HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO - III
OS REFORMADORES NA INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS
Com Lutero e Calvino e os demais reformadores nos foi devolvido não apenas as Escrituras como poder interpretá-la. Isso se deu devido a volta do método literal de interpretação que visava buscar o sentindo comum das palavras.
Após o período da Reforma, outros seguiram de perto os reformadores neste aspecto, e os aspectos literal, histórico-gramatical atravessaram com a próxima geração que difundiu a Mensagem dos Reformadores.
Quando olhamos para Lutero, podemos enxergar como o ''profeta'' da Reforma, mas foi em Melâncton que encontramos um ''mestre'' da Reforma. Antes, vimos em Zuínglio, com absoluta independência, havia chegado a opiniões sobre esse assunto que concordavam, em todos os aspectos essenciais, com os de Lutero.
A MENSAGEM DOS REFORMADORES:
- Rejeição aos métodos escolásticos.
- Recusa em reconhecer a dominação exclusiva da autoridade patrística e da tradição da Igreja Romana.
- Repúdio ao até então dominante do sentido quadruplo.
- Bloqueio contra a alegoria.
- Estudo das línguas originais.
- Atenção cerrada ao sentido original.
- Crença na natureza compreensível e suficiente da Escritura.
- Estudo da Escritura como um todo e remissão de todo o seu conteúdo a Cristo.
Assim as bases para o método literal de interpretação já estavam assentadas, e pleno crescimento da exegese das Escrituras com bases nestes alicerces. Porém veremos, a história da interpretação revela a tamanha adesão a credos e as interpretações eclesiásticas, que houve pouco progresso na interpretação sadia das Escrituras durante esse período.
Nesse tempo alguns exegetas como John Koch, professor em Leyden (1669), John James Wetstein, professor em Basiléia (1754). Eles advogava que os mesmos princípios de interpretação válidos aos livros se aplicavam também as Escrituras. Ainda temos a contribuição de John Albert Bengel (1752) e outros que tiveram renome para a critica e a exposição bíblica que abriram caminho para exegetas mais recentes como Lightfoot, Westcott e Ellicott.
A INTERPRETAÇÃO NA IGREJA CONTEMPORÂNEA:
''Talvez o nome mais proeminente na história da exegese no século XVIII seja o de John Augustus Ernesti, cuja obra Institutio Interpretis Nove Testament (Leipsig, 1761), ou Princípios de Interpretação do Novo Testamento, foi aceita como compêndio de hermenêutica por quatro gerações de estudiosos bíblicos. ''Ele é considerado'' o fundador de ''uma nova escola exegética'', cujo o princípio era que a Bíblia deve ser rigidamente explicada de acordo com a sua própria linguagem e, nessa explicação, não pode ser subornada nem pela autoridade externa da igreja, nem por nossas próprias sensações, nem por caprichos alegóricos e irreverentes - algo frequente entre os místicos- nem, finalmente, por sistema filosófico algum''.
Já Horácio Bonar nos deu o que é considerada uma síntese do princípio exegético, um alicerce de toda a verdadeira interpretação das Escrituras, são deles as palavras:
''Sinto maior certeza quanto á interpretação literal de toda a Palavra de Deus- histórica, doutrinária e profética. ''Literal, se possível'' é, creio, eu, a única máxima que o conduzirá com sucesso por toda a Palavra de Deus, do Gênesis ao Apocalipse''.
Mesmo com algumas barrerias impostas pelo dogmatismo e o credalismo á interpretação, emergiram desses períodos certos princípios sadios de interpretação que se tornaram a base de grandes obras exegéticas dos séculos seguintes. Princípios estes foram bem resumidos por Berkhof:
''A Escola Gramatica, fundada por Ernesti. Essa escola era essencialmente supernaturalista, prendendo-se ''as palavras do texto como legítima fonte de interpretação autêntica da verdade religiosa''. Tal método era unilateral porque servia exclusivamente a uma pura e simples interpretação do texto, que nem sempre é suficiente na interpretação da Bíblia''.
A Escola Gramatica se estabeleceu em quatro princípio:
- O sentido múltiplo da Escritura deve ser rejeitado, e somente se deve conservar o sentido literal.
- As interpretações alegóricas devem ser abandonadas, exceto nos casos em que o autor indique o que deseja, a fim de se combinar com o sentido literal.
- Visto que a Bíblia tem o sentido gramatical em comum com os outros livros, isto deve ser considerado em ambos os casos.
- O sentido literal não deve ser determinado por um suposto sentido dogmático.
RESUMO DA HISTÓRIA DA HERMENÊUTICA:
A patrística utilizaram o método literal até Orígenes, quando se dotou o método alegórico, criado para harmonizar a filosofia platônica com as Escrituras. Com a influência de Agostinho, foi trazido o método alegórico para a igreja instituída e pôs fim toda exegese correta. Esse sistema se deu até a Reforma, ocasião em que o método literal de interpretação foi firmemente estabelecido, e, a despeito de tentativas dos diversos segmentos da igreja para ajustar toda a interpretação a algum credo adotado, a interpretação literal permaneceu e tornou-se a base da qual repousa toda a exegese correta.
Podemos concluir que, com base no estudo da história da hermenêutica, o método original e aceito na interpretação bíblica foi o método literal, sendo esse usado pelo Senhor, o maior de todos os interpretes, e que os outros métodos foram introduzidos para promover a heterodoxia.
O método literal deve ser aceito como o método básico de interpretação sadia em qualquer campo de doutrina hoje, inclusive na Escatologia.
Fonte: Manual de Escatologia.
Autor: John Dwight Pentecost.
Editora: Vida.
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