútil de Cristo, são descartadas como lixo.
- Esse fato por si só, ofereceria, permanente e distinta honra á obra exegética de Calvino. O que o levou a rejeitar a interpretação alegórica como algo particularmente satânico, fosse sua formação jurídica em Orléans e em Bourges, fosse sua percepção espiritual, é impossível dizer, mas o fato é claro e constitui a marca notável de sua interpretação.
Calvino afirmou sua posição claramente, isso é visto no seu comentário de Gálatas, ele escreveu:
''SAIBAMOS, PORTANTO, QUE O VERDADEIRO SENTIDO DA ESCRITURA É O SENTIDO NATURAL E EVIDENTE; ABRACEMO-LO E PERMANECEMOS NELE RESOLUTAMENTE''.
No seu comentário de Romanos, Calvino disse:
''A PRIMEIRA OCUPAÇÃO DE UM INTÉRPRETE É PERMITIR QUE SEU AUTOR DIGA O QUER DIZER, EM VEZ DE ATRIBUIR AO AUTOR O QUE PENSA QUE DEVE DIZER''.
Foi dito também sobre Calvino que ele é o fundador da exegese histórico-gramatical. Ele defendeu e praticou o sadio princípio hermenêutico de que os autores bíblicos, como todos es escritores sensatos, desejavam transmitir a seus leitores fossem capazes de entender. Uma passagem bíblica pode ter sentido literal ou figurado; não pode ter, todavia os dois sentidos ao mesmo tempo.
A Palavra de Deus é inesgotável e aplicada a todas as épocas, mas há uma diferença entre explicação e aplicação, e aplicação deve ser coerente com a explicação.
CONCLUSÃO:
Os reformadores deram um vigoroso impulso á ciência da interpretação bíblica, tornando-a acessível a todos; dilaceraram e lançaram aos ventos as densas teias da tradição arbitrária, tecidas havia muitos séculos sobre cada livro e sobre as passagens das Escrituras; colocaram os apócrifos (livros não inspirados) num nível definitivamente inferior ao ocupado pelos livros sagrados; estudaram cuidadosamente as línguas originais; desenvolveram o sentido normal, literal e usaram-no para fortalecer e revigorar a vida espiritual.O período que estamos estudando deve ser creditado entre 1553-1600. O tipo comum de exegese nele praticado valorizou o sentido literal do texto, assim foi dito sobre esse período:
''CONSIDERO A MAIS INFALÍVEL REGRA DE EXPOSIÇÃO DAS SAGRADAS ESCRITURAS QUE, QUANDO UMA CONSTRUÇÃO LITERAL FAZ SENTIDO, QUANTO MAIS O INTÉRPRETE SE AFASTAR DA LETRA DO TEXTO, TANTO PIOR SERÁ SUA INTERPRETAÇÃO. NÃO HÁ NADA MAIS PERIGOSO QUE ESSE ARTE ILUSÓRIA QUE MUDA OS SENTIDOS DAS PALAVRAS COMO A ALQUIMIA SE PROPUNHA A EFETUAR COM A SUBSTÂNCIA DOS METAIS, FAZENDO QUALQUER COISA O QUE BEM ENTENDE, E REDUZINDO, POR FIM, TODA A VERDADE A ABSOLUTAMENTE NADA''.
Calvino, em geral, como exemplo, rejeitou a interpretação alegórica foi seguido pelos principais teólogos e peritos dos séculos seguintes.
''SE ALGUÉM DESEJA VOLTAR AOS REFORMADORES PARA ESTABELECER SUA TEOLOGIA, PRECISA TAMBÉM ACEITAR O MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO SOBRE O QUAL REPOUSA A TEOLOGIA DOS REFORMADORES'
FONTE: MANUAL DE ESCATOLOGIA.
AUTOR: J. DWIGHT PENTECOST.
EDITORA: VIDA
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